sábado, 3 de abril de 2021

Puxando o tapete da democracia

A escória intelectual quer fazer o rebolado retórico que for necessário para deslegitimar um presidente eleito e emplacar seus grupinhos no poder


Guilherme Fiuza

O noticiário anunciava nuvens negras sobre o Planalto. Movimentos bruscos em cargos importantes, cabeças rolando, turbulência ministerial, pastas militares envolvidas, cheiro de pólvora, instabilidade, crise. O mercado respondeu com uma alta forte na bolsa de valores. Não respeitam nem mais as crises neste país.

Um jornal chegou a escrever que era a maior crise militar “em quase 45 anos”. Hoje em dia você tem que ler jornal com uma calculadora do lado — além do lenço para enxugar as lágrimas de tanto rir (para não chorar). Detector de mentiras para manchetes inventivas ainda não inventaram, mas tem os checadores — e quando eles aparecem você já sabe que há algum assunto importante sobre o qual alguém quer esconder alguma coisa. Fake news! Eles gritam mesmo, porque patrulha fascista trabalha com intimidação.

Claro que “a maior crise militar em quase 45 anos” não vai tomar carimbo de “desinformação” dos senhores da verdade, porque mentira boa é mentira amiga. Se servir para fermentar crise de proveta contra o fascismo imaginário, está valendo. Também não vamos gastar o seu tempo aqui com “a maior crise militar em QUASE 45 anos”. Apenas vamos lembrar ao estagiário da resistência cenográfica que a bomba no Riocentro explodiu há QUASE 40 anos.

Checamos: a troca de um ministro da Defesa em 2021 é mais explosiva que a bomba que matou um sargento e levou a duas décadas de investigações sobre um suposto atentado dentro do regime militar. Ou seja: se faltar crise no Brasil de hoje, não vai ser por falta de vontade dos especialistas.

Vamos ver até onde a democracia brasileira aguenta, num cenário de tanta gente boa, harmoniosa, empática, humanitária e fofa tentando chutar o pau da barraca dia e noite por pura distração ou tédio, já que as intenções são sempre sagradas. E isso nem é privilégio do período Bolsonaro. Ainda na gestão Temer já havia essa gente educada e inteligente fazendo cara de nojo para as reformas fiscal, trabalhista e previdenciária por que… Adivinha por quê?

Porque não era o momento, porque não tinha clima, porque o Temer parecia um mordomo etc. Ou seja: porque só vale consertar o país se for pelas mãos dos meus amiguinhos.

Bolsonaro poderia ser uma aventura arriscada, até pela trajetória eventualmente caricata, e requeria olho vivo. Assumiu e compôs uma equipe de governo com um peso para critérios técnicos como talvez nenhum antecessor tenha feito. Fisiologismo e apadrinhamento não foram a guia para a montagem do primeiro escalão. Apresentou a agenda de reformas que o Brasil sério e não parasitário pedia. Propôs e negociou com êxito a reforma da Previdência no Parlamento. E daí?

A resistência cenográfica não está interessada em nada disso. E não é só para remover Bolsonaro, como já exemplificamos mencionando o período Temer. E não é só o petismo, o sindicalismo, o esquerdismo ou outra caricatura dessas que os distraídos vivem atacando. É boa parte da elite nacional que investe de forma esganada em clubes particulares de poder — e para esse tipo de plano a democracia é uma tragédia.

Essa gente asquerosa fantasiada de empática está há mais de dois anos falando em golpe militar. É uma ideia fixa. Uma tara. Só falam em fascismo e em ditadura e absolutamente não se conformam com a democracia. “Denunciaram” suásticas, farejam a sigla AI-5 em tudo quanto é fala — e não interessa que o presidente da República tenha repudiado de pronto qualquer tentação desse tipo, declarando-se um escravo da Constituição. Fingem que não veem — assim como fingem que não veem o STF fazendo política à revelia da Constituição.

A liberdade de expressão está aí para articulistas fanfarrões pregarem a morte do presidente e até golpe de Estado. Jornais perpetram editoriais histéricos denunciando um autoritarismo que se fosse real não daria chance a uma fração dessas intrigas. Bolsonaro não é o cara. É só um presidente escolhido pela população com a expectativa de tirar as garras dos parasitas do seu cangote. Dentro da democracia.

Michel Temer era politicamente mais fraco, vinha de um partido repleto de fisiologismo e suas escolhas passadas também suscitavam controvérsia. Mesmo assim resistiu a uma tentativa de virada de mesa e pôs adiante a agenda de reformas. Pôs ou não pôs? Então por que Bolsonaro, com toda a controvérsia, também não pode ser um veículo para o avanço da reconstrução que o país quer, se já mostrou compromisso com essa agenda e equipe apta a executá-la (a exemplo de Temer)?

Não pode porque a escória intelectual não quer. Ela quer ficar aí inventando que a pandemia é pior no Brasil — e que isso é culpa do governo. Quer ficar gemendo contra o apocalipse fascista na Amazônia. Quer fazer o rebolado retórico que for necessário para deslegitimar um presidente eleito e emplacar seus grupinhos no poder. Quem está puxando o tapete da democracia?

Título e Texto: Guilherme Fiuza, revista Oeste, nº 54, 2-4-2021

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