A escória intelectual quer fazer o rebolado retórico que for necessário para deslegitimar um presidente eleito e emplacar seus grupinhos no poder
Guilherme Fiuza
O noticiário anunciava nuvens
negras sobre o Planalto. Movimentos bruscos em cargos importantes, cabeças
rolando, turbulência ministerial, pastas militares envolvidas, cheiro de
pólvora, instabilidade, crise. O mercado respondeu com uma alta forte na bolsa
de valores. Não respeitam nem mais as crises neste país.
Um jornal chegou a escrever
que era a maior crise militar “em quase 45 anos”. Hoje em dia você tem que ler
jornal com uma calculadora do lado — além do lenço para enxugar as lágrimas de
tanto rir (para não chorar). Detector de mentiras para manchetes inventivas
ainda não inventaram, mas tem os checadores — e quando eles aparecem você já
sabe que há algum assunto importante sobre o qual alguém quer esconder alguma
coisa. Fake news! Eles gritam mesmo, porque patrulha fascista
trabalha com intimidação.
Claro que “a maior crise
militar em quase 45 anos” não vai tomar carimbo de “desinformação” dos senhores
da verdade, porque mentira boa é mentira amiga. Se servir para fermentar crise
de proveta contra o fascismo imaginário, está valendo. Também não vamos gastar
o seu tempo aqui com “a maior crise militar em QUASE 45 anos”. Apenas vamos
lembrar ao estagiário da resistência cenográfica que a bomba no Riocentro
explodiu há QUASE 40 anos.
Checamos: a troca de um ministro da Defesa em 2021 é mais explosiva que a bomba que matou um sargento e levou a duas décadas de investigações sobre um suposto atentado dentro do regime militar. Ou seja: se faltar crise no Brasil de hoje, não vai ser por falta de vontade dos especialistas.
Vamos ver até onde a
democracia brasileira aguenta, num cenário de tanta gente boa, harmoniosa,
empática, humanitária e fofa tentando chutar o pau da barraca dia e noite por
pura distração ou tédio, já que as intenções são sempre sagradas. E isso nem é privilégio
do período Bolsonaro. Ainda na gestão Temer já havia essa gente educada e
inteligente fazendo cara de nojo para as reformas fiscal, trabalhista e
previdenciária por que… Adivinha por quê?
Porque não era o momento,
porque não tinha clima, porque o Temer parecia um mordomo etc. Ou seja: porque
só vale consertar o país se for pelas mãos dos meus amiguinhos.
Bolsonaro poderia ser uma
aventura arriscada, até pela trajetória eventualmente caricata, e requeria olho
vivo. Assumiu e compôs uma equipe de governo com um peso para critérios
técnicos como talvez nenhum antecessor tenha feito. Fisiologismo e
apadrinhamento não foram a guia para a montagem do primeiro escalão. Apresentou
a agenda de reformas que o Brasil sério e não parasitário pedia. Propôs e negociou
com êxito a reforma da Previdência no Parlamento. E daí?
A resistência cenográfica não
está interessada em nada disso. E não é só para remover Bolsonaro, como já
exemplificamos mencionando o período Temer. E não é só o petismo, o
sindicalismo, o esquerdismo ou outra caricatura dessas que os distraídos vivem
atacando. É boa parte da elite nacional que investe de forma esganada em clubes
particulares de poder — e para esse tipo de plano a democracia é uma tragédia.
Essa gente asquerosa
fantasiada de empática está há mais de dois anos falando em golpe militar. É
uma ideia fixa. Uma tara. Só falam em fascismo e em ditadura e absolutamente
não se conformam com a democracia. “Denunciaram” suásticas, farejam a sigla
AI-5 em tudo quanto é fala — e não interessa que o presidente da República
tenha repudiado de pronto qualquer tentação desse tipo, declarando-se um
escravo da Constituição. Fingem que não veem — assim como fingem que não veem o
STF fazendo política à revelia da Constituição.
A liberdade de expressão está
aí para articulistas fanfarrões pregarem a morte do presidente e até golpe de
Estado. Jornais perpetram editoriais histéricos denunciando um autoritarismo
que se fosse real não daria chance a uma fração dessas intrigas. Bolsonaro não
é o cara. É só um presidente escolhido pela população com a expectativa de
tirar as garras dos parasitas do seu cangote. Dentro da democracia.
Michel Temer era politicamente
mais fraco, vinha de um partido repleto de fisiologismo e suas escolhas
passadas também suscitavam controvérsia. Mesmo assim resistiu a uma tentativa
de virada de mesa e pôs adiante a agenda de reformas. Pôs ou não pôs? Então por
que Bolsonaro, com toda a controvérsia, também não pode ser um veículo para o
avanço da reconstrução que o país quer, se já mostrou compromisso com essa
agenda e equipe apta a executá-la (a exemplo de Temer)?
Não pode porque a escória
intelectual não quer. Ela quer ficar aí inventando que a pandemia é pior no
Brasil — e que isso é culpa do governo. Quer ficar gemendo contra o apocalipse
fascista na Amazônia. Quer fazer o rebolado retórico que for necessário para
deslegitimar um presidente eleito e emplacar seus grupinhos no poder. Quem está
puxando o tapete da democracia?
Título e Texto: Guilherme
Fiuza, revista Oeste, nº 54, 2-4-2021
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