O empobrecimento é o destino comum de cada
governação socialista. A diferença é que nem o eng. Sócrates aproveitou a gripe
das aves para trucidar a economia e suscitar dependência por duas gerações
Alberto Gonçalves
Novidades da pandemia? Aqui
vão elas. Dois terços das famílias portuguesas sofrem dificuldades financeiras.
Em apenas um ano, a quantidade de desempregados inscritos – os não inscritos
são um caso à parte – nos ditos centros subiu 37%. A Rede de Emergência
Alimentar auxilia 80 mil pessoas, algumas com profissões que teoricamente as
colocariam na classe média e que agora passam fome. Os indivíduos sem-abrigo
multiplicaram-se. O comércio a retalho perdeu 200 milhões de euros em 2020. Na
hotelaria as perdas rondam os 90%. Metade dos restaurantes fecharam, muitos
para sempre. As falências em geral vão crescer 19% em 2021 (estimativa
optimista). E boa parte das moratórias ao crédito, que envernizavam a
catástrofe, acabaram esta semana. Etc. Etc. Etc.
Na verdade, nada disto decorre
da pandemia: tudo decorre das medidas tomadas para alegadamente combater a
pandemia. Até ver, a Covid matou 16 mil pessoas (tradução: morreram 16 mil
pessoas com teste positivo à Covid). Em breve, saberemos quantas pessoas foram
arruinadas pelas medidas “contra” a Covid. Se é que não sabemos já: a pretexto
de um vírus com mortalidade irrisória para a grande maioria da população, o
governo e o presidente da República atiraram para um desastre garantido a quase
totalidade da população. Não falo aqui dos milhões de consultas canceladas, das
54 mil cirurgias urgentes “adiadas” e dos não sei quantos homicídios por
negligência. Nem falo das liberdades que se aboliram, do estado policial que se
criou e da humilhação progressiva dos que eram cidadãos e hoje são lacaios.
Aqui, falo apenas do desastre material. Uma percentagem significativa começa a sentir no bolso e na barriga as consequências deste crime, porque perdeu emprego, casa, e o hábito de um jantar decente. Centenas de milhares experimentarão em breve os prazeres desse “lifestyle” alternativo. E um dia, que não será longínquo, mesmo os que ficam em casa por medo ou preguiça, a respeitar “confinamentos”, a desrespeitar o sofrimento alheio, a receber o salário e a esgotar a seleção da Netflix, vão pagar a fatura do monstro que ajudaram a alimentar. Embora pensem que não.
Por enquanto, estamos em fase
de transição, sob uma espécie de anestesia feita de “lay-offs” e promessas
incumpríveis. Ou de promessas que, como se viu no recente diferendo
“constitucional” com Belém, não ocorre a quem manda cumprir. Quando não são
puras mentiras, os famosos “apoios” são uma pequena fracção dos anunciados, e
uma fracção minúscula dos necessários. Se o povo espera por dinheiro, convém
que espere sentado – se, entretanto, não lhe retirarem o sofá por dívidas ao
fisco ou à banca. Salvo por umas migalhas para apaziguar momentaneamente a
administração pública, a “bazuca” metafórica, agitada por trafulhas para
espantar pacóvios, está evidentemente reservada ao patrocínio de negociatas
ruinosas. Uma bazuca literal, que afugentasse para as Galápagos as quadrilhas
em funções, talvez nos poupasse a males maiores. Assim como estamos, resta-nos
o “novo normal”. E não tenham dúvidas: o “novo normal” é a miséria.
Naturalmente, o empobrecimento
é o destino comum de cada governação socialista. A diferença é que nem o eng.
Sócrates aproveitou a gripe das aves para trucidar a economia e suscitar
dependência por duas gerações. A pobreza que se aproxima transformará a de 2011
numa saudade. E as ilusões em sentido contrário não mitigam a realidade.
Independentemente das intenções, reduzir o mundo à Covid tem um preço. Aos
poucos, o mundo vai lembrar-nos que não deixou de existir e o que o desprezo a
que o votaram custará caro. Aos poucos, com ou sem casos, com ou sem mortos,
com ou sem vacinas, com ou sem R(t), os portugueses perceberão que a Covid é
uma ligeiríssima maçada se comparada com um sofrimento coletivo a sério. Aos
poucos, o lendário risco de cair num ventilador será anedótico perante o sufoco
garantido em que a vida se tornou. Em janeiro, a fim de ilustrar as mortes com
Covid, pediam-nos para imaginar a queda diária de um Boeing: a solução passou
por enfiar os 9.984.000 sobreviventes num imenso Titanic. E há um imenso
iceberg ali à frente.
Fora as sociedades que, por
escassez de “confinamentos”, não sentiram a loucura “motivada” pela Covid, as
outras dissiparão a loucura por uma de três vias: a sensatez dos líderes, a
insurreição do povo, o desespero dos infelizes. A opção caseira é evidente. Conosco,
isto só vai lá pelo instinto de subsistência, a incerteza da renda e da
refeição seguintes, o instante em que se descobre que matar o bicho é ainda
mais improvável do que ser morto por ele.
Claro que, nessa altura, será
tarde e Inês morta. Ou estraçalhada por taxas “solidárias” e “regeneradoras”.
Ou desempregada e na fila da cantina social. E, claro, que mesmo então os
desgraçados atribuirão a respectiva penúria aos “excessos” do Natal, ao sr.
Bolsonaro, às festas “ilegais” ou à aurora boreal. É pena os desgraçados
esquecerem-se de que a culpa da penúria não foi dos fenômenos míticos que a
propaganda lhes meteu na cabeça: foi do dr. Costa, do prof. Marcelo, das
“autoridades” em geral, dos “especialistas” em particular, dos “telejornais” e,
na vasta maioria, deles próprios. Quando a esmola é pouca, o pobre desconfina.
Por azar, estará pobre como nunca e inimputável como sempre.
Título e Texto: Alberto
Gonçalves, Observador,
3-4-2021
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