Na Coreia do Norte a imprensa também elogia o seu grande líder e governo...
Pedro Caetano
Haverá algo mais importante científica e eticamente para qualquer sociedade adulta que debater os prós e os contras de medidas de saúde impostas a crianças indefesas e sem poder de decisão própria? Sim, em Portugal, para muita gente pouco valente, é mais importante agradar ao Costa.
Com António Costa e seus
familiares, os amigos favorecidos, os recipientes de fundos estatais, os
colaboradores e admiradores incondicionais ou, simplesmente, os medrosos sem
espinha profissional, a censura parece ter regressado, em força, a Portugal em
vários jornais e televisões. A censura no Portugal atual é mais repugnante e
perigosa que a do tempo de Salazar, porque não só é mais abrangente –
censura-se até a ciência e os cientistas se estes não estiverem em uníssono com
o governo – como a mordaça põem-se pela calada e é negada. A censura é
omnipresente mas, na nossa humilde opinião, raramente veio tão obviamente à luz
e a “Público”, como aconteceu no caso de um artigo recentemente publicado no jornal “Público”, mas logo rapidamente
eliminado, passadas apenas cinco horas. Era da autoria do médico anestesista
Pedro Girão e punha questões sobre as desvantagens da vacinação das crianças,
já que o Governo se foca principalmente nas vantagens.
Para muita da comunicação
social portuguesa, estupidificante, parece que todos os assuntos inócuos têm
prós e contras que se devem debater veemente e sobre todos os ângulos possíveis
e imaginários como, por exemplo, o fazem no caso de um jogo de futebol.
Paradoxalmente, acham que não se deve debater nem uma vírgula dos assuntos
cruciais para a população propostos pelos ministros e seus nomeados, “formados”
nessa grande instituição internacional do saber científico que é a Juventude
Socialista portuguesa. Para certos jornais e TVs dali só vêm grandes e
inquestionáveis verdades. Ai de quem discordar ou ousar “ofender” os ilustres
sábios socialistas vindos da JS/PS e as personalidades que os suportam ou por
eles foram nomeadas.
O jornal “Público” justificou a eliminação desse artigo contrário ao governo com uma nota da direção invocando “o tom desprimoroso e supérfluo (contra) personalidades da nossa vida pública”. Curiosamente, é o “Público” que é bastante ordinário e desagradável com quem discordar do governo. O autor destas linhas, também em abril de 2020, ousou questionar o suposto “milagre” português apregoado pelo governo e a sua imprensa no início da pandemia. Tal “milagre” consistia em comparar o número total de mortos no pequeno Portugal com países muitíssimos maiores, como o Brasil ou os EUA. “Per capita” éramos dos piores entre 200 países do mundo, mas a patranha governativa e da imprensa colaboracionista apenas selecionava para as comparações os poucos países ainda piores, na altura Espanha e Itália. O já referido jornal “Público” – que não publicou o meu artigo, apesar de cedo o ter recebido – em vez de pedir desculpa aos portugueses por não explicar mais cedo a necessidade de comparações por milhão ou por 100,000 habitantes, foi a correr arranjar um mero estudante para voltar a insistir nas comparações seletivas e ser ordinário, chamando “Bullshit” às minhas comparações “per capita” com todos os países do mundo. Pouco tempo depois a verdade vinha ao de cima e, no início do Verão de 2020, Portugal entrava nas listas negras europeias, tal como no princípio de 2021.
O artigo ordinário do
“Público”, em defesa acérrima do governo, anunciava pomposamente que o autor
pró-governamental era “post-doc” numa universidade americana, de quase tanto
prestígio como as minhas. Isto sem explicar que nos EUA, geralmente, o
pós-doutoramento é um lugar para quem ainda não é qualificado para ser
professor ou, a seguir ao doutoramento, não conseguiu arranjar emprego numa
empresa americana.
As qualificações académicas e
profissionais não interessam para nada. O que conta é a subserviência ao
governo e, por isso, estamos em último lugar da Europa. Para a imprensa
elogiadora tudo serve para defender o Governo e ofender ou censurar quem o
questionar, por muito qualificado que seja, clínica ou cientificamente. Parecem
acreditar que a JS e o PS, base do Governo, são antros de génios científicos,
éticos e económicos que, aparentemente, as melhores empresas e universidades do
mundo adorariam contratar para aconselhamento sobre tudo, desde as medidas de
vacinação às reformas da administração pública, com base no mérito e
resultados. Tudo e todos os que contrariarem este governo de jotas “brilhantes”
sem qualificação em nada é considerado “bullshit” e não deve ser publicado ou,
se por “erro de controlo editorial” o for, deve ser logo eliminado. O nosso
governo é infalível e nunca se engana!
Para demasiada imprensa
rastejante perante o Governo, nada a vai fazer parar de propagandear que temos
governantes que sabem tudo e nunca se enganam, apesar de nos porem, em quase
tudo, em último lugar da Europa. Na Coreia do Norte a imprensa também elogia o
seu grande líder e governo, sem nunca questionar por que que é um dos países
mais pobres da Ásia ou porque as suas crianças são tão subnutridas. Em termos
de censura, mesmo o próprio Orban, na Hungria, é menos grotesco que Costa, em
Portugal. O primeiro não engana a comunidade internacional, enquanto o segundo
o faz sobre o cá que se passa, e que todos sabemos. Os nossos jornais, por
exemplo, estão cheios de comentadores da “Esquerda Caviar” a culpar “o
ocidente” e o “grande capital” por todos os males do mundo e de Portugal,
raramente pondo o dedo na ferida da corrupção permitida pela “gerigonça”,
possibilitada pelos tais colaboradores do governo, com uma presença na imprensa
muitíssimo acima da sua representatividade.
Com a honrosa excepção dos
acutilantes e específicos artigos de João Miguel Tavares, o jornal “Público” é
apenas mais um caso de subserviência governamental, mas infelizmente há muitos
mais casos. O ancião sábio Henrique Neto afirma, com conhecimento de causa e
sem quaisquer razões para duvidarmos dele, que, por exemplo, no jornal
“Expresso”, em 1973, havia mais liberdade da que há agora. Os seus textos,
sempre tão bem-informados e clarividentes, nunca são lá publicados. Estes
órgãos favoráveis ao governo eliminam a presença de quem quer que seja que
contrarie severamente o governo. Não nos parece, por exemplo, que agora o
falecido Medina Carreira, neste clima Costista-Orbanista e claustrofobicamente
censurador, conseguisse expor as suas ideias na televisão sem ser eliminado por
“controlo editorial”.
Por exemplo, a imprensa omite,
mesmo na época dos fogos, que António Costa é o responsável pelo contrato do
SIRESP, que custou 600 milhões de euros aos contribuintes, mas não funciona. Só
a Ana Leal falou desse problema, mas foi despedida da TVI. Vários “jornalistas”
em inúmeros órgãos pró-governamentais e rastejantes perante Costa perseguem
outras ex-jornalistas da TVI corajosas e valentes, como Alexandra Borges, até
nas novas funções que ela quer desempenhar. Querem que a irresponsável
propaganda a Costa continue sem contestação, mesmo quando estão em jogo a saúde
das crianças ou vidas humanas em incêndios. Entretanto a sociedade civil
portuguesa inteligente sabe que o nosso governo é o mais incompetente da Europa
e tem os correspondentes piores resultados. Por exemplo, o professor de turismo
e arquiteto Jorge Mangorrinha confessou o seu “desalento com o regime
democrático português, sobretudo com a corrupção.” Até quando a comunicação
social vai continuar com o “tom desprimoroso e supérfluo” contra a nossa
inteligência?
Título e Texto: Pedro
Caetano, o Diabo, nº 2330, 27-8-2021
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A vergonha do “jornal” Público
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