Aparecido Raimundo de Souza
BETO BUFETO era um mané declarado.
Andava com um cachorro Pitt Bull pelas ruas e avenidas, em plena Copacabana,
preso a uma corrente vagabunda, dessas compradas em lojinhas de R$ 1.99. E o
cão, para piorar, sem a devida focinheira. Tudo corria bem, até o dia em que,
por descuido, Beto Bufeto deixou o bicho
escapar. No que fugiu, o animal abocanhou a perna de um velhinho que vinha em
sentido contrário, com uma sacola de compras.
Aconteceu em menos de um segundo. O
velho viu o cachorro se soltar, o cachorro, por sua vez, avistou o velhinho. Um
mirou o outro, olhos nos olhos, sem piscar. Carne fresca? — pensou o cachorro —
meio fresca? — concluiu. Nada que pudesse ser considerada uma bisteca de
primeira. Todavia, valia a pena tentar. Por outro lado, aquele seria o primeiro
velhinho da sua longa carreira de mordeduras à domicílio.
Abriram, ambos, a um só tempo, as respectivas bocas. O primeiro mostrando um belo par de dentes cuidadosamente impecáveis, o segundo, uma desgastada e sofrida dentadura que nem o tal do Ultra Fixador Corega fazia ficar quieta, sem dançar na boca, de um lado para outro.
— Ele vai me morder — , disse de repente o velhinho, atônito.
— Vou mastigar aquele infeliz — vociferou o cachorro. em rápida ‘de visu’.
— Será que esta praga foi vacinada contra raiva? — obtemperou o aturdido senhorzinho, sem conseguir segurar a urina que desceu pernas abaixo e ensopou os seus sapatos.
— Será que não envenenarei meu sangue deglutindo este pobre coitado? — pensou, com suas pulgas, o vistoso animal.
Mas estava decidido. O valente Pitt deu um ‘piti’ e armou o pulo.
O velho, idem. Deu uma de esperto e projetou, na mente, uma corrida estratégica. Cruzar a avenida Atlantica e alcançar a calçada, do outro lado, ziguezagueando em meio aos carros. O cachorro, por sua vez, imaginando que o velho, em face de ser idoso, não aguentaria dar dois passos com um baita ‘au, au, au’ na sua aba, não teria, por conta, coragem suficiente de saltar no meio dos carros e tentar salvar a própria pele. Tratou de agir.
O velho contou até três, e, no três, jogou a sacola de compras em direção ao seu agressor canino e vasou com tudo. O cachorro não contou. Não sabia nada de matemática. Partiu para o ataque. Beto Bufeto, o mané, desatou a correr tresloucadamente atrás dos dois. Mesma agulhada, a vociferar, desesperado: ‘segurem meu cão, segurem meu cão’. Cena hilariante, caricaturesca, fatal, literalmente fatal. Entretanto... se ouviu um estrondoso e apavorante Puf! Logo em seguida, outro Puf!
A multidão espantada, que do nada, se formou, acorreu, em uníssono:
— Ho!... Hi!... Hãm!!!... Meu Deus, que horror!...
Um carro desembestado com um bêbado ao volante, vindo das bandas do Posto Seis, em direção ao Leme, que passava, naquele momento (que passava não, que voava) pela avenida movimentada, perdeu o controle da direção. A criatura bateu em outros veiculos estacionados, em frente ao Hotel Copacabana Palace, além de ficar preso entre as ferragens, levou, de roldão, para a cidade dos pés juntos, o Beto Bufeto, o Pitt Bull e o velhinho.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Itapetininga, interior de São Paulo, 5-11-2021
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