sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

[Aparecido rasga o verbo] O “Piropo”

Aparecido Raimundo de Souza

FOI EM BARCELONA, na (costa nordeste da Península Ibérica, frenteada pelo gigantesco Mar Mediterrâneo) que tomei conhecimento pela primeira vez com os “piropos.” Eu explico: Antes, como cheguei a Barcelona. Depois, na sequência, o que venha a ser os tais “Piropos”. Muito bem. Tive a honra de receber, de um amigo meu, jornalista, duas passagens de cortesia (ida e volta) acompanhado da minha secretária Carina Bratt até aquela cidade espanhola.

Somente assim, graças à amabilidade desse meu irmão de jornal, grande companheiro Juan Voltas (me vi, realmente, às voltas), para cuidar de toda a documentação em tempo hábil, documentação essa pertinente à viagem. Ufa! Quase dá uma “zebra” inesperada, de última hora, e eu e minha secretária  ficamos a ver sapatos velhos e antiquados onde sequer existiam tamancos e chinelos dos tempos em que vovó e vovô andavam com os pés na cabeça um do outro.

De resto, tudo correu normal e a viagem, em si, poderia ser classificada como “inesquecível e maravilhosamente bela e acolhedora.” Barcelona é, sem dúvida alguma, um primor, um doce regalo aos olhos. Falar sobre ela, é “chover no molhado.” Só indo até lá para se viver tudo de bom que a cidade pode oferecer.

E, de fato, oferece, se mostra, se doa, sem pedir nada em troca. Voltando a ele, o “piropo”, essa coisinha fofa é uma espécie de desvelo, uma polidez, uma forma tida como uma das mais belas tradições civilistas do lugar. Se calca em uma palavra, ou melhor, em uma frase de efeito ou de galanteio, que se dirige a uma desconhecida revelando o que acha nela, no sentido de ser atraente, joliz, prazerosa e claro, encantadora.

As pessoas não se zangam não perdem as estribeiras, não se descabelam, não puxam armas, não agridem e aceitam naturalmente como se fosse, inclusive, uma troca de cumprimentos, como por aqui, um bom dia, um boa tarde, um como vai, tudo bem? Na verdade é uma troca venerável de cumprimento, ou uma aquiescência  garbosa e hospedeira.

Aconteceu em Ramblas, ou em La Ramblas (uma via movimentada que liga a Praça da Catalunha ao Porto Velho) centro gótico de Barcelona, que, ao vermos passar uma linda jovem elegantemente vestida, acompanhada do marido (ambos usavam alianças), um cidadão se virou, tirou respeitosamente o chapéu e disse, em alto e bom som: "bendita sea la mujer que Dios puso en el mundo, mi reino!."

Ao que o “esposo-cavalheiro” agradeceu, se abrindo igual mala velha, sorrindo num esfuziante sorriso de felicidade franco e de bom grado, deixando à mostra uns dentes muitos brancos e alvos.

— “Gracias, senõr.”

Outra lisonja ou demonstração dessa arte, como queiram chamar (aqueles amados leitores que estiverem lendo este texto), tivemos o prazer de presenciar dia seguinte, num supermercado. Um rapaz empurrando um carrinho de compras, parou para dar passagem à uma garota metida numa jeans desbotada, os cabelos soltos ao longo das costas, bolsa à tiracolo trabalhada e uma camiseta desenhada com figuras às mais desengonçadas possíveis.

Aquela menina, na verdade, se assemelhava, sobremaneira, a uma donzela hippie dos tempos da Rita Lee no auge da carreira. Seu porte de rainha lhe dava um ar inconfundível e brejeiramente marcante. O mancebo não deixou por menos. Estancou os passos diante dela, se curvou como se fosse ficar de joelhos e mandou bala:

—"Todas las demás existentes son imitaciones."

Cena maravilhosa. Imperdível, inesquecível. Inimitável. Aqui no Brasil, ao vermos uma mulher sozinha e se dirigirmos à ela palavras como essas acima citadas ou qualquer outro tipo de galanteio, a resposta de agradecimento virá a toda velocidade, como um tiro de revolver:

— “Palhaço! Vá cantar a sua mãe. Ou melhor, vá tomar no lugar que seu pai tomou.”

O pior, todavia, acontecerá se ela estiver acompanhada. O sujeito simplesmente se sentindo o “rei da cocada preta”, o dono do pedaço, virará um leão indomável e partirá para cima, deixando a cara do infeliz dividida em duas metades desiguais. Isso, se uma dessas metades vier a ser encontrada.

A isso ou a esse agir, se dá o nome de “reação da imbecilidade à flor da pele”. O brasileiro não se educou para esse tipo de tratamento. Ele desconhece a idiossincrasia. Ignora os mimos e as cortesias, sem contar que não se atualiza, tampouco se recicla. O negócio, por aqui, é perder a linha, a lhaneza e mostrar o lado ignorantemente animal. Nada mais a acrescentar.

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo. 7-1-2022 

Colunas anteriores: 
Brincando de quem sabe mais 
Como um passageiro em trânsito... 
Triângulo esquisito 
Flor de obsessão 
Absolutamente correta 
Na corda bamba

Um comentário:

  1. Acrescentando ao que disse o Aparecido, em seu texto 'O piropo', igual procedimento acontece com um senhor, um idoso ou um velho, ao transitar pelas ruas com uma menina menor de idade, seja ela neta, filha, sobrinha, os cambaus. O povo sabido e inteligente, taxa logo a figura de 'pedófilo'. E não só isso: parte para cima, agride, fere, mata. País de povo inculto é assim mesmo.
    Carina Bratt
    Ca
    Vila Velha ES

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