Aparecido Raimundo de Souza
Somente assim, graças à amabilidade
desse meu irmão de jornal, grande companheiro Juan Voltas (me vi, realmente, às
voltas), para cuidar de toda a documentação em tempo hábil, documentação essa
pertinente à viagem. Ufa! Quase dá uma “zebra” inesperada, de última hora, e eu
e minha secretária ficamos a ver sapatos
velhos e antiquados onde sequer existiam tamancos e chinelos dos tempos em que
vovó e vovô andavam com os pés na cabeça um do outro.
De resto, tudo correu normal e a
viagem, em si, poderia ser classificada como “inesquecível e maravilhosamente
bela e acolhedora.” Barcelona é, sem dúvida alguma, um primor, um doce regalo
aos olhos. Falar sobre ela, é “chover no molhado.” Só indo até lá para se viver
tudo de bom que a cidade pode oferecer.
E, de fato, oferece, se mostra, se
doa, sem pedir nada em troca. Voltando a ele, o “piropo”, essa coisinha fofa é
uma espécie de desvelo, uma polidez, uma forma tida como uma das mais belas
tradições civilistas do lugar. Se calca em uma palavra, ou melhor, em uma frase
de efeito ou de galanteio, que se dirige a uma desconhecida revelando o que
acha nela, no sentido de ser atraente, joliz, prazerosa e claro, encantadora.
As pessoas não se zangam não perdem
as estribeiras, não se descabelam, não puxam armas, não agridem e aceitam
naturalmente como se fosse, inclusive, uma troca de cumprimentos, como por
aqui, um bom dia, um boa tarde, um como vai, tudo bem? Na verdade é uma troca
venerável de cumprimento, ou uma aquiescência
garbosa e hospedeira.
Aconteceu em Ramblas, ou em La
Ramblas (uma via movimentada que liga a Praça da Catalunha ao Porto Velho)
centro gótico de Barcelona, que, ao vermos passar uma linda jovem elegantemente
vestida, acompanhada do marido (ambos usavam alianças), um cidadão se virou, tirou
respeitosamente o chapéu e disse, em alto e bom som: "bendita sea la mujer
que Dios puso en el mundo, mi reino!."
Ao que o “esposo-cavalheiro”
agradeceu, se abrindo igual mala velha, sorrindo num esfuziante sorriso de
felicidade franco e de bom grado, deixando à mostra uns dentes muitos brancos e
alvos.
— “Gracias, senõr.”
Outra lisonja ou demonstração dessa
arte, como queiram chamar (aqueles amados leitores que estiverem lendo este
texto), tivemos o prazer de presenciar dia seguinte, num supermercado. Um rapaz
empurrando um carrinho de compras, parou para dar passagem à uma garota metida
numa jeans desbotada, os cabelos soltos ao longo das costas, bolsa à tiracolo
trabalhada e uma camiseta desenhada com figuras às mais desengonçadas
possíveis.
Aquela menina, na verdade, se
assemelhava, sobremaneira, a uma donzela hippie dos tempos da Rita Lee no auge
da carreira. Seu porte de rainha lhe dava um ar inconfundível e brejeiramente
marcante. O mancebo não deixou por menos. Estancou os passos diante dela, se
curvou como se fosse ficar de joelhos e mandou bala:
—"Todas las demás existentes
son imitaciones."
Cena maravilhosa. Imperdível,
inesquecível. Inimitável. Aqui no Brasil, ao vermos uma mulher sozinha e se
dirigirmos à ela palavras como essas acima citadas ou qualquer outro tipo de
galanteio, a resposta de agradecimento virá a toda velocidade, como um tiro de
revolver:
— “Palhaço! Vá cantar a sua mãe. Ou
melhor, vá tomar no lugar que seu pai tomou.”
O pior, todavia, acontecerá se ela
estiver acompanhada. O sujeito simplesmente se sentindo o “rei da cocada
preta”, o dono do pedaço, virará um leão indomável e partirá para cima,
deixando a cara do infeliz dividida em duas metades desiguais. Isso, se uma dessas
metades vier a ser encontrada.
A isso ou a esse agir, se dá o nome
de “reação da imbecilidade à flor da pele”. O brasileiro não se educou para
esse tipo de tratamento. Ele desconhece a idiossincrasia. Ignora os mimos e as
cortesias, sem contar que não se atualiza, tampouco se recicla. O negócio, por
aqui, é perder a linha, a lhaneza e mostrar o lado ignorantemente animal. Nada
mais a acrescentar.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo. 7-1-2022
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Acrescentando ao que disse o Aparecido, em seu texto 'O piropo', igual procedimento acontece com um senhor, um idoso ou um velho, ao transitar pelas ruas com uma menina menor de idade, seja ela neta, filha, sobrinha, os cambaus. O povo sabido e inteligente, taxa logo a figura de 'pedófilo'. E não só isso: parte para cima, agride, fere, mata. País de povo inculto é assim mesmo.
ResponderExcluirCarina Bratt
Ca
Vila Velha ES