Tiago Franco
Disse, e cito de cor: “gosto
de ouvir o que têm a dizer aqueles que afirmaram que o Iraque tinha armas de
destruição maciça. Depois, em princípio, é fazer o contrário”.
Faz algum sentido. Há mais de
uma semana que Joe Biden grita aos quatros cantos que, hoje é que é! A CNN
dá-nos, diariamente, várias opções de ataque ao território ucraniano, com base
em informações das inteligências francesa, inglesa ou americana. E nada
acontece. Até Nuno Rogeiro, que normalmente mantém um tom sério nestas coisas,
ocupou boa parte do seu programa “Leste-Oeste” a falar de bloopers e
episódios caricatos.
Mas centremos a discussão em
dois pontos essenciais. O que quer realmente Putin e, já agora, a NATO?
A primeira coisa que a NATO
não quer, nem oferecida, é a Ucrânia. Entre presidentes pró-russos, revoluções,
deposições, independentistas, acusações de corrupção, eleições falseadas,
grupos nazis e, agora, um comediante à frente do país, o xadrez ucraniano é de
uma complexidade tal que dificilmente o Ocidente se poderia segurar a qualquer
tipo de estabilidade para justificar fosse o que fosse.
Por outro lado, a NATO não vai
correr o risco de aceitar um novo membro que tem disputas territoriais com a
Rússia.
Já Putin, apesar de não ser
grande democrata, vê o mesmo que todos nós, a expansão da NATO para leste. Um
tratado de defesa militar que, desde a queda da URSS, deixou de ter a raiz da
sua existência, mas, como se percebe, nunca parou de ir ocupando os territórios
circundantes da Rússia.
Seria um exercício interessante o de pensarmos como reagiriam os Estados Unidos se, durante umas décadas, os russos fossem instalando bases no México, em Cuba, na Jamaica ou no Canadá? Melhor, como veria a comunicação social do Mundo Ocidental essa movimentação? Nós acabamos sempre por formar opinião sobre a História pela forma como esta nos é narrada.
Sobre essa dualidade de
critérios há ainda um pormenor relevante. A NATO, que agora defende que os territórios
ucranianos com maioria étnica russa devem permanecer na Ucrânia, foi a mesma
NATO que em 1999 bombardeou a Sérvia, para que esta abrisse mão de 20% do seu
território onde estava uma maioria albanesa (Kosovo).
Portanto, percebemos sempre em
cada capítulo do confronto de potências que, a chamada comunidade
internacional, não defende o que está certo ou o que é melhor para as
populações. Defendem, cada uma das potências, o seu próprio interesse. E a
comunidade internacional segue o rasto do dinheiro.
No caso da NATO, uma espécie
de cão de fila do governo americano na Europa, qualquer hipótese de conflito na
Ucrânia é óptimo. Desde logo porque podem vender armas aos ucranianos, mas não
precisam de gastar dinheiro no envio de tropas. Depois, porque, qualquer
limitação ao fornecimento de energia na Europa, que passe pela Ucrânia, pode
ser substituída por fornecimento americano. E é por isso que Biden grita todos
os dias. Está no Bolhão da Real Politik, a puxar pelo negócio.
O que fez afinal Putin?
Obviamente, não invadiu a Ucrânia, como se percebia pela quantidade de tropas
na fronteira (exceto para os analistas da CNN que já tinham o caminho traçado
até Kiev), e deixou os separatistas no leste ucraniano fazerem o trabalho de
sapa.
Depois, reconheceu à maioria
russa no território o direito à independência. A partir daqui, mesmo que mais
ninguém no mundo reconheça estes territórios, qualquer ataque ucraniano passará
a ser um ataque à Rússia. Em resumo, uma repetição da guerra dos 5 dias na
Geórgia com as zonas fronteiriças da Ossétia e Abecásia. Estava nos livros.
Putin quer recuperar o
controlo de partes da União Soviética onde foram deixadas populações russas,
depois de afastados os nazis no caminho para Berlim. Pelo meio da jorna ainda
recupera algumas prendas oferecidas, como a Crimeia. E pode, como se vê, pode.
Os textos, entretanto, escritos
ficaram obsoletos em 24 horas, e começam, a partir de hoje, novos diretos de
especulação. A lógica, na minha opinião, será a de que Putin procura zonas
tampão, territórios na fronteira, áreas com maiorias étnicas russas. Mas não
estou a ver isto chegar para grandes diretos de Kiev e horas de Azeredo Lopes.
É preciso usar esta declaração de independência de forma algo mais espetacular
e preparar novos gráficos com setas vermelhas.
Assim, esta manhã, já se
contavam os possíveis mortos causados pela nova invasão russa e o caminho
escolhido até Kiev. Amanhã, Pedro Mourinho dir-nos-á que ainda não aconteceu
nada, mas estará para breve, sente-se no ar. Biden pedirá sanções, enquanto
oferece descontos nos morteiros. Em princípio temos audiências garantidas para
mais um mês. Depois começa o Big Brother Quase Famosos 2.
Impérios. São impérios na sua
formação contínua e afirmação de poder. E nós, neste cantinho sem direito a
audiência na mesa dos seis metros, ficamos a ver a posição da União Europeia de
subserviência a quem lhe der energia e a ouvir o que aí vem nas vozes de
Marques Mendes ou Helena Ferro Gouveia. São sortes.
Título e Texto. Tiago
Franco, PÁGINA UM, 22-2-2022
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Vou deixar meu comentário, embora tivesse prometido a mim mesma que não diria nada, nem tocaria no assunto. Acho tudo isso o fim da picada. O povo tanto aqui como em qualquer lugar do planeta, parece que sofre do mesmo mal, ou seja, padece de uma doença cerebral incurável e irreversível. Em consequência disso, são idiotas, robotizados, são verdadeiros animais. O maldito 'Putinho' invadiu a Ucrânia. Será que não existe nenhum macho que dê um jeito na situação? 'Putinho' deveria tomar uns tapas bem dado no meio da cara. Levar uma surra memorável para aprender a ser homem. Quem sofre em meio a toda essa confusão é o trouxa que faz parte da raia miúda. São os palhaços que gostam de bancar os buchas de canhão. Repito: uma sova bem dada, até deixar o couro desse animal em carne viva. Alguém já disse isso e eu volto a repetir o óbvio. Povo de Deus, acorde. Está na hora de olhar para a frente. O ser humano precisa deixar de ser comandado e se impor. Fazer valer sua soberania. Ou isso, ou esses amaldiçoados filhos do capeta continuarão dando as cartas. Vamos tomar tenência.
ResponderExcluirCarina Bratt
Ca
Campinas, São Paulo.