A guerra na Ucrânia também nos faz refletir sobre o tipo de líder que queremos eleger em 2022
Rose Rocha
Geografia é destino? No caso da Ucrânia, sim. Mas o presidente do país, Volodymyr Zelensky, decidiu que não. Depois de uma série de tentativas frustradas de negociações de paz com a Rússia e pedidos de apoio à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Zelensky decidiu ficar e lutar ao lado dos soldados ucranianos para defender o território.
A Ucrânia é um país do Leste
Europeu, com 44 milhões de habitantes. A retomada de negociações para fazer
parte da aliança militar, Otan, provocou forte reação da Rússia, que se
posicionou com ameaças, seguidas do ataque militar. Não adiantaram nem mesmo as
sanções por parte da União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido.
A ação foi considerada por
muitos líderes mundiais uma afronta à soberania da Ucrânia. E Zelensky se
tornou conhecido internacionalmente por resistir à potência bélica russa.
Volodymyr Olexandrovytch
Zelensky tem 44 anos e foi eleito presidente da Ucrânia em 2019, com 79% dos
votos no segundo turno. Ao tomar posse, dissolveu o Parlamento e convocou novas
eleições. Filho de pais judeus, é formado em Direito, mas optou por seguir
carreira de ator. Em 2003, fundou a Kvartal 95 Studio, produtora de séries
audiovisuais para a TV. Ficou conhecido por criar e estrelar a comédia Servo
do Povo, em que representa um professor que se torna presidente por acaso,
ao criticar a corrupção no país. Tal como na ficção, Zelensky se tornou chefe
de Estado e hoje governa a Ucrânia.
Agora, enquanto líderes
internacionais decidem o que fazer, Zelensky veste o colete à prova de balas e
vai para as ruas de Kiev, ao lado de soldados ucranianos. O ex-presidente Petro
Poroshenko também ficou na capital para lutar com a resistência. Com baixo
número de soldados, o Ministério da Defesa chegou a pedir na TV que os cidadãos
usassem armas e preparassem coquetéis molotov para se defender.
Imagens de crianças se despedindo dos pais chegam em tempo real para todos os cidadãos do mundo. Homens entre 18 e 60 anos não podem deixar o país — e já são milhares de refugiados que, provavelmente, não conseguirão voltar para casa. A impotência da Ucrânia e a incapacidade da Otan em ajudar diretamente deixam indignados aqueles que assistem de casa ao confronto entre Davi e Golias. Difícil entender por que um presidente não se rende e decide ir para a guerra colocando em risco a vida de seus cidadãos? Não.
Zelensky não está sozinho.
Representa a vontade do povo ucraniano. O desejo de soberania e liberdade. Os ucranianos
sabem que, ao cederem um pouco, perderão todo o resto. Não há como se colocar
no lugar de pessoas de países em guerra. É a realidade mais cruel ao ser
humano.
Mas a história existe para
ensinar. Hitler não foi detido e acabou matando milhares devido à omissão de
líderes que permitiram o avanço genocida. Mais tarde, percebera-se a tragédia
irreparável prevista por Churchill.
Mas o que aconteceria se uma
potência bélica decidisse invadir o Brasil? Parte da população defenderia de
imediato a rendição do presidente, pois a honra e a coragem foram canceladas
nas redes sociais. Outra parte considerável de parlamentares trataria de rifar
o chefe de Estado e a soberania do país ao inimigo, em troca de malas de
dinheiro — já tentam isso por menos, com a Amazônia. Os líderes de ocasião,
como Sergio Moro, João Doria, Ciro Gomes e Lula, certamente se esconderiam em
algum bunker até achar um jeito de sair pela porta dos fundos.
A guerra na Ucrânia também nos
faz refletir sobre o tipo de líder que queremos eleger em 2022. Quais dos
presidenciáveis descritos sairiam às ruas com um colete à prova de balas para
lutar ao lado do Exército?
Para alguns, Zelensky deveria
se render e entregar a Ucrânia à Rússia. Tolos, não percebem a lição que vem do
impotente país europeu, que tenta unir o Ocidente para barrar a Rússia, que,
junto à China, colocará o mundo de joelhos em breve.
O “comediante” Volodymyr
Zelensky não quer entregar seu povo ao autoritarismo de Putin. Mostra que a
liberdade de uma nação é um bem precioso e que dará a vida ao lado do pequeno
exército de civis para defender a democracia, munidos de bravura, coragem. Um
exemplo ao mundo.
Título e Texto: Rose Rocha,
revista Oeste, 1-3-2022, 11h28
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