Montagem: Revista Oeste |
No Brasil de hoje a virtude passou a ser a
recusa em admitir o ponto de vista do outro. Dia após dia, o ódio vai sendo
transformado num atributo moral
J. R. Guzzo
O Brasil está se tornando um
país cada vez mais intolerante — e isso é uma novidade muito ruim. A sociedade
brasileira tem tido uma longa história de prudência e de serenidade na gestão
dos seus rancores, diferenças e conflitos; chegamos aos 522 anos sem nenhuma
guerra de verdade, dessas que deixam mortes, feridos e destruição, por causa de
religião, ou de raça, ou de nacionalidade, ou de língua, ou de qualquer outra
escolha. Sempre houve, de um modo geral, a disposição de admitir ações,
pensamentos, crenças, sentimentos ou hábitos diferentes entre si, qualquer que
fosse o ambiente político.
O Brasil nunca foi uma
democracia de verdade — mas, mesmo nos seus momentos de ditadura aberta e
declarada, a inclinação predominante tem sido a de aceitar o princípio de que
cada um tem direito à sua própria vida, ao seu modo de pensar e ao seu
comportamento pessoal. Não mais. No Brasil de hoje a virtude passou a ser a
recusa em admitir o ponto de vista do outro. Há cada vez menos adversários e
cada vez mais inimigos. Dia após dia, e de forma mais e mais agressiva, o ódio
vai sendo transformado num atributo moral — ou numa exigência para a prática
correta da atividade política e social.
É
um sinal destes novos tempos escuros, de supressão de liberdades e de repressão
à divergência que alguém como o ministro Moraes seja promovido à posição de
apóstolo da “democracia”
Em nenhuma outra área da sociedade a intolerância prospera tanto quanto nessa nebulosa frouxa, disforme e sem princípios que é a esquerda nacional de hoje. Os verbos mais usados ali, a propósito de tudo, são proibir, punir, reprimir, prender, multar, penalizar, criminalizar, censurar; fala-se cada vez menos em diálogo, e cada vez mais em castigo.
Não há nenhuma demonstração
tão clara disso quanto o novo herói da esquerda brasileira, o ministro
Alexandre de Moraes — que segundo a mídia, as classes intelectuais e a elite
meia-boca destes trópicos salva dia após dia a democracia popular no Brasil.
Quanto mais ele transforma o país numa delegacia de polícia, e quanto mais
utiliza a sua função pública para reprimir, agredir e calar quem pensa de modo
diferente, mais excitação provoca na esquerda; vai acabar virando uma espécie
de Che Guevara do judiciário.
O ministro cassa o passaporte
de um jornalista que teve de se exilar nos Estados Unidos para escapar à sua
perseguição pessoal. Multa em R$ 23 milhões um partido político cujo crime foi
apresentar uma petição à justiça eleitoral, com alegações de que houve
irregularidades na última eleição. Quer que a polícia acabe à força com as
manifestações diante dos quartéis. Faz dezenas — dezenas, literalmente — de
coisas assim, e a cada uma delas se torna mais sublime para artistas de novela,
militantes do PT, PSOL e redondezas, advogados de corruptos, milionários de
esquerda, jornalistas etc. etc. etc.
Ainda bem que nossas instituições estão "vigilantes", né? https://t.co/5Ahp6fsmI8
— Paulo Figueiredo Filho (@realpfigueiredo) November 30, 2022
É um sinal destes novos tempos
escuros, de supressão de liberdades e de repressão à divergência, que alguém
como o ministro Moraes seja promovido à posição de apóstolo da “democracia” e
de tudo o que hoje é louvado como correção política. Não há precedentes de
alguma outra autoridade pública brasileira que tenha, como ele, feito uso tão
extensivo do ódio como método de ação política — e que tenha sido tão admirado
por fazer isso na porção do Brasil que julga a si própria como “progressista”.
Não se trata apenas de usar a suprema corte de justiça do país para violar
sistematicamente a Constituição e o restante das leis em vigor, com garantia de
impunidade e na execução de objetivos políticos. A agravante para esta conduta
é a sua carga de rancor em grau extremo. É a recusa do debate livre e a
obsessão em destruir quem não concorda; é o senso moral de quem fica no campo
de batalha para executar os feridos. Virou, em suma, uma coisa fanática. Em vez
de gerar reprovação, porém, o comportamento de “terra arrasada” de Moraes e de
seus colegas de STF gera profundo encantamento na esquerda. O resultado é uma
aberração. As mentes virtuosas, que propõem a “justiça social”, a “igualdade” e
outras fantasias “progressistas”, aplaudem a repressão policial às
manifestações em torno de guarnições militares; é a primeira vez na história
mundial que a bomba de gás lacrimogênio se vê elevada à condição de arma em
defesa da democracia.
Por
que o ódio a Neymar? Porque ele apoiou Bolsonaro para presidente, em público.
Para a esquerda, isso é crime
A intolerância radical do
Brasil de hoje fica evidente, também, na ideia fixa da esquerda em
“criminalizar” tudo e todos que a desagradam. Não falam em outra coisa —
“criminalizar”. Gente que se diz democrática, equilibrada e “lúcida” vive
fascinada com a mania de criminalizar a homofobia, o racismo, o machismo, o
“bolsonarismo”, os protestos em frente aos quartéis, a camisa amarela — tudo
que vai contra eles tem de ser crime, tem de ser castigado, tem de “dar cadeia”.
Deixou de ser uma linha de ação; passou a ser uma neurose. A última
manifestação desse tipo de demência penal veio de um pequeno senador que vive
em estado de permanente histeria em sua conduta política e se tornou, ele
também, um ídolo da mídia que faz o “L” e se abraça nas redações, em transe,
quando Lula é declarado vencedor da eleição presidencial pelo TSE de Alexandre
Moraes.
O senador fala num projeto de
lei para punir com cadeia (de um a quatro anos) quem der vaia nele, ou em gente
como ele, ou chamar a eles todos de “safado”, “vagabundo” ou coisa que o valha.
Ele diz, e a mídia repete, que está preocupado com a “pluralidade” política e o
“diálogo republicano”. Não enganam com essa conversa nem uma criança de 10
anos.
Toda a esquerda vai continuar
chamando Jair Bolsonaro de genocida, fascista e destruidor da Amazônia. Quem
protesta nos quartéis continua sendo criminoso, golpista e “antidemocrático”.
Estudantes de direita continuarão a ser insultados e agredidos nas
universidades, com o aplauso dos reitores, diretores e professores. O “assédio
político” é crime que só o adversário pode cometer.
A esquerda festejou a contusão
de Neymar na Copa do Mundo — o que pode ser mais intolerante do que uma coisa
dessas? Na verdade, é a hora em que o fanatismo atravessa a fronteira do
desequilíbrio mental; tirar prazer do sofrimento físico de alguém, seja ele
transitório ou permanente, é um dos pontos mais baixos a que pode chegar um ser
humano em sua descida rumo ao mal absoluto. Chegou-se a esse ponto, no Brasil
de hoje — e a partir daí não há limite para a depravação.
Por que o ódio a Neymar?
Porque ele apoiou Bolsonaro para presidente, em público. Para a esquerda, isso
é crime; não se admite, ali, a noção do voto livre. É um dos fundamentos de
qualquer democracia — sem liberdade de votar, simplesmente não pode haver
regime democrático. Mas no Brasil do STF, da esquerda e do Google é exatamente
o contrário; para haver o seu modelo de democracia, não pode haver o voto
livre.
É proibido escolher o
candidato que você prefere. É proibido manifestar a sua opinião em público. É
proibido pensar com a sua própria cabeça. Os próximos passos, por essa lógica
de negação da liberdade individual, são o candidato único, o partido único e o
jornal único. É o país com que a esquerda brasileira sonha.
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O Google suspendeu a
publicação de propaganda programática (os anúncios de outras empresas
distribuídos pelo Google) em Oeste; diz que a revista fere a sua coleção
de princípios e aponta, entre os motivos, os artigos de quem assina este texto.
Quais os princípios,
objetivamente, que foram feridos? O Google não informa. Quais, então, os
artigos específicos que estariam em desacordo com as regras de conduta da plataforma?
Também não se diz nada a respeito; presume-se que sejam todos, incluindo os que
ainda não foram escritos. Pelo que deu para entender, o Google não quer que o
autor escreva na Revista Oeste; aparentemente, permite que os seus
artigos continuem a ser publicados no Estado de S. Paulo e
na Gazeta do Povo, onde é colunista fixo e regular, pois, tanto
quanto se saiba até o momento, não suspendeu a sua publicidade em nenhum destes
dois veículos. O que se pode dizer com certeza para o leitor é que a Revista Oeste continuará
publicando os textos do autor, exatamente com o mesmo teor de sempre.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Revista Oeste, nº 141, 2-12-2022
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“Só estou pedindo o mesmo direito que foi dado a um traficante”
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Teatro farsesco
Fora, Lula!
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Feliz em ser brasileiro...
Janaína Xavier
Copiando a Euronews: "No comments"
Jair Messias Bolsonaro, Presidente da República Federativa do Brasil, 26 de novembro de 2022
[Aparecido rasga o verbo] Nossos subterrâneos da liberdade ficaram descalços
Basta!
Adoro esse cara. ai em cima, um verdadeiro 'Maxão'. Cagou, digo, chegou ai, peidou, digo, parou. Sempre sozinho, de cabeça erguida, anda pelas ruas sem medo, sem guarda costas, sem polícia federal, sem policia militar, sem guarda, sem arma... 'Omem de verdade precisa de seguranças para quê?!
ResponderExcluirEuzinha ando aqui pela Borges de Medeiros, sem segurança, sem arma, tendo como companheiros, ora minha bicicleta ora meus patins e a tiracolo, o Aparecido. Somos livres, leves, soltos, para que um bando de cachorrinhos em nossos rastros?
Carina Bratt
Ca
da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.