Gastão Reis
Recentemente, tive a oportunidade de ler um conto de Dostoiévski, aquele escritor que Sartre, ateu, disse ser o único que falava com Deus, intitulado "Notas do Subsolo" ou "Memórias do Subsolo", em outras traduções. Imperdível! Ao abordar a questão da vingança e daqueles que planejam levá-la adiante, Dostoiévski faz a seguinte pertinente observação: "Quando a vingança se apodera de seu espírito, não há lugar neles senão para esse desejo". Eles se precipitam para frente, qual touros furiosos, que só são detidos diante de um sólido muro, resumindo o que nos diz o autor.
E foi assim que me dei conta
de que o atual presidente da república, Lula da Silva, vem colocando em
prática uma amarga vingança contra aqueles que lhe puseram na cadeia, como
afirmou em vídeo, que está nas redes sociais. No afã de provar ter sido vítima
de uma injustiça, coisa em que nem ele mesmo acredita, vem trabalhando
em seu estratagema vingativo com o apoio do STF e parte do Judiciário,
como no caso da cassação do deputado Deltan Dallagnol, acusado pelo TSE - Tribunal Superior
Eleitoral - de fraude à Lei da Ficha Limpa.
Felizmente, para o país, ele vem encontrando barreiras que lhe impedem de fazer o estrago que resultaria de seu plano de vingança. Já foi dito por um conhecido colunista que o melhor de Lula foi aquilo que ele não conseguiu fazer. Um exemplo gritante foi a tentativa de reestatizar empresas que foram privatizadas. Outro motivo de vingança é a brutal rejeição que vem se consolidando país afora a ponto de evitar se expor em público para não ter que ouvir aqueles qualificativos desairosos habituais.
Mas a vingança não se dá só no
atacado, ela se manifesta também no varejo como as caríssimas diárias em
hotéis no exterior com uma comitiva que come muito e pouco faz no
bate-cabeça de gente demais para serviço de menos. É uma forma de rir em nossa
cara, os que pagamos as contas. E sem dó nem piedade. Queria até
mesmo mais mordomias no avião presidencial.
A última façanha vingativa foi
tentar emplacar o ex-ministro da Dilma, Guido Mantega, na presidência da
Vale do Rio Doce, privatizada faz tempo. Já que é impossível
reestatizá-la, com seu histórico de sucesso estrondoso após a privatização, a
ideia era colocar Mantega lá para desestabilizar a empresa dado seu histórico
da Nova Matriz Econômica, aquela maluquice que deu no deu. Rejeitada a
proposta pelo setor privado, Lula retrocedeu. E teve de se conformar com a
sina de que a melhor coisa de seu governo é o que ele não está conseguindo
fazer. As manobras foram percebidas e vêm batendo no muro.
A pior avaliação recente do
governo Lula partiu de Gerson Camarotti, na GloboNews. Em resumo: enorme
fragilidade, articulação política capenga, disputa política dentro do
Palácio do Planalto, cada ministro com sua ideia particular de governabilidade,
dado o consenso que não existe governabilidade. Reconhecem a
gravidade da situação, mas não sabem o que fazer. Discurso de Lula descalibrado
aqui e lá fora. "A quem Lula está ouvindo", indagou, no final,
Camarotti? Certamente, é a voz rouca da vingança que vem falando mais
alto.
Nota: digite no Google minha
entrevista: "Quando o Brasil perdeu o rumo da História". Ou
link: https://www.youtube.com/watch?v=gtg4NGdjBbQ&t=19s.
Título e Texto: Gastão Reis, O Dia, 3-2-2024
A vingança procede sempre da fraqueza da alma, que não é capaz de suportar as injúrias.
ResponderExcluirFrançois La Rochefoucauld