Vejam este homem:
Ele se chama Orlando
Lovecchio. Como vocês notam, usa uma prótese do joelho para baixo na perna
esquerda. A parte que lhe falta foi arrancada num atentado terrorista ocorrido
em 1968. Já volto ao caso. Antes, algumas lembranças.
A Comissão da Verdade, agora
presidida por Rosa Cardoso, que só está lá porque foi advogada da ex-militante
terrorista Dilma Rousseff, decidiu fazer barulho na imprensa — que lhe fornece
o megafone. Ontem, acusou a Marinha de ter omitido supostos documentos que
comprovariam a morte de 11 militantes políticos dados como desaparecidos. Escrevi a respeito. Em nota oficial, a Força negou que
esteja omitindo informações. Desde o princípio, os revanchistas queriam chegar
aos militares da ativa. Maria Rita Kehl chegou a dizer que as Forças Armadas
mancharam “as suas honras (sic)”. Rosa achou pouco. Falando em nome da grupo,
disse que a Comissão vai, sim, recomendar, contra a Lei da Anistia e contra a
lei que a instituiu, que os agentes do estado anistiados sejam criminalmente
responsabilizados. Já há uma decisão do Supremo contra a revisão da Lei da
Anistia. Rosa não está nem aí. Na sua concepção de verdade, não cabe a
legalidade do estado democrático e de direito.
A comissão, nós já vimos há
alguns dias, quer fazer sessões públicas, promover acareações, submeter, enfim,
os depoentes a um simulacro de julgamento e condenação sumários — mesmo que não
possa realizar, ela mesma, a persecução penal.
Então volto agora a Lovecchio.
Como já lhes contei em maio do ano passado, no dia 19 de março de 1968, o
então jovem Orlando, com 22 anos, estacionou seu carro na garagem do Conjunto
Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo, onde ficava o consulado americano.
Viu um pedaço de cano, de onde saía uma fumacinha. Teve uma ideia generosa:
avisar um dos seguranças; vai que fosse um reator com defeito… É a última coisa
de que ele se lembra. Era uma bomba. A explosão o deixou inconsciente. Dias
depois, teve parte da perna esquerda amputada.
Depoimento de um dos presos,
Sérgio Ferro, indicou que o atentado havia sido praticado pela VPR (Vanguarda
Popular Revolucionária) e que seus autores seriam os terroristas Diógenes
Oliveira e Dulce de Souza Maia. Muitos anos depois, Ferro afirmou que ele
próprio participara do ataque terrorista; que ele era, na verdade, obra da Ação
Libertadora Nacional (ALN), organização liderada por Carlos Marighella, não da
VPR, e que Diógenes e Dulce não participaram da ação.
Lovecchio, coitado!, se
preparava para ser piloto. Marighella — ou Carlos Lamarca (que chefiava a VPR)
— não deixou porque, afinal, queria mudar o mundo, como rezam os
mistificadores. A Comissão de Anistia já fez uma homenagem ao líder terrorista
e decidiu indenizar a sua família.
Não se sabe, com certeza, se
foi a ALN ou a VPR que arrancou a perna de Lovecchio. O certo é que ele
recorreu, sim, à Comissão da Anistia. Deram-lhe uma pensão mensal de… R$ 500!!!
Marighella, no entanto, assumiu o panteão dos heróis. Não só isso: não se sabe
também se o tal Diógenes participou ou não. Mas é fato que foi um dos
terroristas que, no dia 26 de junho de 1968, lançou um carro-bomba com 15
quilos de dinamite contra o Quartel General do II Exército, em São Paulo. A
explosão fez em pedaços o soldado Mário Kozel Filho, que tinha, então, 18 anos.
Sim, a família de Kozel pediu indenização. Em 2003, a Comissão da Anistia
decidiu pagar R$ 330!!! Esses valores, hoje, foram corrigidos.
Mas e Diógenes, que,
comprovadamente, participou do assassinato de Kozel e de muitos outros crimes,
restando a suspeita de que atuou também no atentado que mutilou Lovecchio? Ora,
ele recorreu à mesma comissão que deu R$ 500 mensais por uma perna e R$ 330
pela vida de um jovem soldado e passou a ter direito, em 2008, a um mensalão de
R$ 1.628. E ainda levou uma bolada de R$ 400 mil a título de atrasados.
Uma pergunta básica: quando é
que a dona Rosa, a dona Khel e o Paulo Sérgio Pinheiro vão confrontar, num
mesmo depoimento, Orlando Lovecchio, o que perdeu a perna, com Sérgio Ferro, o
ex-terrorista que virou artista plástico de renome e diz ter praticado o
atentado, e Diógenes Oliveira, apontado inicialmente como autor? Quando é que
as vítimas, ou suas respectivas famílias, dos terroristas vão ser postas cara a
cara com seus algozes? Em uma de suas viagens ao Brasil, Ferro disse que ajudou
a pôr aquela bomba no consulado americano porque era contra as violências nos
EUA no… Vietnã. Convenham: um brasileiro podia muito bem pagar com a própria
perna a vontade que ele tinha de protestar contra os EUA, certo?
Atenção! A Comissão da Verdade
não vai nem mesmo se dedicar a apurar, afinal de contas, se foi a VPR de,
Carlos Lamarca, ou a ALN, de Carlos Marighella, que arrancou a perna de
Lovecchio. Não vai porque os dois passaram a ser “anistiados”, com direito a
reparação. Lovecchio, a família de Kozel e de outras 118 pessoas mortas pelos
terroristas que se danem!
Às vezes, fico com a impressão
de que a democracia brasileira é obra da VPR, da VAR-Palmares, da ALN, do
Colina, do PCdoB e de outras organizações terroristas que decidiam, em seus
“tribunais revolucionários”, quem deveria viver ou morrer.
Vejam este vídeo:
O corajoso cineasta Daniel Moreno, hoje com 37 anos, fez um filme a respeito, intitulado “Reparação”. Acima, vai um trailer. Fica fácil saber quem é Lovecchio. Falam, entre outros, o professor Marco Antonio Villa, do Departamento de História da Universidade Federal de São Carlos (o que afirma que tanto a esquerda como a direita eram golpistas), e o sociólogo Demétrio Magnoli, o que lembra que uma significativa parte da esquerda “ainda não aprendeu que Stálin era Stálin”.
Esses são apenas fatos.
É mais uma contribuição à
Comissão da Verdade!
É mais um alerta contra o
photoshop da história!
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 22-05-2013
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