Rodrigo Constantino
![]() |
Mas o comunista não quer que os irresponsáveis gregos paguem por ela… |
Daniel Aarão Reis, autor de
uma biografia elogiosa do comunista Luiz Carlos Prestes, escreveu em sua coluna de hoje no GLOBO um texto enaltecendo a
grande “coragem” e o “caráter” dos jovens socialistas gregos no governo. Para o
historiador esquerdista, os credores “engravatados” querem “humilhar” todo um
povo, que seria, então, vítima indefesa desses gananciosos insensíveis. A
dívida grega, presume-se, caiu do céu, foi imposta aos pobres coitados. Diz o
professor da UFF:
As lideranças políticas e
tecnocráticas europeias e mais a senhora Christine Lagarde, diretora-gerente do
FMI, têm preferido, porém, o caminho da chantagem. Imaginam-se “adultos”,
confundindo velhice com sabedoria, uma associação nem sempre evidente.
Comprazem-se em chamar à razão os “jovens” de Atenas. Estes insistem em dizer
que não se trata de optar a favor ou contra a Europa, e sim pelo tipo de Europa
que se quer construir. O que vai a votos é a concordância, ou não, com
propostas que encurralam e humilham um povo.
No referendo próximo, o
povo grego escolherá entre a submissão e a autonomia. Entre os velhos
engravatados da Europa dos bancos e os jovens de Atenas, da Europa da
solidariedade e das indumentárias informais. O comportamento deles evoca uma
frase de Helio Pellegrino, referindo-se aos líderes estudantis das passeatas
brasileiras de 1968, barrados no Palácio do Planalto por impropriamente
vestidos: “eles não têm gravatas, mas têm caráter”.
Já comentei aqui a opinião de Joseph Stiglitz, muito
semelhante a esta. É impressionante que essa turma da esquerda nunca cobre
responsabilidade pelos atos das pessoas e governos. A Grécia se endividou como
se não houvesse amanhã, bancou um insustentável modelo de bem-estar social,
inúmeros privilégios para os servidores públicos, diversas obras suntuosas e
desnecessárias, e com isso quebrou. Mas a esquerda aponta para a
irresponsabilidade dos gregos, para extrair alguma lição valiosa, por acaso?
Claro que não! O divertido é apontar para a “ganância” dos credores “insensíveis”,
os “engravatados” da elite.