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O certo
é dizer “um patinete” ou “uma patinete”?
Quem abrir o dicionário Houaiss, entre
outros, poderá surpreender-se, ao ver que, lá, patinete é considerado um
substantivo feminino – embora no Brasil praticamente só se use no masculino:
“um patinete”, “o patinete”. O dicionário Michaelis contraria
o Houaiss e traz patinete como substantivo masculino, como é
usado no Brasil:
O que explica a divergência? A evolução da língua – nisso, o
Michaelis está à frente do Houaiss.
Ao longo de toda a história do português, sempre houve
grande oscilação no gênero de palavras terminadas em “e”. “Ponte” e “árvore”,
por exemplo, eram palavras masculinas em português (dizia-se “o ponte” e “o
árvore”), como ainda são em espanhol, italiano e francês. No uso, os falantes
de português acabaram usando essas palavras no feminino – e com tanta
frequência, que o que no começo era um erro acabou virando a norma.
Esse tipo de mudança, que já ocorria séculos atrás, continua
até hoje: tempos atrás, por exemplo, ocorreu com “omelete” e “quiche” – dois
substantivos que vieram do francês, língua em que são femininos, entraram em
Portugal, onde continuam a ser femininos, mas no Brasil viraram, pouco a pouco,
masculinos – hoje, todos os dicionários brasileiros admitem que se diga “o omelete” e “o quiche”, ao lado das formas “originais” “a omelete”
e “a quiche”, que, de tão raras, já começam a causar estranheza a quem as ouve.
É o mesmíssimo o caso de patinete. Como
“omelete”, veio diretamente do francês, língua na qual é feminino; em Portugal,
entrou como feminino, e como feminino entrou no Brasil, mas no Brasil virou
masculino.
Prova dessa mudança é que há hoje 52 900 resultados para “o patinete“,
entre aspas, no Google – mais de dez vezes mais do que para “a patinete“.
Entre os bons autores brasileiros contemporâneos, só
encontramos patinete no masculino: é assim que usam, entre outros, Lygia Fagundes Telles, o “imortal” (membro da Academia
Brasileira de Letras) Alberto da Costa e Silva e, já em 1968, Luis Fernando Verissimo.
“Patinete” parece estar, assim, no mesmo caminho de
“omelete”: já foi feminino, hoje pode ser usado nos dois gêneros, mas, no
Brasil, o gênero mais ouvido é o masculino, sendo que o feminino causa mesmo
estranheza. Haverá, é claro, os puristas que se revoltarão com essa “mudança”,
por desconheceram a regra mais básica dos estudos das línguas: que toda língua
com falantes vivos está sempre em constante processo de mudança, e que tudo que
hoje é regra já foi erro.
Querer lutar contra “o patinete” ou “o omelete” acaba sendo
como ter tentado lutar, séculos atrás, contra “a árvore” e “a ponte”, sob o
argumento purista de que essas duas palavras eram masculinas em latim, tinham
entrado como masculinas em português e não podiam mudar de gênero “de repente”
só porque cada vez mais pessoas aderiam a esse “erro”.
Ao fim, como sempre ocorre nas línguas vivas, o erro da
maioria acabou virando a norma – e do mesmo modo que “ponte” e “árvore” mudaram
de gênero, “omelete” e “patinete” seguem hoje o mesmo caminho.
Título, Imagens e Texto: dicionarioegramatica.com,
17-8-2018
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