João Pedro Pimenta
Perguntava-me há dias se a
situação na Ucrânia provocaria tanta comoção como quando houve a questão do
Iraque. Nessa altura, houve uma jornada mundial de manifestações (talvez dos
primeiros grandes efeitos da Internet), a 15 de fevereiro de 2003, de protesto
contra a iminente invasão do Iraque, com manifestações por toda a parte (se me
perguntarem, sim, eu estive numa nessa data, no Porto, e no dia em que começou
a guerra estive ao lado dos iraquianos em Atenas).
Neste momento, felizmente, começa a haver um grande movimento contra esta invasão e a favor da Ucrânia. A diferença, pelo que me pareceu, é que é sobretudo no mundo ocidental, com o resto um pouco mais indiferente, mas espero estar enganado.
A propósito do Iraque, tenho
visto as estafadas perguntas "então e o Afeganistão, o Iraque, a
ex-Jugoslávia"...normalmente é um estratagema de whataboutismo para se
poupar a Rússia por birra com o ocidente (a que pertencemos), porque uns não
implicam outros. E quem as faz assobia para o ar perante a flagrante violação
do direito internacional, que antes tanto dizia defender. Mas há apesar de
tudo, diferenças, pelo menos nestes três.
O Afeganistão invadiu-se
porque albergava uma colónia de terroristas que tinha provocado o 11 de
Setembro. Os Estados Unidos sofreram um ataque armado e pelo Direito
internacional tinham todo o direito de se defender, como a ONU concordou. Outra
questão será saber se administraram bem a situação após a fase militar.
Na ex-Jugoslávia, ou antes no
Kosovo, estava a haver uma limpeza étnica das populações albanesas locais, de
tal forma que tanques sérvios chegaram a atravessar a fronteira com a Albânia
atrás de kosovares. Deu-se então uma intervenção da NATO, bombardeando não só
forças militares, mas também pontos estratégicos em Belgrado, o que levou à
morte de alguns civis (e até ao bombardeamento por engano da embaixada
chinesa). Sendo certo que uma intervenção para evitar situações como a que
tinham ocorrido na Bósnia anos antes era mais que aconselhável, a verdade é que
a NATO não tinha mandato da ONU e levou a ação longe demais para além dos objetivos.
O Iraque é o que se sabe. Os EUA e alguns aliados, como a campanha contra o "Axis of Evil" dos neoconservadores, conseguiram implicar Saddam Hussein com a Al-Qaeda, com a qual não tinha rigorosamente nada a ver, e inventar umas fantasiosas armas de destruição maciça, que Colin Powell "revelou" numa sessão das Nações Unidas em que o seu prestígio de décadas se estampou. O resto é história.
Qual é então, a grande
diferença para os casos do Kosovo e do Iraque? É que no primeiro, apesar de ser
ilegal, a intervenção conseguiu parar uma limpeza étnica que estava a ser
comandada por um tirano, Slobodan Milosevic, de tal forma que no ano seguinte
os sérvios não hesitaram em derrubá-lo.
No segundo, apesar de ser um
desastre baseado numa mentira, a verdade é que o regime de Saddam era um dos
piores facínoras da época e crimes contra a humanidade não faltavam.
E similar ao caso da
ex-Jugoslávia poderíamos ir ao caso da Líbia, regida por um assassino que ia
desencadear uma repressão violenta contra o seu povo.
No caso da Ucrânia, não só se
trata de uma violação flagrante do direito internacional com base em mentiras
descaradas (a suposta adesão do país à NATO) como atenta contra um presidente
livremente eleito (venceu até o seu antecessor, que estava no cargo), e não um
"neonazi", ao contrário do que se passa na Rússia. Ou seja, pelos
argumentos da Rússia, a Ucrânia tinha todas as razões para a invadir, já que o
regime de Putin ameaça a sua soberania, comete crimes contra o seu povo e só se
"elege" prendendo e abatendo adversários.
Em suma: se havia razões para
contestar a guerra do Iraque, mais razões ainda há para protestar contra a
agressão à Ucrânia.
Título, Imagem e Texto: João Pedro
Pimenta, Delito de Opinião,
2-3-2022
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Filhos da Guerra Fria
Me irrita a ingenyuidade no mundo cibernético.
ResponderExcluirNão existem mais ingênuos.
Vociferam textos eróticos e vídeos semelhantes na rede.
TUDO É SEXO PARA ALGUNS IMBECIS.
Brasileiros se naturalizaram ucranianos e agora querem alforria.
Não existe lado certoda história.
Elegeram o tiririca de presidente e aqui querem um animal corrupto de 9 dedos fingindo serem ingênuos.
Não me venham com paos de confiança.
Confiança é água e pão na mesa;
Me enganaram aí vem um putinho e acaba com a covid.
Os europeus esqueceram o holodomor e o massacre de Katyn e só lembram do holocausto;
A Ucrânia era russa desde o século XVII.