terça-feira, 2 de maio de 2023

O caminho das dúvidas

Luís Naves

Vivemos em tempos conturbados de política polarizada, como acontece em períodos de transformação rápida. O caminho parece denso e repleto de sombras, a nova crise económica é imprevisível, agigantam-se os estrondos da guerra, mas talvez a dificuldade mais longa seja a grande mudança de mentalidades que acompanha o estertor da ordem vigente.

No fundo, são contestadas as regras impostas pela hegemonia ocidental. A ordem triunfante inclui globalização do comércio, o poder financeiro, a força militar mais poderosa da história, o domínio da língua inglesa, o todo-poderoso dólar norte-americano, as ideias de Hollywood e a internet. O Ocidente tenta impor a todas as sociedades esta visão de uma ordem baseada nas suas regras.

É messiânico, os tradicionalistas devem ver a luz, têm de abandonar as maneiras desprovidas de equidade que os levaram à submissão. A política ocidental usa sanções e narrativas noticiosas, aparentemente não tem ideologia, mas lembra o comunismo de antigamente, com as suas manhãs que cantavam. Não há dúvidas sobre a justiça e perfeição do nosso modelo, quem se questionar é um radical.

Os outros países devem alterar o que lhes resta da parte fossilizada das suas defuntas civilizações, nomeadamente autoritarismo, estrutura familiar, superstições, a própria noção do belo.

Nós também teremos de mudar, precisamos de ter vergonha da religião dos nossos pais, de pagar indemnizações pelo tráfico de escravos, de sentir o tom pálido da pele como um ferrete de injustiça passada, de renunciar às imposições biológicas de género.

Teremos de aceitar que os transexuais acabem com o desporto feminino em nome da equidade, que as crianças sejam educadas na escola com grandes confusões sobre a sexualidade. A correção política implica que os próprios resultados eleitorais possam ser revertidos quando ganharem os partidos maus que só querem andar para trás.

As massas precisam de ser ensinadas por gente iluminada. A revolução cultural pode começar em coisas pequenas, mas as revoluções nunca sabem parar.

Título e Texto: Luís Naves, Delito de Opinião, 2-5-2023

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