José Carlos Bolognese
Nunca fui o primeiro em nada.
Na hora de assinar a folha de apresentação do voo, gostava de conversar com os
colegas antes de assinar. Apenas cuidava de ir logo para a aeronave depois de
assinar porque, como todo tripulante sabe, naquela hora antes da decolagem se
trabalha mais rápido, na verdade mais corrido, do que numa hora de voo
nivelado.
Na fila para pegar a chave do
quarto e a diária no hotel do pernoite, também não me afobava, exceto se alguma
razão fisiológica falasse mais alto (às vezes falava mesmo) aí... imperativo
era pegar logo a diária-chave-mala-elevador-quarto... ufaaa, cheguei!
Na alfândega minha mala era
uma versão variguiana do Barrichello. Na rabeira quase sempre, algumas vezes em
segundo ou terceiro lugar, mas então o pódio já havia sido desarmado e o
champanhe já era.
Agora se comemora o pagamento
de mais um salário dos cento e tantos que nos devem como uma rara vitória do
Rubinho - e eu também não sou o primeiro a soltar rojão. Mal agradecido, eu?
Longe disso. Agradeço cada centavo que cai no meu bolso de forma lícita.
Agradeço que colegas dedicados não abandonem nunca a luta pelos nossos
direitos. Mas acho difícil comemorar... depois da metade de julho... um salário
de março!, que era pra ter sido recebido nos primeiros dias de abril. Durante
esse tempo todo tenho me sentido à frente da Ferrari do Barrichello ou da
Lamborghini do Collor, que vão de zero a 100 em quatro segundos, mais ou menos:
É só olhar o NÃO saldo no banco que vou de zero a mil em muito menos tempo.
A palavra que mais ouvi – e
fui obrigado a praticar na marra – é... (três pontinhos pra respirar primeiro
antes de escrevê-la) paciência. Bem, esta palavra traduz um sentimento nobre,
civilizado, se coloca entre duas forças antagônicas para preservar o bem maior.
Quando essas forças se equivalem até se justifica. Quando se tem uma
expectativa real também. Mas parece que para os variguianos, justiça e
paciência na mesma frase não se encaixam. Pois não foi paciência o que faltou
para os mais de mil colegas nossos que se foram para o outro mundo. O que
faltou foi a palavra que não combina mais com paciência - a palavra justiça.
Ora, se a justiça vive parando
nos boxes toda vez que uma corrida aos nossos direitos é anunciada e suspende o
campeonato para o ano seguinte, a única maneira de pensar enquanto esperamos é
numa espécie de “paciência raciocinada e ativa”, que é sim uma atitude
necessária, mas precisa vir acompanhada de ações e reivindicações que não
deixem dúvidas de que estamos dispostos a ir atrás de tudo o que nos foi
roubado.
Então, agradecendo a mais um
alívio, vamos todos com a paciência necessária para manter o foco, mas
raciocinada para buscar os melhores meios e ativa, porque a luta continua.
Vamos para a Corte
Interamericana de direitos Humanos.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 18-7-2015
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Sim!
ResponderExcluirVamos para a Corte Interamericana de Direitos Humanos!!