José Carlos Bolognese
O grande paradoxo tupiniquim é
que, quanto mais se descobrem escândalos de corrupção no país, mais se percebe
que o dinheiro não é uma espécie em extinção. Em “espécie”, cartões
corporativos, cuecas, malas, mochilas (um desses safados com mochila, do Lava
Jato, era até chamado de Moch – pesquisem), financiamentos de “mãeZona para
filhos” pobres empreiteiros campeões nacionais, o dinheiro de quem trabalha
flui – da pior administração de toda a história do país – por exclusivos canais
privilegiados, muito distantes dos cidadãos que encontram enormes dificuldades
para atender apenas as suas necessidades mais elementares.
Evidentemente, essa montanha
de recursos não é produzida pelos que dela se fartam. Quem faz fica com muito
pouco e ainda assim é severamente punido pela bem azeitada máquina de
arrecadação, a única instituição que funciona 100% dentro de sua finalidade no
país. De maneira oposta, os recursos previdenciários – poupança dos
trabalhadores – são controlados pela pior das instituições existentes, nunca
imitando a aritmética da (super) receita, que faz das suas cobranças
infinitesimais uma questão de honra operacional.
"A César o que é de
César, desde que não queira o de César e o do povo ao mesmo tempo".
Se devemos pagar impostos,
merecemos ser tratados com respeito pelo estado arrecadador. Se podemos ser
punidos por divergências fiscais com o Estado, temos o direito de puni-lo na
forma da lei e dele cobrar as compensações quando erra e pelos danos que (nos)
causa.
Todavia, quando o Estado é
irresponsável com a poupança de aposentados, aí está indo longe demais. O Estado
(não gosto desse conceito – prefiro pensar que são pessoas insensíveis no
poder) não tem o direito de manipular o dinheiro de aposentados sem a noção de
que esses recursos são a última base de sustento de gerações envelhecidas, como
se não houvesse amanhã. E já não há mesmo amanhã ou depois de amanhã ou depois
e depois, visto que tem cada vez menos trabalhador aposentado vivo para poder
cobrar.
Se, os que ainda vivos, podem
formalmente contar com instituições destinadas à proteção de seus interesses,
aí nos deparamos com o que há de mais perverso na relação estado/ cidadão:
Enquanto continuamos
indivíduos com todas as nossas fraquezas – inclusive a dispersão e falta de
união – o Estado se esconde atrás de entidades obscuras e improdutivas como
ministérios, agências, tribunais, secretarias e outras muitas instâncias onde é
fácil diluir culpas e escamotear responsabilidades.
Não podendo buscar o retorno
de nossos direitos senão pelos espinhosos e traiçoeiros caminhos legais quando,
a um pequeno passo adiante, é certo se contar com vários passos para trás,
nossa única arma é a união e o emprego massivo dos meios disponíveis. Mas eu
até hesito quanto ao plural - meios -, posto que, em termos de divulgação, me
parece que só temos mesmo a Internet. Assim sendo penso que temos de ser mais
ousados e, sobretudo, numerosos na rede.
No começo dessa crise
ingenuamente acreditamos que bastava denunciar o acachapante calote que
sofremos – ativos e aposentados – que a imprensa viria em nosso socorro
denunciando ao país e ao mundo a violência cometida. Veio, mas muito pouco e
muito aquém do necessário e sem compreender a dimensão de um perigo que ia (e
ainda vai) muito além de Varig/Aerus, aviação e suas particularidades.
Eles mesmos, jornalistas e
trabalhadores do ramo experimentaram recentemente o gosto amargo de demissões
sob os aplausos de ninguém menos que o nosso maior algoz - cujo nome não cito
para não sujar esta página. Então, como estarão hoje esses demitidos do setor
de comunicações? Só para citar uma faixa deles, como estarão os que iam se
aposentar? Não preciso me alongar, pois as conclusões, pela experiência que
temos, são óbvias.
Lamentavelmente, os
trabalhadores da Varig entram no décimo ano de calote sem que várias outras
classes de trabalhadores tenham se educado com a nossa traumática experiência.
Que até o momento, mais de nove anos passados, ainda está longe do fim.
Portanto, o quadro diante de
nós, face ao enorme desprezo que sofremos por parte dos poderes da república,
não é nada animador. Ficar pendurado no barranco pelos dedos sem nenhum pé de
apoio implica em pensar e procurar outras saídas. Felizmente existem cortes de
justiça além-fronteiras que, devidamente provocadas, podem pelo menos
constranger a inoperância da política interna e de algum modo manter a
visibilidade da nossa causa.
Você, caro trabalhador da
Varig, ao ler essas mal traçadas linhas de um colega seu, não pense na coisa
remota e distante que é buscar o apoio de uma corte internacional de justiça.
Pense, isto sim, na vida que deixou de viver nesses tristes anos de calote.
Pense no patrimônio que deixou de ser seu, no que foi obrigado a negar à sua família,
nas adaptações cruéis que teve de empreender para continuar vivendo... no seu
plano de saúde se já não o abandonou... como eu. Pense que dinheiro no Brasil
existe, parte dele produzido por nós, boa parte dele depositado por nós
trabalhadores da Varig para tentar viver decentemente uma velhice nesse país
tão ingrato.
“A punição que os bons sofrem,
quando se recusam a agir, é viver sob o governo dos maus”, (Platão).
Os passos para levar nossa
causa à Corte Interamericana de Direitos Humanos estão sendo dados. Nós ainda
somos milhares sofrendo. Sejamos milhares participando.
Um grande e esperançoso abraço
a todos,
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 2-7-2015
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Eu vejo todos os comentários sobre aposentadoria, mas em nenhum deles eu sinto falar sobre as outras aposentadorias.
ResponderExcluirTodas as funções públicas se aposentam integral e ninguém reclama disso.
O governo sequer toca no assunto, da previdência pública.
Por isso os esquerdopatas detestam americanos, naquele país somente o presidente têm aposentadoria integral pública, o resto todo é do serviço social.
E se o presidente exercer qualquer função pública perde o benefício.
Aqui a cada ano de 500 a 1000 políticos entram no mercado, e com 1 mandato já tem direito à aposentadoria, sem limite de idade.
Isso é crime, não há isonomia nessa merda.
fui...