
Assim, não adianta mentir ou
enganar-se com toques e retoques, pois a cada instante estamos mesmo,
cronologicamente, envelhecendo e isso vem ocorrendo desde o nosso nascimento. O
que sempre nos restará, é viver cada dia e um futuro incerto, se houver.
Com essa consciência, a virada
de páginas ou fases é fundamental para que o passado se torne apenas passado e
não nos machuque com as dores que já não poderão ser curadas e, por isso, devem
ser deixadas em sua época.
Outro dia li algo hilário, mas
bastante realista, de um homem que disse à sua esposa: “me use, estou
acabando”. O mesmo ocorre com tudo o que estiver à nossa volta: estará
acabando e por isso devemos viver, intensamente, todas as nossas amizades,
paixões, amores e tudo o que for possível, pois também serão finitas.
Há poucos dias, fiz uma viagem
de moto de aproximadamente três mil e quinhentos quilômetros entre a ida e a
volta e, anos atrás, já havia realizado outra em que, juntamente com minha
esposa à época percorremos, durante vinte e oito dias, praticamente o triplo
desta distância por quatro países.
Entretanto, nesta, percebi
nitidamente a diferença que fisicamente estes seis anos entre uma e outra me
provocaram. Fiz a primeira com uma disposição incomparável em relação a esta.
Agora, ao final de cada dia, estava exausto e só queria chegar ao hotel, tomar
um banho e dormir.
Lembro-me perfeitamente que no
último dia da primeira, percorremos duzentos quilômetros a mais que o previsto
só para concluí-la, pois estávamos com disposição para tal e chegamos ainda
bastante dispostos.
Em uma rede social onde vinha
postando fotos sobre a viagem que agora realizava, li um comentário de minha
filha sobre isso, dizendo que, apesar de feliz por ver o pai fazendo o que
gosta, estava com “o coração na boca”. Ela se referia ao fato de eu já haver
sofrido um acidente de moto que me levou a diversas cirurgias e para a cama por
dois anos. Meu filho também já fizera diversos comentários insinuando que eu certamente
poderia optar por um hobby menos arriscado.
Era o que precisava para
despertar em mim uma série de questionamentos sobre aquela minha aventura. Meu
tempo de viajar de moto acabara e eu não havia reconhecido isto. Estava
causando preocupações em meus filhos e – tinha de reconhecer – meu corpo já não
tinha a mesma destreza e disposição quanto na viagem anterior.
Muitos dizem que moto foi
feita para cair, que é perigosa e etc…, mas nada disso havia me chamado tanto a
atenção como o fato de ver meus filhos preocupados com a possibilidade da
repetição de algo que já havia ocorrido e que, realmente, havia sido difícil
para todos nós.
Pensando nisso, parei na maior
cidade por onde estávamos passando e lá deixei minha moto em consignação para
venda, fazendo os mil quilômetros restantes da viagem de avião. Foi uma decisão
dolorosa, triste porque gostava muito de viajar de moto, mas assim, virava uma
página da vida que eu não percebera que acabara e quando se escreve sua
história em uma página já finda, corre-se o risco de torná-la um rabisco
incompreensível para o próprio autor.
Reconhecer suas capacidades
e limitações é o pré-requisito para a longevidade, a felicidade e a paz.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal, Jornalista e empresário, 16-05-2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-