Depois de um ano inteiro de autonomia,
governadores e prefeitos não conseguiram sequer instalar leitos suficientes. É
a comprovação objetiva do fracasso
J.R Guzzo
No ano passado, o STF deu autonomia para Estados e municípios delinearam as estratégias de combate ao vírus chinês. Foto: Divulgação/Agência Brasil |
De uma vez só, e entre outras
coisas, os secretários querem a proibição das missas, o fechamento das salas de
aulas recentemente abertas, o fechamento dos bares, o fechamento das praias,
mais barreiras sanitárias e um inédito “toque de recolher nacional”, do
Oiapoque ao Chuí. Também querem, é claro, tornar legal o “estado de emergência”
— que, como se sabe, tem o extraordinário atrativo (para quem manda nos
governos) de permitir compras sem licitação — respiradores artificiais, por
exemplo, e você sabe o que mais.
A maior surpresa do pacote todo é essa nova reivindicação de uma “política nacional unificada” de combate à covid — especificamente, estão querendo o tal toque de recolher “nacional”. Como assim, “nacional”? É o exato contrário dos que eles mesmos exigiam um ano atrás — autonomia completa, sem interferência de cima, para gerir o tratamento da epidemia. Foram atendidos, nisso, pelo Supremo Tribunal Federal, que, na prática, deu aos governadores e aos prefeitos a responsabilidade exclusiva na área — ao proibir expressamente o governo federal de interferir em decisões sanitárias das autoridades locais.
Hoje, mais de 250 mil mortos
depois e com uma quantidade desconhecida de bilhões em dinheiro público gastos
para controlar a epidemia, constata-se, pelo que dizem os próprios secretários
de saúde, que o sistema entregue à sua gerência está à beira do colapso — após
um ano inteiro de autonomia, não conseguiram nem sequer instalar leitos
suficientes nas UTIs. Se isso não é a comprovação objetiva do fracasso das
autoridades estaduais e municipais, então o que seria? A situação não melhora
em nada, obviamente, quando se constata que nem eles estão de acordo entre si.
No exato momento em que os secretários da Saúde exigem o fechamento das
escolas, os secretários da Educação exigem que as salas de aula continuem
parcialmente abertas. Ambos, da Saúde e da Educação, obedecem aos mesmos
governos de Estado — quem está com a razão? Os dois não podem estar certos ao
mesmo tempo. É um ensaio de caos, mas os governadores dizem que está tudo bem
com o seu pedaço; a culpa, garantem todos, não é deles.
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