Decreto municipal proíbe abertura como forma de conter a pandemia
Vladimir Platonow
No primeiro sábado (6) após o decreto municipal que proíbe a abertura de quiosques, ambulantes e barraqueiros nas praias do Rio de Janeiro como forma de reduzir o fluxo de pessoas e conter a pandemia, a medida dividiu a opinião de turistas e cariocas. Alguns apoiam a restrição, outros reclamam de não ter onde comprar sequer uma água. Já os trabalhadores demonstram receio de perder o emprego.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil |
Para muitos, a medida foi
injusta ao permitir que bares e restaurantes permaneçam abertos, ainda que em
horário reduzido, embora sejam ambientes fechados, mais propensos à propagação
do coronavírus do que os quiosques, que funcionam ao ar livre.
“Tenho medo pelo nosso emprego
se continuar fechado. A gente fica ansioso. Acho que não adianta muito. O
restaurante, que é fechado, abre até às 17h. E a gente, que é ambiente aberto,
fica fechado. Não faz muito sentido”, lamentou Tiago Maia, ajudante de garçom,
que trabalha em um quiosque na Praia do Leme, junto a outros 22 funcionários.
Em frente aos quiosques
fechados, alguns trabalhadores permaneceram cuidando do patrimônio. Entre eles,
o medo de perder o emprego era grande. Alguns falaram à reportagem, mas sem se
identificar totalmente.
“Não entendi eles fecharem os quiosques. O meu emprego, com certeza, vai correr risco. Porque, se o quiosque ficar fechado, não vai ter como arcarem com o meu salário”, disse um funcionário que se identificou apenas como João, de um quiosque na Avenida Niemeyer, tradicionalmente frequentado por turistas, já que oferece uma ampla vista das praias do Leblon e de Ipanema.
Turistas
Enquanto isso, turistas que
não sabiam das restrições demonstram frustração, por não ter onde
comprar uma bebida para matar a sede.
“Atrapalha muito. O turismo
depende disso aí. A gente quer tomar um refrigerante, uma bebida e não tem. Não
adianta fechar os estabelecimentos. Quem tem de ter consciência é o
povo. É ruim para quem vem frequentar e é ruim para quem presta o serviço”,
reclamou Sebastião Resende, empresário do ramo de carnes, que veio do Mato
Grosso do Sul visitar o Rio com a esposa Juçara.
Outras pessoas preferiam que
tivesse sido adotada uma medida intermediária, como a redução no horário dos
quiosques ou do número de clientes, do que simplesmente fechá-los totalmente.
“Eu não estou achando que
adianta porque muita gente precisa trabalhar. Poderia botar uma regra, com
menos pessoas, em vez de parar tudo. Como as pessoas vão se manter? Fica
difícil”, disse Larissa Gomes de Souza, que trabalha passeando com cachorros na
praia do Leme.
Mas a medida também teve
apoiadores, preocupados com o aumento na transmissão da covid-19 no bairro.
“Eu acho que resolve. Qualquer
medida para minimizar a transmissão do coronavírus entre a população é
bem-vinda. Sou a favor. Não abrir os quiosques é mais para evitar que as
pessoas venham para a praia. E Copacabana está com um dos maiores índices de
transmissão”, disse Igor Rodrigues, que trabalha na área de tecnologia da
informação e passeava com o filho pequeno na carona da bicicleta.
Fiscalização
O secretário municipal de
Ordem Pública, Breno Carnevale, defendeu a medida, como forma de não incentivar
as pessoas a frequentarem as praias. Ele esteve pessoalmente coordenando as
ações de fiscalização na orla.
“Esta decisão é técnica, do
ponto de vista sanitário. A vigilância sanitária fez estudos e há demonstração
de que quiosques, ambulantes e pontos fixos na praia favorecem muito a
aglomeração de pessoas nas areias. E isso é um fator de gravidade para a
circulação do vírus”, disse Carnevale.
Enquanto os quiosques
permanecem fechados na orla, nas ruas internas, era grande a quantidade de
clientes nos bares e restaurantes, com pessoas bebendo próximas umas das
outras. Questionado sobre isso, o secretário se limitou a dizer que a
capacidade de atendimento especificada no decreto municipal é de 40% dos
clientes, mas não respondeu como será feita essa fiscalização.
Título e Texto: Vladimir
Platonow; Edição: Paula Laboissière – Agência Brasil, 6-3-2021, 16h30
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