sábado, 10 de abril de 2021

Antologia da cara de pau

Ciência é assim mesmo. Como a coisa não funciona, eles vão estender pelo tempo que for preciso até funcionar

Guilherme Fiuza


Como você já sabe, o mundo foi atingido por uma epidemia de falsa empatia e a expressão “salvar vidas” virou vírgula na boca de um exército de hipócritas que você sabia que existiam, mas não suspeitava que fossem tão numerosos. Em homenagem a esses caras de pau que fazem comício em cima do sofrimento alheio, selecionamos aqui o top 10 da desinibição pandêmica:

1. Perguntaram ao lendário dr. Anthony Fauci, uma espécie de Mandetta norte-americano, porque os casos de covid declinaram no Texas depois que o Estado desistiu do lockdown. O médico das estrelas respondeu que o que acontece no Texas é muito “confuso”. Ato contínuo, disse que está preocupado com a situação no Brasil e declarou que o país pode precisar de um lockdown. A ciência do dr. Fauci é como um ato de vontade: dá e passa.

2. O mesmo oráculo da pandemia acordou invocado um belo dia e espalhou a diretriz científico-circense recomendando o uso de duas máscaras (por pessoa). Ou seja: em lugar de um fator de proteção ineficaz, use dois. O vírus passa pela primeira máscara e quando vê que tem outra desiste, porque pressente que por trás dessa barreira está a cara de pau do doctor Fauci, e esta é inexpugnável.

3. Esse top 10 poderia ser todo para o prestidigitador Anthony Fauci, pai das diretrizes totalitárias fantasiadas de saúde que fazem a ditadura chinesa sorrir de orelha a orelha, mas vamos dedicar-lhe só mais um Oscar. Mesclada às suas especulações tenebrosas sobre se os seres humanos poderiam ou não voltar um dia a se cumprimentar com aperto de mão surgiu uma imitação graciosa feita pelo ator Brad Pitt simulando uma bronca de Fauci em Trump — o médico e o monstro. Fauci disse que gostou da caracterização. Todo apocalíptico curte uma galhofa.

4. O Supremo Tribunal Federal decidiu que a competência prevalente para regrar o funcionamento da sociedade dentro da crise sanitária é das autoridades locais. Mas bateu lá uma dúvida sobre se as igrejas poderiam abrir ou não e o STF resolveu matar no peito, como se diz nas altas várzeas. A regra é clara: a competência para decidir o que abre e o que fecha é da autoridade local, a não ser que me dê uma vontade enorme de dar a real aqui de Brasília mesmo.

5. Como você já sabe, a maior parte da imprensa cansou desse negócio de ser imprensa, que dá muito trabalho, e resolveu virar panfleto politicamente correto, até porque assim fica mais fácil bajular subcelebridades sem ter que fingir que está fazendo jornalismo. Para não pegar tão mal, inventaram essa figura histriônica dos “checadores” — cuja missão é basicamente sancionar a panfletagem, com a autoridade de quem foi ungido para sancionar panfletagem, portanto não há o que discutir. Foi assim que essa doce patrulha passou a afirmar que a decisão acima referida do STF tirando autoridade do governo federal na pandemia não tirou autoridade do governo federal na pandemia. É como nas duas máscaras de Fauci: pode faltar tudo a um cara de pau, menos convicção.

6. Foi assim que um dos luminares da junta de auditório de João Doria disse à imprensa amiga que o lockdown se estenderá “provavelmente” por mais “algum tempo”. Ciência é assim mesmo. Como a coisa não funciona, eles vão estender pelo tempo que for preciso até funcionar. Desinibição não vai faltar.

7. Enquanto não funcionar, se você estiver cansado desse teatro mórbido, pegue o seu avião particular e voe para Miami ou outro lugar qualquer sem lockdown. Se quiser sugestão de um bom pacote de viagem, peça ao Doria. Se você não tem avião, ou se você não tem onde cair morto, azar o seu. No clube da empatia não há lugar para perdedores.

8. Se estiver no Rio de Janeiro, passe longe da praia, senão a guarda do Eduardo Paes prende e arrebenta, como se dizia antigamente, principalmente se você for mulher. Dentro de uma academia cheia ou de um ônibus lotado você não apanha. O comitê científico do Duda descobriu que o ar puro faz mal à saúde.

9. Mande as crianças para a escola, de preferência a pé, porque chegando lá elas vão bater com a cara na porta depois de uma liminar de um juiz de plantão no domingo à noite, e aí elas pelo menos terão dado uma caminhada. Aprendizado escolar é capricho pequeno-burguês. O importante é ter seus filhos zanzando pela cidade às 7 da manhã protegidos pela ciência de fundo de quintal dos empáticos do Zoom, que decidem o que é melhor para a sua decadência.

10. Se você está preocupado com a sua saúde e não sabe o que pode te fazer mal, vá para o Rio Grande do Sul que o Eduardo Leite decide o que você pode consumir. E se você preferir não consumir nada vá para as ruas de Curitiba, que o Rafael Greca não permite essa bagunça de gente dando comida para quem tem fome.

Como ficou claro, dez flagrantes não dão nem para a saída numa antologia da cara de pau. Prometemos ampliar a seleção. Enquanto isso, na dúvida, siga o dr. Falso e seus pandeminions para saber exatamente o que não fazer.

Título e Texto: Guilherme Fiuza, revista Oeste, nº 55, 9-4-2021 

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