Alexandre Garcia
Mais um 7 de Setembro. A comemoração oficial, em Brasília, foi diante do Palácio Alvorada com hasteamento da bandeira. Depois, no decorrer do dia, vieram as manifestações pedindo liberdade, pedindo que o Supremo, em especial um ministro do Supremo, cesse as restrições às liberdades, às garantias e direitos fundamentais – como o direito de ir e vir, o direito de opinião e, sobretudo, à liberdade de expressão e o veto à censura, previstos todos na Constituição.
Foto: Fernando Bizerra/EFE/Gazeta do Povo |
O presidente Jair Bolsonaro,
tanto em Brasília quanto na Avenida Paulista (em São Paulo), disse, com o
testemunho da multidão, que a partir de agora não serão mais cumpridas ordens
que estejam fora da Constituição. Aliás é dever dele, é obrigação dele porque
ele jurou no dia da posse cumprir, manter e defender a Constituição – juramento
previsto no artigo 78 da mesma que, se ele não cumprir, pode levá-lo a um
impeachment.
É uma questão para o Supremo e
o ministro Alexandre de Moraes considerar: humildade para reconhecer os
problemas desse inquérito do fim do mundo - como chamou o ex-ministro da Corte
Marco Aurélio Mello. O Supremo está esticando a corda. Está reagindo à crítica
desconhecendo que ele é um poder da República e que todo poder da República (em
democracias) está sujeito a crítica.
Se houver ameaças - ameaças
realmente concretas, que não sejam só saliva - elas têm que ser enquadradas (se
tiver injúria, calúnia, difamação, tem código penal para isso) e não ficar
sujeitas ao arbítrio de um inquérito em que o próprio ofendido é quem julga,
investiga e manda prender.
Ainda nesta terça, um
americano que veio ao Brasil para a Conferência de Ação Política Conservadora
(Cpac), ex-assessor do presidente Donald Trump, foi detido no aeroporto de
Brasília para prestar depoimento. Segundo notícias ele participou de
manifestações antidemocráticas no Brasil. Como assim? Ele chegou faz dois, três
dias. E nesses últimos dias não houve nenhuma manifestação antidemocrática no
Brasil. Houve lá atrás: queimaram a bandeira nacional, quebraram agência
bancária, jogaram pedra na polícia, quebraram ponto de ônibus, tocaram fogo em
estátua, mas ele não estava aqui naquele momento. Estranho isso.
Público nas manifestações:
a grande discussão.
Aqui vem a palavra do experiente narrador esportivo Milton Neves: “uma lição antiga do jornalismo é: não brigue com a imagem”. E eu acrescento, quem brigar com a imagem vai perder credibilidade e credibilidade a gente leva anos para recuperar quando perde. Fica feio dizer uma coisa sobre a Avenida Paulista quando a imagem está mostrando outra. Falar sobre Copacabana e a imagem mostra outra coisa, Esplanada dos Ministérios, a imagem mostra outra coisa.
Vale do Anhangabaú (em São
Paulo), Torre de Tevê (em Brasília), Centro do Rio de Janeiro - pontos de
concentração de manifestações contrárias ao governo nesta terça. Dizer uma
coisa e a imagem está mostrando outra. Fica muito feio e tem gente que jogou pá
de cal na credibilidade nesta terça. Uma pena.
A mentira do "fique em
casa"
Outra questão a ser relatada
é, como disse o jornalista Cláudio Humberto, a mentira da violência.
Pregaram no noticiário que
haveria violência para assustar as pessoas, para que ficassem em casa. É o
mesmo "fique em casa" do "fecha seu emprego", "perca
seu emprego", "toque a sua empresa na falência" que se viu na
pandemia, a mesma coisa. E o que se viu não foi nada disso. Foi uma
manifestação ordeira, pacífica, patriótica, pela liberdade, sem bandeiras
partidárias e que serve de exemplo.
Tomara que no ano que vem, nos
200 anos na Independência, a gente possa repetir uma grande festa cívica, do
povo brasileiro, de fortalecimento da democracia, pedindo que todos, sem
exceção, cumpram a Constituição brasileira - já que todos sabemos ler, temos
acesso à Constituição pelas redes sociais e sabemos muito bem quando há gente
que a desrespeita.
Título e Texto: Alexandre
Garcia, Gazeta
do Povo, 7-9-2021, 22h41
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