segunda-feira, 1 de novembro de 2021

[Observatório de Benfica] Boa noite, Professor!

Mário Florentino

E se o professor Marcelo, comentador político, tivesse feito um comentário televisivo na noite de ontem sobre a atualidade política em Portugal. Seria mais ou menos assim:

“- Boa noite, Professor!

- Boa noite, Judite. Então hoje temos muito para falar da atualidade política nacional. Mas você está muito elegante, parabéns. Então avancemos que isto foi uma semana de muitos acontecimentos. Já falámos na semana passada sobre o chumbo do orçamento, vejamos hoje a crise nos partidos da direita e o que pode o Presidente Marcelo fazer a seguir.

- Primeiro, o CDS. Ora bem, o CDS parece um saco de gatos em que ninguém se entende. Já sabemos que o Chicão fez aquele número de, primeiro queria antecipar o congresso, agora já quis adiar o congresso, enfim, uma grande trapalhada, que as pessoas não endentem. E depois há aquela gente toda à volta do Nuno Melo, que está a debandar e a deixar o partido. Mas, ó Judite, deixemos por agora o CDS, que já não conta muito, pois as sondagens só lhe dão um por cento, e por este andar – e com muita pena minha – parece que vai mesmo desaparecer.

E passemos para o PSD, o meu partido, partido do qual fui líder, há muitos anos. Ora bem, aqui o problema é o seguinte. O PSD estava preparado para ir a eleições em 2023, e não estava à espera disto. E haveria eleições normais, para a liderança do PSD, regulares, já marcadas. Ora Paulo Rangel, recorde-se, apresentou a candidatura normalmente, tudo regular, a essas eleições. E depois é que apareceu a crise política – um pouco precipitada pelo Presidente Marcelo, em minha opinião mal, mas já lá vamos. Ora, num contexto de crise política, e havendo quem se tenha candidatado, não faz sentido não haver disputa interna, e Rui Rio deve ir a votos. Deve deixar os militantes se pronunciarem, ó Judite, é assim, porque se não for assim ficará sempre a suspeita: “olha, o tipo não quis eleições, porque tinha medo de perder”, e fica fragilizado. É assim, em política é assim, é assim, é assim. Deve sempre dar-se a palavra aos militantes. Olhe quando eu fui líder do PSD, lembra-se? Quantas vezes é que eu fui a votos internamente? E fiz muito bem, porque depois saí sempre dos congressos reforçado. Rui Rio deve fazer o mesmo agora. E eu acho que o Rui Rio ainda não percebeu isso, dá um pouco a ideia – e isso é mau – que ele está agarrado à cadeira. Olhe, ele aí está um pouco a lembrar-me o António Costa, que também é muito agarrado ao poder, olhe, já desde o tempo da associação de estudantes de direito ele era assim…

Quanto ao Presidente Marcelo. Ora bem, ele cometeu dois erros crassos, a meu ver. O primeiro foi, e eu disse aqui na altura, não ter obrigado os partidos da Geringonça a um acordo escrito. Se o tivesse feito, como fez o Presidente Cavaco, não tínhamos agora esta crise política. Eu avisei, muita gente avisou, porque aqueles dois partidos de esquerda não são de confiança. Não são, ó Judite, não são, não são e não são… Como você sabe, e toda a gente sabe. Porque são partidos de protesto. O segundo erro foi o presidente Marcelo ter dito logo à cabeça que iria dissolver o Parlamento. Como eu digo nas minhas aulas aos meus alunos, quando o orçamento não passa, não é obrigatório dissolver o orçamento, há outras soluções. E isto foi um erro por quê? Porque ele disse aquilo, avisou: “vejam lá, portem-se bem, seus meninos marotos, senão eu dissolvo…” - mas nunca pensou que chumbasse mesmo. Sempre pensou que à última hora, ou o BE ou o PC, o iriam salvar. E ainda fez aquela figura triste de, na véspera, andar a telefonar para a Madeira, a tentar arranjar ali um “queijo limiano” à última hora, como fez o meu amigo Guterres. E agora? Agora ficou com este berbicache nas mãos. Agora preferia não dissolver, mas vai ter de dissolver, sob pena de não cumprir a palavra. Vai ter mesmo de dissolver, vai, vai e vai, ó Judite, vai! Não tem outra hipótese.

Portanto há aqui um problema de fundo que Marcelo tem em mãos, que é escolher a data das eleições. Ora, o problema é o seguinte. basicamente, há duas datas possíveis: ou 16 de janeiro, ou 30 de janeiro. Se escolhe 16 de janeiro, como quase todos os partidos preferem – exceto o Iniciativa Liberal, que este muito bem, dou aqui os meus parabéns ao deputado Cotrim de Figueiredo – é mau, porque há muito pouco tempo para os debates, fica muito em cima do Natal, e – pior que tudo – fica a ideia que estão todos com medo do Paulo Rangel. Se escolher 30 de janeiro, também não é bom, porque vão dizer que escolheu uma data contra quase todos os partidos, e que está a preferir o Rangel. Portanto não vai ser fácil esta decisão. Ah, e já me esquecia, ó Judite, você viu aquilo que ele fez? Então com os jornalistas atrás, logo a seguir ao chumbo, vai dar uma volta ao Palácio, para depois ir ao multibanco? Ao multibanco pagar a conta da luz? Isto não lembra ao careca. Sinceramente, aquele presidente Marcelo… O que é que ele quis mostrar com aquilo? Ninguém entende? Você entendeu, Judite? Não entendeu! Pois, eu também não…

Sabe que isto, presidente em último mandado, cada dia que passa é “mais um dia para a morte certa”, fim de mandato, e Marcelo quer sair bem-visto, com popularidade em alta. Com crises políticas não é fácil, não vai ser fácil. Pois é, meu amigo Presidente Marcelo, isto de ser Presidente da República não é só tirar selfies e ir ao multibanco. Agora vai ser a doer. E ficamos por aqui, Judite, para a semana há mais. Boa semana. Ah, e tenho aqui uma prenda para si, já me esquecia…

- Boa noite, professor Marcelo. Para a semana cá estamos e vamos comentar a decisão do Presidente, depois de ouvir o Conselho de Estado. Boa noite.”

Fica BEM 👍

Miguel Morgado. Agora que se fala tanto em coligação à direita, seja coligação pré-eleitoral (até Rui Rio, que sempre foi próximo do PS, parece agora querer isso, quem diria?...), seja pós-eleitoral, é justo elogiar o Miguel Morgado, porque foi a primeira pessoa a referir que só com uma grande união de toda a direita e centro-direita é que se conseguirá afastar o PS do poder. E inclusivamente criou o “Movimento 5.7”, com esse objetivo expresso, recordando a AD de Sá Carneiro e Freitas do Amaral. Tinha razão. 

Fica MAL 👎

Ivo Rosa foi sorteado para ser juiz de instrução do caso BES. Os acusados de crimes económicos já sabem que têm 50% de probabilidade de serem inocentados. O Sorteio é uma espécie de “moeda ao ar”. Quando lhes sai cara (Carlos Alexandre), ficam preocupados. Quando lhes sai coroa (o “amigo Ivo”), podem festejar e abrir garrafas de champanhe. Parece que, quando soube da notícia, Ricardo Salgado festejou tanto que até se esqueceu que tinha Alzheimer e telefonou a todos os outros arguidos para festejarem com ele.

Título e Texto: Mário Florentino, Benfica, 1 de novembro de 2021

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Um comentário:

  1. Marcelo & ministro da Defesa, Sociedade Anónima de Irresponsabilidade Ilimitada
    * ”Decorreram sob sigilo.” Marcelo diz que não soube de investigações aos comandos. Marcelo Rebelo de Sousa, que é chefe supremo das Forças Armadas, adianta que não sabia, nem era suposto que soubesse, do caso que desencadeou uma megaoperação da PJ

    * Marcelo depõe no caso Tancos, diz que só soube do aparecimento das armas pela comunicação social.

    * Exoneração do chefe do Estado-Maior da Armada? Marcelo sabia, mas não sabia que se sabia e não sabia que o Governo escolhera o momento para se saber.
    Helena Matos, 9-11-2021

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