Rodrigo Constantino
"Ofensiva contra urnas
envolveu Abin e generais Ramos e Heleno, aponta PF". Eis o título em
destaque na Folha de SP, cujo subtítulo diz: "Depoimentos mostram que
general e agência buscam desde 2019 dados contra sistema eleitoral". E
isso, claro, é tratado pela mídia ativista como um "ataque" ao
sistema eleitoral.
Pergunta: qual instituição é
mais confiável pela ótica do povo, o TSE ou o Exército? Várias pesquisas
mostram que são nossas Forças Armadas em geral que gozam de prestígio popular,
enquanto o STF/TSE não chega a ser admirado nem de perto. Por que, então, nossa
imprensa militante tem tratado a busca por maior transparência no sistema
eleitoral como golpe?
As várias questões levantadas
pelos militares deveriam ser louvadas por jornalistas, como uma tentativa
patriótica e democrática de melhorar nosso modelo opaco. Mas não! Preferem
embarcar numa narrativa de que os militares se transformaram em capachos de
Bolsonaro, e que este é um golpista, do que simplesmente admitir o óbvio: as
urnas são falhas!
Ou teremos de acreditar que Brasil, Butão e Bangladesh são mais avançados do que Estados Unidos, França, Inglaterra, Canadá e Japão! Nossa urna de primeira geração é obsoleta, e não é por acaso que países muito mais ricos e desenvolvidos se recusam a adotar tal mecanismo. Querem a materialidade do voto, além da possibilidade de aferição pública, para dar confiança ao pleito. O TSE nega uma "sala secreta", e a imprensa vibra, mas não era o que a Globo dizia antes:
E eis o cerne da questão aqui: todas as respostas técnicas do TSE às sugestões dos militares mostram o grau de complexidade da coisa toda! É linguagem que até nerd de TI pode ter dificuldade de decifrar na íntegra. Pode um sistema tão "misterioso" ficar na mão de tão pouca gente assim? Se nem as Forças Armadas "compreendem" as fantásticas ferramentas de segurança criadas pelos técnicos do TSE, como poderá o povão confiar nesse sistema? O eleitor médio deve simplesmente delegar toda a confiança aos funcionários do TSE?
Isso nos remete ao conto
"As roupas novas do imperador", do dinamarquês Hans Christian
Andersen. Somente aqueles muito inteligentes, os "especialistas",
podem enxergar as belas roupas da nossa urna eletrônica. Até que uma criança
aponta para as eleições francesas realizadas com papel e diz: "o imperador
Xande está nu".
Mas vamos confinar em Fachin,
que foi garoto-propaganda de Dilma e simpatizante do MST; no Barroso, que
considera Bolsonaro um "inimigo do mal", enquanto julga o terrorista
Cesare Battisti um inocente e João de Deus alguém com poder transcendente; ou
ainda o próprio Alexandre, que vai presidir o TSE durante a eleição, e que não
cansa de perseguir bolsonaristas com inquéritos ilegais e sempre ao arrepio da
Constituição. Vamos confiar nessa turma, basicamente com a repetição cansativa
de Barroso: "la garantia soy yo".
Todas as falas e ações desses
ministros apenas alimentam mais ainda a desconfiança popular no sistema. Eles
agem como políticos de oposição ao atual governo, são ativistas que querem
"empurrar a história", demonizam o presidente o tempo todo, e não se
incomodam de avançar sobre outros poderes para impedir mudanças no sistema
eleitoral. Colocaram a urna eletrônica como algo sacrossanto, como cláusula
pétrea, e quem contestar a lisura do processo pode já estar incorrendo em
crime! Que absurdo é esse?!
Quem quiser acreditar
cegamente nos tecnocratas desconhecidos do TSE, em seus ministros ativistas, ou
na imprensa militante que normalizou até a candidatura do ladrão petista está
livre para tanto. Mas saibam que a imensa maioria da população está atenta e
prefere confiar nas Forças Armadas, no bom senso e no exemplo de países mais
avançados que recusa esse modelo fechado e obscuro. Talvez eu não seja tão
inteligente para ver as lindas roupas invisíveis do imperador. Mas o que
enxergo é claro: o imperador está é nu mesmo!
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, Gazeta do Povo, 10-5-2022, 9h59
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