Paulo Hasse Paixão
Depois de Tucker Carlson ter revelado extensos segmentos dos ficheiros de vídeo de circuito fechado
do Congresso referentes aos acontecimentos de 6 de Janeiro de 2021, que foram,
26 meses depois dos acontecimentos, finalmente tornados públicos pela Câmara do
Representantes e que contam uma história muito diferente daquela que foi
criteriosamente injetada nas mentes dos americanos em particular e dos públicos
globais em geral, a reação dos poderes instituídos não se fez esperar.
O que vemos nas imagens selecionadas
pelo anfitrião do horário nobre da Fox News são pessoas desarmadas, de uma
maneira geral manifestando uma atitude pacífica e respeitadora, passeando com
ar de turistas pelo interior do Congresso e sem serem incomodadas pelas forças
de segurança, que estão presentes, mas não reagem. Tiram fotos, apreciam obras
de arte e peças de mobiliário, caminham por corredores e salas. Não há caos, o
vandalismo é episódico, anedótico ou insubstantivo e tudo parece decorrer de
forma até tranquila. A polícia escolta os manifestantes, abrindo portas que não
estão trancadas, e tentado até abrir as que estavam trancadas, num convite à
visita guiada, isto apesar dos intrusos terem depois sido submetidos a penas de
prisão que chegaram aos 4 anos de duração.
Os ficheiros vídeo revelam
ainda que o agente da polícia do capitólio Brian Sicknick, que a imprensa mainstream e
os comissários do Partido Democrata tinham falsamente declarado como vítima
mortal dos acontecimentos no Capitólio, estava vivo da silva e muito tranquilo
nos seus afazeres enquanto o motim decorria. Apesar de todos sabermos, ou
devermos saber, que só morreu uma pessoa nos incidentes de 6 de Janeiro – a
manifestante Ashli Babbitt, assassinada por um outro agente policial –, apesar
de todos sabermos, ou devermos saber, que Brian Sicknic morreu um dia depois de
causas naturais (acidente cardiovascular), ainda esta terça-feira a porta voz
da Casa Branca insistia na mentira flagrante, como se a ala oeste da
residência presidencial vivesse num universo paralelo, para sempre tangente à
verdade dos factos.
As imagens mostram ainda que os manifestantes foram conduzidos, excitados e manipulados por elementos infiltrados do FBI como Ray Epps, sabe-se lá com que golpistas intenções e em nome de que obscuros interesses.
Este footage é
agora público e cada um pode tirar as conclusões que quiser. E isso devia ser
positivo, não é? Se os acontecimentos de 6 de janeiro foram assim tão graves
como as elites dirigentes de Washington gritaram aos quatro ventos durante os
últimos dois anos, nada como exibi-los perante o tribunal da opinião pública. A
verdade não precisa de árbitros e muito menos de falsários como aqueles que
infestam as redacções dos jornais e os gabinetes do Congresso americano. A luz
do dia é o melhor desinfetante, como muito bem afirma Tucker.
A verdade, esse bem raro no
mercado mediático contemporâneo, é que em países livres os governos não devem
mentir sobre a dimensão e a gravidade e as intenções de protestos políticos de
forma a conseguirem mais poderes do que aqueles que lhes são dados pelos
fundamentos constitucionais e pelo estado de direito. Os políticos respeitáveis
de um sistema democrático minimamente funcional não devem colaborar com a
imprensa para editar seletivamente e emitir, com o despudorado furor dos seus
fins propagandísticos, imagens que distorcem a realidade dos acontecimentos
políticos e sociais. Nem devem mentir sobre esses acontecimentos em inquéritos
fantoche e tribunais sumários. Mas foi isso mesmo que aconteceu.
E em vez de se perguntarem
porque é que assim aconteceu e como é que aconteceu assim, os líderes dos dois
partidos representados no senado vieram, no habitual e arrepiante uníssono a
que as elites estão a submeter o discurso político nos tempos que correm,
afirmar que a divulgação das imagens por Tucker Carlson é um atentado à
democracia, aproveitando para apelar ao cancelamento do seu programa que, já
agora, é só o talk show mais visto na história da televisão por cabo.
Entregar ao público imagens
que revelam o que se passou de facto no interior do Capitólio a 6 de janeiro é
mau para a democracia. Porque as pessoas são cegas ou estúpidas ou débeis
mentais e não sabem interpretar imagens de um circuito fechado de vídeo. Porque
o conceito de democracia dos líderes políticos em Washington é cada vez mais
parecido com aquele que os ditadores acarinham: para proteger as massas, há que
lhes retirar o acesso à realidade.
Chuck Schummer, o insuportável
líder da maioria democrata no Senado, não contestou sequer a assertividade e
autenticidade e fiabilidade das imagens que Tucker emitiu na segunda-feira
passada. A única coisa que fez foi insistir que a sua narrativa não pode ser
negada e como as imagens a contrariam, há que exigir à família Murdoch,
proprietária da Fox News, o imediato silenciar de Tucker. Em nome da
democracia. Convenhamos, não é todos os dias que um líder político apela
abertamente à erradicação da Primeira Emenda na assembleia senatorial, como se
isso fosse normal e não entrasse em conflito direto com o espírito e a letra da
Constituição americana.
No discurso patético de
Schummer, a histeria, o ódio e o medo são óbvios e característicos dos
mentirosos que são apanhados a mentir. As imagens desmentem toda a fábula
propagada pelos poderes instituídos em Washington nos últimos 24 meses e esse
dedo-parafuso que escarafuncha na ferida pútrida do grande pântano americano
causa dores excruciantes.
O problema é que Schummer não
protestou sozinho. A sua indignação de aldrabão profissional foi acompanhada
por Mitch McConnell, a eterna ratazana que lidera a minoria republicana no
senado, e por outros comissários RINO (Republicans Only in Name). E este será,
talvez, o mais preocupante dos factos.
O uníssono das lideranças
partidárias, aberrante em qualquer sistema democrático, é deveras assustador
porque conduz à questão tantas vezes colocada aqui no
ContraCultura: o déficit de representação a que assistimos nas sociedades
ocidentais. Republicanos e democratas, com as poucas excepções de
representantes populistas presentes no Congresso, defendem os mesmos interesses
corporativos, alinham nos mesmos princípios globalistas, lutam para manter os
mesmos privilégios e cospem os mesmos slogans do ambientalismo apocalíptico,
enquanto recusam em sintonia servir os interesses dos seus eleitores.
Estão todos de acordo na
mentira, no embuste e na propaganda. Estão unidos contra as massas, que
castigam e temem. Nos Estados Unidos da América, com em vastas regiões do
mundo, o partidarismo é uma ilusão.
Título e Texto: Paulo Hasse Paixão, ContraCultura, 10-3-2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não aceitamos/não publicamos comentários anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-