sábado, 11 de março de 2023

6 de janeiro: o Império contra-ataca

Paulo Hasse Paixão

Depois de Tucker Carlson ter revelado extensos segmentos dos ficheiros de vídeo de circuito fechado do Congresso referentes aos acontecimentos de 6 de Janeiro de 2021, que foram, 26 meses depois dos acontecimentos, finalmente tornados públicos pela Câmara do Representantes e que contam uma história muito diferente daquela que foi criteriosamente injetada nas mentes dos americanos em particular e dos públicos globais em geral, a reação dos poderes instituídos não se fez esperar.

O que vemos nas imagens selecionadas pelo anfitrião do horário nobre da Fox News são pessoas desarmadas, de uma maneira geral manifestando uma atitude pacífica e respeitadora, passeando com ar de turistas pelo interior do Congresso e sem serem incomodadas pelas forças de segurança, que estão presentes, mas não reagem. Tiram fotos, apreciam obras de arte e peças de mobiliário, caminham por corredores e salas. Não há caos, o vandalismo é episódico, anedótico ou insubstantivo e tudo parece decorrer de forma até tranquila. A polícia escolta os manifestantes, abrindo portas que não estão trancadas, e tentado até abrir as que estavam trancadas, num convite à visita guiada, isto apesar dos intrusos terem depois sido submetidos a penas de prisão que chegaram aos 4 anos de duração.

Os ficheiros vídeo revelam ainda que o agente da polícia do capitólio Brian Sicknick, que a imprensa mainstream e os comissários do Partido Democrata tinham falsamente declarado como vítima mortal dos acontecimentos no Capitólio, estava vivo da silva e muito tranquilo nos seus afazeres enquanto o motim decorria. Apesar de todos sabermos, ou devermos saber, que só morreu uma pessoa nos incidentes de 6 de Janeiro – a manifestante Ashli Babbitt, assassinada por um outro agente policial –, apesar de todos sabermos, ou devermos saber, que Brian Sicknic morreu um dia depois de causas naturais (acidente cardiovascular), ainda esta terça-feira a porta voz da Casa Branca insistia na mentira flagrante, como se a ala oeste da residência presidencial vivesse num universo paralelo, para sempre tangente à verdade dos factos.

As imagens mostram ainda que os manifestantes foram conduzidos, excitados e manipulados por elementos infiltrados do FBI como Ray Epps, sabe-se lá com que golpistas intenções e em nome de que obscuros interesses.

Este footage é agora público e cada um pode tirar as conclusões que quiser. E isso devia ser positivo, não é? Se os acontecimentos de 6 de janeiro foram assim tão graves como as elites dirigentes de Washington gritaram aos quatro ventos durante os últimos dois anos, nada como exibi-los perante o tribunal da opinião pública. A verdade não precisa de árbitros e muito menos de falsários como aqueles que infestam as redacções dos jornais e os gabinetes do Congresso americano. A luz do dia é o melhor desinfetante, como muito bem afirma Tucker.

A verdade, esse bem raro no mercado mediático contemporâneo, é que em países livres os governos não devem mentir sobre a dimensão e a gravidade e as intenções de protestos políticos de forma a conseguirem mais poderes do que aqueles que lhes são dados pelos fundamentos constitucionais e pelo estado de direito. Os políticos respeitáveis de um sistema democrático minimamente funcional não devem colaborar com a imprensa para editar seletivamente e emitir, com o despudorado furor dos seus fins propagandísticos, imagens que distorcem a realidade dos acontecimentos políticos e sociais. Nem devem mentir sobre esses acontecimentos em inquéritos fantoche e tribunais sumários. Mas foi isso mesmo que aconteceu.

E em vez de se perguntarem porque é que assim aconteceu e como é que aconteceu assim, os líderes dos dois partidos representados no senado vieram, no habitual e arrepiante uníssono a que as elites estão a submeter o discurso político nos tempos que correm, afirmar que a divulgação das imagens por Tucker Carlson é um atentado à democracia, aproveitando para apelar ao cancelamento do seu programa que, já agora, é só o talk show mais visto na história da televisão por cabo.

Entregar ao público imagens que revelam o que se passou de facto no interior do Capitólio a 6 de janeiro é mau para a democracia. Porque as pessoas são cegas ou estúpidas ou débeis mentais e não sabem interpretar imagens de um circuito fechado de vídeo. Porque o conceito de democracia dos líderes políticos em Washington é cada vez mais parecido com aquele que os ditadores acarinham: para proteger as massas, há que lhes retirar o acesso à realidade.

Chuck Schummer, o insuportável líder da maioria democrata no Senado, não contestou sequer a assertividade e autenticidade e fiabilidade das imagens que Tucker emitiu na segunda-feira passada. A única coisa que fez foi insistir que a sua narrativa não pode ser negada e como as imagens a contrariam, há que exigir à família Murdoch, proprietária da Fox News, o imediato silenciar de Tucker. Em nome da democracia. Convenhamos, não é todos os dias que um líder político apela abertamente à erradicação da Primeira Emenda na assembleia senatorial, como se isso fosse normal e não entrasse em conflito direto com o espírito e a letra da Constituição americana.

No discurso patético de Schummer, a histeria, o ódio e o medo são óbvios e característicos dos mentirosos que são apanhados a mentir. As imagens desmentem toda a fábula propagada pelos poderes instituídos em Washington nos últimos 24 meses e esse dedo-parafuso que escarafuncha na ferida pútrida do grande pântano americano causa dores excruciantes.

O problema é que Schummer não protestou sozinho. A sua indignação de aldrabão profissional foi acompanhada por Mitch McConnell, a eterna ratazana que lidera a minoria republicana no senado, e por outros comissários RINO (Republicans Only in Name). E este será, talvez, o mais preocupante dos factos.

O uníssono das lideranças partidárias, aberrante em qualquer sistema democrático, é deveras assustador porque conduz à questão tantas vezes colocada aqui no ContraCultura: o déficit de representação a que assistimos nas sociedades ocidentais. Republicanos e democratas, com as poucas excepções de representantes populistas presentes no Congresso, defendem os mesmos interesses corporativos, alinham nos mesmos princípios globalistas, lutam para manter os mesmos privilégios e cospem os mesmos slogans do ambientalismo apocalíptico, enquanto recusam em sintonia servir os interesses dos seus eleitores.

Estão todos de acordo na mentira, no embuste e na propaganda. Estão unidos contra as massas, que castigam e temem. Nos Estados Unidos da América, com em vastas regiões do mundo, o partidarismo é uma ilusão.

Título e Texto: Paulo Hasse Paixão, ContraCultura, 10-3-2023

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