sábado, 4 de março de 2023

A mídia é racista

É muito triste ver indivíduos negros e brancos detonando grupos inteiros de pessoas com base nesse conceito racial, e pregando o afastamento do convívio interracial como solução para o problema


Rodrigo Constantino

O homem mais rico do mundo, o empreendedor Elon Musk, despertou a revolta dos principais veículos de comunicação nesta semana, uma vez mais. O dono do Twitter, odiado pela imprensa “woke”, acusou a mídia mainstream de ser racista. O contexto era a reação a uma fala desastrada e racista do cartunista Scott Adams. A imprensa afirmou que Musk saiu em defesa do criador de Dilbert, mas isso é “fake news”: ele simplesmente apontou para o duplo padrão da própria imprensa, com toda razão.

Scott Adams [foto] fez uma declaração totalmente infeliz e, sim, racista. Com base numa pesquisa da Rasmussen, que revela que quase metade dos negros não considera okay alguém ser branco, Adams declarou que isso era algo estrutural (questionável) e assustador (correto) e que a única saída para um branco seria não andar mais com negros (absurdo e racista).

Adams foi cancelado, perdeu espaço em todos os jornais que ainda publicavam suas tiras, e vem sendo alvo de duros ataques. A fala foi abjeta mesmo, ainda que muita gente esteja tirando do contexto e ignorando a pesquisa que ele menciona antes. Agora podemos fazer um exercício hipotético: imaginar um negro dizendo a mesma coisa com base numa pesquisa invertida.

Qual seria a reação se um negro, com base numa pesquisa que revelasse que cerca de metade dos brancos não considera okay ser negro, afirmasse que a única possibilidade é se afastar de brancos? Ele provavelmente receberia destaque positivo no NYT, seria entrevistado por vários canais como um corajoso herói. E é esse duplo padrão que tem sido o grande responsável pelo aumento do racismo no país. E foi isso que Musk denunciou.

Tanto que o bilionário chamou a atenção para o fato de que os asiáticos costumam ser alvo de racismo, e a imprensa nada fala a respeito. Os asiáticos, como já mostrou o economista Thomas Sowell, são a grande pedra no sapato dos movimentos raciais que culpam o racismo estrutural do sistema supostamente dominado pelos brancos. Se a tal supremacia branca é responsável pela exploração e pela desigualdade, colocando os negros como mais pobres, então como explicar os “amarelos” que despontam na América?

Por algum motivo bizarro, os movimentos raciais passaram a acreditar que reforçar o conceito da raça e, pior ainda, segregar as pessoas com base nisso seria um método inteligente para combater o racismo

Ben Shapiro mostrou em seu show várias falas de comentaristas da mídia mainstream que, se fossem invertidas e sobre os negros, seriam imediatamente rotuladas como racistas e haveria graves consequências para seus autores. Para muita gente da imprensa “progressista”, está tudo bem demonizar todo um grupo de pessoas com base na cor da pele, desde que sejam brancos.

É aceitável, para essa turma, fazer piadas com brancos, mas não com negros, pois a pancada do humor deve ser sempre de baixo para cima, ou seja, de quem tem menos para quem tem mais poder. Uma visão racista em si, que enxerga não indivíduos, mas grupos monolíticos e estanques. Ou alguém vai defender que o branco trabalhador do chão de fábrica é mais poderoso do que o ex-presidente Obama?

Não dá para achar normal ou legal alguém se referir a uma pessoa como “demônio branco” só por sua cor da pele. Não é aceitável rotular todo um grupo de pessoas como desprezível só por serem brancas. A The Cut, publicação da New York Magazine, fez um vídeo entrevistando negros e perguntando em que brancos são superiores. A lista é abominável: em opressão, em mentiras, em violência, em roubar etc. Imaginem se um grupo de brancos se referisse assim a negros só por serem negros…

Martin Luther King Jr. tinha um sonho: o de viver num mundo em que as pessoas fossem julgadas por seu caráter, não pela cor de sua pele. Um nobre ideal, sem dúvida. Por algum motivo bizarro, os movimentos raciais passaram a acreditar que reforçar o conceito da raça e, pior ainda, segregar as pessoas com base nisso seria um método inteligente para combater o racismo. O tiro saio pela culatra, óbvio.

Quando Jon Stewart, o famoso comediante esquerdista, acha graça de uma convidada branca que diz que todos os brancos, sem exceção, são responsáveis pelo racismo estrutural no país, isso é descolado. Mas podemos apenas pensar qual seria a reação se a fala trocasse branco por negro. Quando um convidado negro afirma, na MSNBC, que os brancos agem com violência quando perdem na política, isso é considerado sabedoria, mas basta trocar o sinal para enxergar o racismo evidente em generalizar dessa forma abjeta o comportamento das pessoas.

Não existe o “racismo do bem”, como querem os esquerdistas identitários. Até 2014, cerca de 70% da população norte-americana, segundo o Gallup, considerava desejável o relacionamento interracial. Isso valia tanto para negros como brancos. Desde então, a taxa começou a despencar, e hoje oscila em torno de 40%, para ambas as “raças”. O que mudou? Talvez possamos buscar a resposta no próprio movimento racial, que vem investindo pesado na segregação com base na cor e jogando uns contra os outros, normalizando o ódio racial se for voltado contra brancos. Talvez Obama tenha parcela de culpa, por ter utilizado a cartada racial de forma sensacionalista e acirrado os ânimos, em vez de representar a superação da questão racial na América, como havia prometido.

É muito triste ver indivíduos negros e brancos detonando grupos inteiros de pessoas com base nesse conceito racial, e pregando o afastamento do convívio interracial como solução para o problema. Racismo é quando uma característica do indivíduo, no caso a “raça” — ou a cor da pele, para ser mais preciso —, acaba tendo predominância sobre todo o resto. Formam-se, assim, grupos monolíticos com base nesse único quesito estético, como se todos os brancos ou todos os negros fossem iguais. Absurdo total, claro.

E, ao tomar o partido dos mais radicais desses movimentos raciais, que pedem “reparação” como vingança e condenam todos os brancos pelos males da nação, a imprensa demonstra ser racista mesmo. Elon Musk está certo, portanto: a mídia, em geral, é racista. Isso não quer dizer, por coerência óbvia, que todos os jornalistas são racistas. Mas, sim, que eles estão submetidos a uma mentalidade predominante que enxerga o branco como malvado e o negro como vítima, não importa o caso individual em questão. Cabe ao jornalista sério combater esse tipo de coisa.

Título e Texto: Rodrigo Constantino, Revista Oeste, nº 154, 3-3-2023

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