Humberto Pinho da Silva
Não passaram muitos anos que reformei a minha casa. Nessa ocasião contactei vários construtores; confrontei preços e assentei entregar a obra a empresa que me pareceu ser a melhor opção – em preço e qualidade.
No dia aprazado, compareceu o encarregado com
mancebo de vinte anos. Era o aprendiz.
Como estava reformado, presenciei durante dois
longos meses a reparação, e fui metendo conversa com operários, mormente o
encarregado, homem simpático e afável.
Conheci que trabalhava desde os catorze anos, mas
de catraio ajudava o pai na lida, em biscates nos fins-de-semana.
Revelou-me, ainda, como amigo de saber, observara
os oficiais, e aos poucos conheceu os segredos da canalização, carpintaria e
pintura:
“Hoje não é assim” (continuou). “O moço que trago iniciou-se aos dezoito anos no comercio, e só dois anos depois é que entrou na arte. Nada conhece... nem massa sabe fazer! Ganha quase tanto como eu!... Sobem o salário mínimo, mas esquecem-se de aumentar aos mestres. É bom moço: sabe línguas e lê como um professor...” – Concluiu.
Noutra ocasião desabafou: "pretendo
estabelecer-me, mas preciso de capital!... Com o que ganho é difícil..."
A obra foi dada por concluída, mas fiquei com o
número do seu telefone, para futuros biscates.
Durante anos foi-me utilíssimo. Por tudo e por
nada chamava o Júlio. Não era pontual, mas tudo consertava.
Certa vez, ao telefonar-lhe para reparar a
persiana do quarto, respondeu-me da Bélgica. Emigrara para poder realizar seu
sonho.
Não são só os cérebros que emigram. São os bons
operários, os mestres, que trabalharam desde criança, e por não terem sido
reconhecidos, partem em busca de melhor vida e esperança de velhice confortável
e digna.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, junho
de 2023
D. Pedro V: o rei da caixinha verde
"Que genial!... que talento!..."
A estatueta célebre
Quem faz a língua é o povo
Onde se fala de lares: de estudantes e idosos
Ser alguém
Ler e reler
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