Ricardo Jorge Castro
5-0! O FC Porto foi dono e senhor do clássico, goleou o
Benfica
e fez lembrar, mais de 13 anos
depois, uma célebre noite no Dragão.
Foi um clássico de mão cheia para o FC Porto e tal como espelha o resultado. Limpo. Sem azo a discussões.
Galeno bisou na primeira
parte, assistiu Wendell para o 3-0 na segunda e, já após a expulsão de
Otamendi, Pepê fez o 4-0 e Namaso fechou uma goleada que já não se via desde
que, em 2010, o FC Porto de Villas-Boas goleou o Benfica de Jesus.
Se a grande luta dos treinadores (também) é a questão emocional e
a mentalidade, como disse Conceição na antevisão, então a desta noite
foi claramente ganha pelo FC Porto.
O dragão puxou da qualidade
que tem. E juntou-lhe o lado mental. Tudo junto. Como poucas vezes se viu com
tanta clareza esta época. Por fim, pintou o clássico de azul e branco, que
dominou e fez mais por merecer ganhar.
O Benfica já tinha tremido
várias vezes esta época, mas passou quase sempre entre os pingos da chuva.
Passou por exemplo à justa em Toulouse, saiu vivo do dérbi na Taça há três
dias. Mas a noite no Dragão foi um descalabro autêntico. E merece uma reflexão.
E se este jogo não era o «tudo
ou nada» para Conceição, o FC Porto tirou tudo dele. Coloca-se a seis pontos
das águias, que voltam a perder a liderança para o Sporting, que tem ainda um
jogo a menos.
Não era o tudo ou nada, não. Mas o FC Porto tinha neste jogo um ganhar ou ganhar. Não só na perspetiva do título, como também do segundo lugar. E voltou a mostrar o que tem mostrado no passado recente em muitos jogos com o Benfica: quando está por baixo e joga quase a vida, agiganta-se. Fá-lo nestes nos jogos grandes, como fez com o Arsenal. Embora, esta época, tenha sido apenas a primeira vitória interna nos jogos entre grandes, após duas derrotas com o Benfica e uma em Alvalade.
Com dúvidas dissipadas e
Galeno e Evanilson a irem a jogo, Conceição tirou apenas Fábio Cardoso e lançou
Otávio ao onze face ao jogo nos Açores, enquanto Schmidt apostou em Morato na
esquerda da defesa e Tengstedt como referência na frente, tirando Bah (que nem
no banco esteve) e David Neres.
Só que a tentativa de mudar e
trazer ao jogo o que de bom se tirou no final do jogo de Alvalade caiu cedo por
terra. O FC Porto entrou melhor. Foi ultrapassando a pressão inicial que o
Benfica exercia. Francisco Conceição massacrou Morato pelo seu corredor, Di
María e Aursnes nem sempre estiveram em sintonia a defender. E o Benfica foi
incapaz de encurtar espaços por dentro e por fora, não impedindo que o FC Porto
fosse chegando sucessivamente à área de Trubin. Os centrais também tiveram uma
noite para esquecer.
Pepê deu logo um primeiro
aviso de cabeça (2m) e Galeno ensaiou, ao minuto 14, o que aí vinha, com uma
perdida na cara de Trubin, em resposta a uma primeira aproximação do Benfica
por Tengstedt.
Aos 20 minutos, o Dragão
explodiu com o golo de Galeno, que rematou solto ao segundo poste após canto de
Francisco Conceição. Wendell posicionou-se legalmente junto a Trubin no lance e
o ucraniano, quando armou o ataque à bola, já foi tarde.
Como foi tarde a reação do
Benfica, sobretudo depois da imagem deixada na primeira hora de jogo em
Alvalade na quinta-feira. O FC Porto acertou bem a pressão, não subindo em
demasia, controlando bem a profundidade. Rafa e Di María não conseguiram ter
espaços, como João Neves ou João Mário não tinham bola como queriam, fruto da
intensidade dos dragões. Só entre os 30 e os 35 minutos, quando Di María – tal
como ante o Sporting – fugiu da direita para a esquerda, é que houve uma
reação. Ficou-se por um remate perigoso de Rafa socado por Diogo Costa e por
uma tentativa desenquadrada do argentino.
A superioridade do FC Porto em
campo tornaria natural do 2-0. Aconteceu ao minuto 44, quando Otamendi deu de
forma proibida o pé esquerdo a Francisco Conceição para um cruzamento que, na
área, espelhou a incapacidade do Benfica: Evanilson ganhou o duelo a Aursnes e
Galeno a António Silva, para bisar e bater Trubin.
Para a segunda parte, Schmidt
tirou Morato e Kökçü e lançou Carreras e Florentino. Mas de pouco valeu. O
Benfica ainda entrou mais decidido para a segunda parte, mas o FC Porto foi
letal e praticamente acabou com as dúvidas aos 56 minutos, quando Di Maria não
baixou para defender e Galeno serviu à vontade Wendell para o 3-0.
Castigo ou não, Schmidt tirou
logo a seguir Di María e Tengstedt, lançou Neres e Arthur Cabral, mas não houve
como reagir, sobretudo porque Otamendi viu o segundo amarelo e foi expulso aos
61 minutos, deixou o Benfica com dez e forçou a saída de Rafa para a entrada de
Tomás Araújo.
A partir daqui, para o Benfica
era minimizar estragos. Diogo Costa foi um mero espetador e o FC Porto chegou
ao 4-0 aos 75 minutos, por Pepê. E, enquanto nas bancadas se pedia «só mais
um», o Benfica já só queria sair de uma noite de pesadelo, que acabou com
paralelismos com o 5-0 de 2010, quando o recém-entrado Namaso finalizou uma
noite de mão cheia já na compensação.
O FC Porto juntou a
mentalidade à qualidade, sai vivo para o resto da Liga. E o Benfica com uma
lição para o futuro breve.
Título e Texto: Ricardo Jorge Castro, Maisfutebol, 3-3-2024
Não é por nada, mas nos jogos com os grandes, sempre que o adversário chegou ao fim com os 11 jogadores, o Benfica perdeu. E das três vitórias sobre os grandes, duas delas só foram alcançadas muitos minutos depois de o adversário estar em inferioridade numérica.
ResponderExcluirWell... 😉
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