Sobre isto:
A presidente Dilma Rousseff
empossou nesta quarta-feira, em Brasília, os sete integrantes da Comissão
Nacional da Verdade, grupo de trabalho que irá apurar violações de
direitos humanos durante a ditadura militar, entre os anos de 1946 e 1988. Com
voz embargada, a presidente negou que o colegiado busque “revanchismo” ou a
possibilidade de “reescrever a história”. Ex-integrante da organização
clandestina VAR-Palmares, a presidente se emocionou ao relembrar os “sacrifícios
humanos irreparáveis” daqueles que lutaram pela redemocratização do país...
Peço licença para discordar.
Como ex-integrante de dois
desses grupos que alinharam contra o regime militar, no final dos anos 1960 e
início dos 1970, posso dizer, com pleno conhecimento de causa, que NENHUM de
nós estava lutando para trazer o Brasil de volta para uma "democracia
burguesa", que desprezávamos.
O que queríamos, mesmo, era
uma democracia "popular", ou proletária, mas poucos na linha da URSS,
por nós julgada muito "burocrática" e já um tantinho esclerosada.
O que queríamos mesmo, a
maioria, era um regime à la cubana, no Brasil, embora alguns preferissem o
modelo maoista, ainda mais revolucionário.
Os soviéticos -- e seus
servidores no Brasil, o pessoal do Partidão -- eram considerados reformistas
incuráveis, e nós pretendíamos um regime revolucionário, que, inevitavelmente,
começaria fuzilando burgueses e latifundiários. Éramos consequentes com os
nossos propósitos.
Sinto muito contradizer quem
de direito, mas sendo absolutamente sincero, era isso mesmo que TODOS os desses
movimentos, queríamos.
Essa conversa de democracia é
para não ficar muito mal no julgamento da história.
Estávamos equivocados, e eu
reconheço isso. Posso até dar o direito a outros de não reconhecerem e não
fazerem autocrítica, por exemplo, dizer que nós provocamos, sim PROVOCAMOS, o
endurecimento do regime militar, quando os ataques da guerrilha urbana
começaram. Isso é um fato.
Enfim, tem gente que pode até
querer esconder isso.
Mas eles não têm o direito de
deformar a história ou mentir...
Paulo Roberto de Almeida
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Addendum em 21/05/2012
A revista Veja, em sua edição do sábado 19 (data de capa 23/05/2012), reproduziu trecho desta postagem, desta forma:
Addendum em 21/05/2012
A revista Veja, em sua edição do sábado 19 (data de capa 23/05/2012), reproduziu trecho desta postagem, desta forma:
O sociólogo Paulo Roberto de
Almeida, que pertenceu a grupos de insurreição armada contra o regime militar
brasileiro, colocou a questão com muita clareza:
"Como ex-integrante de
dois desses grupos que se alinharam contra o regime militar, posso dizer, com
pleno conhecimento de causa, que nenhum de nós estava lutando para trazer o
Brasil de volta para uma 'democracia burguesa', que desprezávamos. Nós pretendíamos
um regime revolucionário, que, inevitavelmente, começaria fuzilando burgueses e
latifundiários."
Essa é a verdade. É uma
afronta à história tentar romantizar ou edulcorar as ações, os métodos, as
intenções e as ligações com potências estrangeiras dos terroristas que agiram
no Brasil durante o período militar.
Título e Texto: Paulo Roberto de Almeida
O autor, ex-terrorista que atuou contra o governo militar, é,
hoje, Doutor em Ciências Sociais, com vocação acadêmica voltada para os temas
de relações internacionais, em geral, de história diplomática do Brasil em
particular e para questões gerais do desenvolvimento econômico.
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