Rodrigo Constantino
O escândalo dos emails
secretos e as suspeitas de corrupção da Clinton Foundation continuam a todo
vapor, com as investigações do FBI e os vazamentos do Wikileaks, mas a imprensa
só quer mesmo saber das falas grosseiras de Donald Trump sobre mulheres. Nunca
antes na história dos Estados Unidos o viés da mídia “progressista” ficou tão
escancarado. Uma potencial criminosa golpista tem chance de ser eleita, e todos
estão obcecados com o narcisismo do magnata bufão.
Se o leitor “isentão” chegou
aqui por milagre e leu o primeiro parágrafo, já vai logo reagir: “Mais paranoia
desse conservador reacionário de direita”. É sinal de que o trabalho da
imprensa foi bem feito: as pessoas reagem por instintos e emoções aos rótulos
incutidos pelos “jornalistas”, enquanto desprezam os fatos. Vamos atacar o
mensageiro em vez da mensagem, como fez Obama no caso do FBI (sendo que, antes,
o presidente era só elogios a James Comey, por ele ser apolítico).
Mas se a coisa já está nesse
patamar feio e o leitor não quer saber qual a minha opinião,
ou pior, quais são os fatos, então que tal ler esse texto de Ken Silverstein no Observer, ele que é de esquerda? Para ele, os jornalistas se
transformaram em capachos de Hillary, em funcionários seus submetidos aos
desejos do Partido Democrata. Silverstein se diz de esquerda e não pretende
votar nessa eleição, mas isso não o impede de admitir o que está acontecendo.
“Temos dois candidatos
inacreditavelmente de merda, nenhum deles capaz de liderar o país”, desabafa.
Se Trump mal consegue formular duas frases e faz declarações infelizes e
preconceituosas sobre latinos, Hillary, por sua vez, está metida até o pescoço
num caso que faz o Watergate de Nixon parecer brincadeira de escoteiros. Mentiu
sobre tudo desde o começo, e agora as investigações tiveram de ser reabertas,
tamanha a evidência de desvios de conduta.
John Kass, colunista do
Chicago Tribune, chegou a escrever que o Partido Democrata deveria exigir a
substituição da candidata. Mas ninguém espera isso. O clã dos Clinton e seus
poderosos aliados não se importam com nada além da vitória. Para o inferno com
a ética, com as leis, com a própria democracia! O que vale é preservar o poder,
e tudo aquilo que deriva dele, como os contratos bilionários com o governo e as
doações milionárias à fundação como forma de pagamento pelo “serviço” prestado.
Leandro Ruschel fez uma boa analogia para o leitor entender melhor o
caso:
Acho que muita gente não
percebeu a gravidade da revelação de ontem do Wikileaks. O Procurador
Geral Assistente dos EUA, Peter Kadzik, passava informações do andamento dos
processos de Hillary Clinton para John Podesta, o chefe da campanha de Hillary!
Mais ou menos como se um Vice
Procurador de Janot passasse informações ao Rui Falcão sobre as investigações
da Lava Jato durante a campanha de Dilma!
Pior, esse mesmo sujeito está
conduzindo as investigações sobre a Fundação Clinton. Nos emails Podesta diz
que Kadzik é um dos seus melhores amigos…
Todas essas revelações estão
acontecendo porque agentes do FBI e do DOJ estão em rebelião contra os seus
chefes corruptos. Esse caso deixa Watergate parecendo coisa de
amadores. Mesmo que a crooked Hillary ganhe, a sua presidência será
fortemente questionada desde o primeiro dia.
Mas há um relativo silêncio da
mídia. Como os emails vazados pelo Wikileaks também comprovam, a imprensa tem
postura negligente em geral pois é parte do esquema! Está
mancomunada com os “globalistas” (não confundir com a globalização, como fez um
editorial do GLOBO recentemente), com George Soros e companhia. É justamente
como uma reação a essa imprensa carcomida e essa política
podre de Washington que surgiu o fenômeno Trump. Diz Silverstein:
Se você não entender isso, você não pode entender
Trump. Que um imprudente, apodrecido e perigoso bilionário seja a última
esperança eleitoral para dezenas de milhões de norte-americanos pode ser um
triste reflexo do colapso total do nosso sistema político, mas isso não faz o
apelo de Trump para uma parte significativa do eleitorado ilegítima nem torna
todos os seus defensores parvos irracionais e racistas, como se
conclui a partir de notícias e especialistas de esquerda.
A mídia mainstream
simplesmente não está sendo capaz de compreender o mundo. Foi assim no caso do
Brexit no Reino Unido, da rejeição ao “acordo de paz” com os terroristas das
Farc na Colômbia, e com Trump, virtualmente empatado nas pesquisas mais
recentes e com chances reais de ser o próximo presidente americano, algo completamente descartado
no começo da corrida presidencial.
Os jornalistas não entendem
mais nada do mundo, porque vivem em suas bolhas “progressistas”, perderam o elo
com a realidade, e enxergam o povo, as pessoas de carne e osso, por meio de sua
lente ideológica preconceituosa, uma caricatura no lugar da verdade. São todos
uns alienados, ignorantes, frequentadores da missa ou do culto aos domingos,
que compram no Wal Mart em vez de no Whole Foods, muitos ainda fumam (cruzes!),
não andam só de bike ou com carros elétricos, e céus!, defendem o direito de
ter armas!
Pela ótica tosca dessa elite
jornalística, são uma cambada de idiotas, racistas, crentes imbecilizados que
odeiam a globalização e adoram Deus. Com essa narrativa pré-fabricada, como
avaliar os fatos do mundo real? Como entender o que se passa, o que está em
jogo, por que Trump desafia o status quo, os poderosos de Washington e da
mídia? Silverstein cita os motivos dados por Camille Paglia, a feminista que
rejeita Hillary, como explicação para o sucesso de Trump:
Mas você não tem que ser louco para votar em
Trump. A melhor razão que eu vi foi recentemente oferecida por Camille Paglia,
que disse: “As pessoas querem mudança e estão cansadas do
establishment … Se Trump ganhar será um momento incrível de mudança,
porque iria destruir a estrutura de poder do partido republicano, a
estrutura de poder do partido Democrata e destruir o poder dos meios de
comunicação”.
Fazendo uma analogia com a
eleição municipal no Rio, foi mais ou menos como o baile que o evangélico
Marcelo Crivella, da Igreja Universal do bispo Macedo, deu nos
“progressistas” do PSOL, apesar de todo o apoio da Globo e da VEJA. Os
artistas, “intelectuais” e “estudantes” da elite burguesa estão até agora
tentando compreender como foi que um pastor venceu em vez de um sujeito tão
“descolado”, herói de filme e socialista (preocupado com os mais pobres),
como Marcelo Freixo. Só pode ser culpa dessa classe média tacanha que não
entendeu nada do mundo…
Os “tolerantes” da esquerda,
desprovidos de qualquer preconceito, repletos de “amor” em seus corações, não
suportam o povo e esses líderes que ele resolve endossar. Um jornalista
americano chegou a declarar publicamente que gostaria de ver Trump morto.
Alguém pode imaginar a reação da imprensa e desses “progressistas” se fosse o
contrário, um republicano desejando a morte de Hillary?
É essa hipocrisia, esse duplo
padrão, esse salvo-conduto aos poderosos que a população em geral não aguenta
mais. E isso faz com que até um Trump tenha chances reais. Pois a alternativa é
ainda pior, é alguém ligada a esse establishment podre, é a maior
representante dessa elite globalista corrupta. E se essa eleição vai
levar ao poder uma pessoa incapaz de liderar os Estados Unidos e o mundo
ocidental, ela ao menos serviu para desmascarar de vez a mídia por trás desse
esquema.
Que venham as alternativas nos
meios de comunicação, pois esses “formadores de opinião” tradicionais são coisa
do passado, de um passado vergonhoso, ideologizado, cúmplice dos que abusam do
poder para se dar bem à custa do povo.
Título, Imagem e Post: Rodrigo Constantino, Blog
de Rodrigo Constantino, 3-11-2016
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