Flavio Quintela
No início de 2020, quando Donald Trump era
presidente dos Estados Unidos e a pandemia mal acabara de começar, Joe Biden já
fazia campanha para denegrir a imagem de seu adversário
Assim, após Trump banir voos vindos da África para tentar conter a disseminação do coronavírus, Biden tuitou, em 1º de fevereiro de 2020: “Trump diminuiu ainda mais os Estados Unidos aos olhos do mundo ao expandir sua restrição de viagens. Esse novo ‘Banimento Africano’ foi feito para dificultar a imigração de pessoas negras e pardas para os Estados Unidos. É uma desgraça, e não podemos deixar que ele leve isso adiante”.
Pouco mais de um mês depois,
em 12 de março, ele atacou novamente o presidente pela mesma plataforma, o Twitter:
“Um muro não vai parar o coronavírus. Restringir todas as viagens da Europa
– ou de qualquer outra parte do mundo – não vai pará-lo. Essa doença poderá
impactar todas as nações e pessoas do planeta – e precisamos de um plano para
combatê-la”.
Com
a chegada da variante Ômicron, Joe Biden fez exatamente o que criticara quando
a decisão de proibir voos tinha sido tomada por Donald Trump
Seria irônico caso Biden
fizesse algo parecido. E não é que ele fez?
Na sexta-feira, 26 de novembro
de 2021, ele afirmou em declaração oficial do governo que: “Na manhã de hoje
fui informado pelo meu conselheiro médico em comando, Dr. Tony Fauci, e pelos
membros de nossa equipe de resposta ao Covid, sobre a variante Ômicron, que
está se espalhando pela África Meridional. Como medida de precaução, até que
tenhamos mais informações, estou ordenando novas restrições a viagens aéreas
vindas da África do Sul e de outros sete países. Essas novas restrições começam
a valer em 29 de novembro. Conforme avançarmos, continuaremos a nos guiar pelo
que a ciência e minha equipe médica disserem”.
Esse é mais um caso da diferença brutal de tratamento que a grande imprensa norte-americana dá a um presidente democrata em comparação com o que faz a um presidente republicano. Quando a comparação se dá com Donald Trump, então, a disparidade fica ainda mais absurda.
Com o nível de confiança da
população na imprensa caindo ano após ano, e com o surgimento de canais
alternativos de informação – mesmo em meio aos arroubos de censura das grandes
plataformas digitais –, a força dos grandes tem diminuído sensivelmente. As
tiragens também. A tríade liberal da grande imprensa norte-americana (New
York Times, Washington Post e CNN) tem ignorado as muitas falhas e erros de
Biden. A presidência do democrata tem sido considerada a pior das últimas
décadas, e as pessoas percebem isso. E já estão tão acostumadas a receber da
grande imprensa informações com parcialidade e descaso pela verdade que nem
sequer buscam algo sério nos portais desses órgãos.
Em meio a essa crise, que não
é exclusiva dos Estados Unidos, as pessoas ainda discutem os malefícios das
fake news e se o Estado deve ou não interferir na liberdade de expressão dos
cidadãos. Ora, a grande imprensa tem praticado a mentira e a ocultação por
décadas, sem nunca ter sido sequer admoestada por isso. E agora, quando o
sujeito comum – que não tinha a menor condição de disseminar suas ideias antes
da internet – decide expressar suas opiniões sobre tudo o que acontece nesse
planeta, algum burocrata impõe uma decisão e acaba com a vida do sujeito.
A
pandemia foi o maior presente que os governantes mal-intencionados poderiam
pedir
A chegada da variante Ômicron
tem tudo para desencadear mais uma enxurrada de coberturas parciais e
enviesadas, ao mesmo tempo em que informações preciosas serão solenemente
ignoradas por não corroborarem com as narrativas em vigor. As trapalhadas de
Biden serão esquecidas, e algum podre de Trump será desenterrado. Resta-nos
saber se a internet livre triunfará ou se as mãos pesadas do Estado conseguirão
esmagá-la, regulá-la e torná-la inócua em termos da propagação do debate
honesto de ideias.
A pandemia foi o maior
presente que os governantes mal-intencionados poderiam pedir. Estamos todos
sendo testados, nossos limites estão sendo esticados, nossas liberdades sendo
corroídas, tudo sob o título geral de “combate ao coronavírus”. Hoje é por isso;
amanhã será por mera satisfação dos caprichos de quem governa. A sabedoria
popular neste caso é perfeita: por onde passa um boi, passa uma boiada.
Título e Texto: Flavio
Quintela, Gazeta do Povo, 2-12-2021, 16h43
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