Carina Bratt
SEIS HORAS EM PONTO. Pulo
da cama. Tomo um gostoso e demorado banho frio. Meia hora depois, ainda
enrolada na toalha, ligo o som baixinho na sala para alegrar o ambiente e
embalar a minha alma. Faço um dejejum reforçado. A melhor refeição é a
primeira. Enquanto trato da barriguinha, leio Flávia Assaife (1). Estou na
metade do livro.
Para acompanhar a Flávia, nada melhor que transitar em seus versos
simples e impecáveis. Eles acalantam o estresse. Para que a viagem ao redor do
meu pequeno mundo fique ainda mais espetaculoso (2) e dulcificante (3), aperto
o play do som. Dele, se espalham, por todos os cantos e recantos do meu loft
(4), as músicas do genial maestro Ennio Morricone (5).
Existe uma, melodia em especial, que gosto de ouvir repetidas vezes, como
um daqueles antigos discos de vinil arranhados, empacado numa faixa só. Falo,
logicamente, do CD de 1971, onde está inserida a obra prima ‘La Califfa’ (6).
Para quem gosta de apreciar o que é belo, alimentando a alma, purificando o
espírito ao tempo em que atiça os momentos bons da vida, a música que inebria
age como uma terapia jamais sonhada.
Não há nenhum doutor (por mais estudioso e catedrático que possa ser),
capaz de trazer à baila, lá do fundo do âmago escondido, a tranquilidade que a
gente busca para ser feliz. O avivamento perfeito para o dia a dia e, claro, o
encorajamento fortalecido e avigorado para enfrentar os dias vindouros e todas
as confusões e percalços que eles possam tentar trazer. Eu disse ‘possam’.
Ennio e suas pérolas inesquecíveis me fazem mergulhar numa espécie de melifluição (7) onde cada instrumento da sua orquestra me transporta para um espaço além-vida. Nessa atmosfera abissal, me refaço, me reconstruo, me inovo, me restabeleço por dentro e por fora. Volto como se voasse em asas mágicas de um pássaro inexistente da minha metade vazia para ser inteira e completa, indestrutível e cindiamente (8) recomposta.
‘O pensamento viaja, vai longe, se desprega. Ninguém acha. País da
imaginação, reino do meu coração’ (9). La Califfa segue tocando... e Flávia me
dizendo coisas ao pé de um ‘Nada’ fugidio onde o ‘Tudo’ se torna sério, e, ao
mesmo tempo, um ‘Agora’ estonteante:
‘Guia-me... quando a dor chegar para que eu possa suportar... guia-me
quando o orgulho aparecer, para que recorde o quanto ainda necessito aprender...
guia-me quando a intolerância surgir, lembra-me que a paciência é uma grande
virtude... guia-me quando a maledicência imperar, para que ela eu possa
derrotar... guia-me quando estiver confusa, sem nada entender na busca da
compreensão...’
‘Guia-me quando errar, para que tenha forças em recomeçar... guia-me
quando chorar, o sorriso achar... guia-me quando a raiva se fizer presente, na
direção do perdão... guia-me quando
fizer alguém sofrer, no caminho da humildade que necessito percorrer... guia-me
quando ao redor parecer perfeito, para que não cometa erros. GUIA-ME’’”. (10).
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Pequenas e profundas reflexões sobre o belo
Como se comesse pêssegos ásperos
[As danações de Carina] Em trapos
Fase adulta
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Como se de repente a gente desse um clic...
Tudo
Nada
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