domingo, 11 de dezembro de 2022

[As danações de Carina] Tudo por analogia

Carina Bratt

Pura não sou, nem faço disso empenho,
Pois puro ninguém é na humana liça.
Creio num Deus real, morto no lenho,
E não nos deuses falsos da cobiça

PARECE QUE anteontem, sexta-feira, 9, o Brasil sofrido comemorou o ‘Dia Internacional Contra a Corrupção’. A meu ver, deveria ser melhor se nós brasileiros e brasileiras comemorássemos o ‘Dia Internacional da Continuidade da Corrupção’. Isso mesmo! Na verdade, ela, a ‘corrupção’, nunca saiu de cena. Ao contrário, está mais viva e pulsante, mais abastada e robustecida como nunca. Creio, amigas, que nunca terá fim.


Para glorificar esse dia ‘maravilhoso’ de uma doença que nunca foi curada, e jamais será, trago à baila um poema do escritor Athos Fernandes. (1). Creio que não precise identificar os personagens, a ‘RÃ’ e a ‘COBRA’. Evidentemente que a pobrezinha da ‘Rã’ do autor nada tem a ver com o que abaixo escreverei. Tampouco a ‘Cobra’.

Todavia, por casuais semelhanças, pontos em comum, relacionamentos e conexões, acredito que as minhas amigas e leitoras das ‘Danações de todos os domingos’, entenderão o suposto ‘parentesco” feito, ou a similitude. Que me perdoe o brilhante e saudoso autor do texto por, ‘sem querer querendo’, ter deturpado a magia, o encantamento, a beleza e o fascínio de seus versos simples. Acredito, por uma causa comum.

Junto à lagoa
coaxa a rã;
seu canto entoa
toda manhã!

— A vida é boa,
se é livre e sã.
E a voz ressoa
num doce afã!

O canto escuta
a Cobra astuta
do pantanal...

Quem manda a rã
toda manhã,
cantar tão mal?

Assim dizia um sábio de renome:
— O canto desagrada a quem tem fome

Calma, amigas. Pensando melhor, acho melhor identificar cada um dos personagens acima, no seu devido quadrado. Vamos que algumas leitoras menos desatentas não alcancem a minha posição com relação aos personagens aqui trazidos. Não custa nada.

A ‘Lagoa’ é o Brasil. A ‘Rã’, o povo. A ‘Cobra’, o futuro larápio e ladrão, me desculpem, o futuro ‘presidiodente’, como diria um certo escritor meu conhecido sem papas e mingaus na língua. Ficaria, pois, dessa forma, dado nome aos bois e vacas, assim:

Junto à ‘Lagoa’ (o Brasil),
coaxa a ‘Rã’; ou (o povo, a ralé, a raia miúda, o sem noção),
seu canto entoa (sua voz, seu choro, seus clamores e aflições),
toda manhã (sempre, indefinidamente, até o fim dos tempos).

— A vida é boa, ou (pelo menos deveria ser).
Se é livre e sã. (se fosse, realmente, livre, liberta, e sem máculas),
E a voz ressoa (a voz da galera sem dúvida alguma repercutiria),
Num doce afã! (num belo e agradável encantamento, ou melhor, numa polvorosa e indescritível precipitação).

Porém, pasmem! A desgraça, o câncer, o maligno surge dos infernos: a ‘Cobra’.

E o...
...canto escuta
a ‘Cobra’ astuta
do ‘pantanal...’. (a ‘Cobra’ Cascavel, fula, na sua gula, com cara de mula, vestida de Sula), emerge...
... do pantanal, ou (dos cafundós do capeta, do saco do tinhoso, do rabo do coisa ruim).
Kikikikikikikiki (Vamos rir um pouco?).

Quem manda a ’Rã’ (Pobrezinha!),
toda manhã (sempre, sempre, sempre...).
Cantar tão mal? (ou seja, falar, bradar, latir, fazer greve, xingar, se humilhar, se rebaixar, dar o rosto à tapa, o lombo à pescoções e não tomar nenhuma atitude drástica, séria, positiva e definitiva tem algum fundamento positivo? Não! É a mesmíssima coisa que tapar o sol com a peneira).
E o ‘Sábio de renome’, quem seria??!!
— ‘O canto desagrada a quem tem fome!’.

Euzinha apostaria todas as cartas no ‘Ovo’, aquele trocinho pelado que sai (me perdoem, pelo amor de Deus... que sai do cuzinho da galinha).
Como assim??!!
— O canto do povo sofrido, o clamor maltratado e pedindo clemência, ajuda, socorro, lhe desagrada, lhe aporrinha, lhe tira do sério, lhe deixa com os chifres queimando, e logicamente, amedrontado. A ‘fome’ que o ‘Ovo’ tem de Poder o faz pensar que é deus. Deus barato, de poleiro, de chafurdas em chiqueiros em face de viver mais sujo e borrado, ou cagado que paus às semelhanças de sustentáculos de emporcalhados galinheiros.

Nota de rodapé:
1 – Athos Fernandes Monteiro, nasceu aos 23 de abril de 1920 em Itaperuna, no Rio de Janeiro e faleceu em aos 13 de julho de 1979, aos 59 anos de idade, em Bom Jesus do Itabapoana (cidade próxima a Itaperuna) cidade essa também pertencente ao Rio de Janeiro. Os poemas acima, são: o primeiro, do livro ‘Ofir’ de 1977 e o segundo, ou a ‘Rã’ e a ‘Cobra’, do ‘Miscelânea poética’, de 1979, ambos pela Editora Shangri-la & Outros.

Título e Texto: Carina Bratt. Da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. 11-12-2022

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