sexta-feira, 10 de março de 2023

Revista OESTE 155: Cortina de fumaça

As notícias ruins sobre o governo Lula camufladas por boa parte da imprensa estão entre os destaques desta edição


Durante os quatro anos do governo Jair Bolsonaro, o maior partido de oposição que existiu no país foi a velha imprensa. Qualquer notícia minimamente positiva vinha acompanhada de um “mas”, seguido da informação negativa. “Investimento empurra PIB, mas recuperação é lenta”; “Sob Bolsonaro, crime cai e emprego cresce, mas área social piora.” Um dos grandes momentos dos “vigaristas da adversativa”, como cunhou Augusto Nunes, foi a invenção do verbo despiorar: “Economia dá sinais de despiora”, informou o colunista de um desses jornais, em junho de 2021.

Passados mais de dois meses da posse de Lula, o partido da velha imprensa continua em combate — sempre na oposição a Jair Bolsonaro. Críticas ao ex-presidente desviam as atenções de sucessivas notícias ruins produzidas pelo governo petista. Lula avisa que o BNDES voltará a financiar governos e ditaduras de esquerda. Os jornais preferem atribuir a Bolsonaro um segundo genocídio: o que ameaça liquidar a etnia ianomâmi. O MST e suas sucursais invadem dezenas de fazendas produtivas em várias regiões do país. A mídia estimula a fantasia de que o mundo vai encarregar o presidente brasileiro de resolver a guerra na Ucrânia. O preço da gasolina aumenta vertiginosamente nos postos de gasolina por causa da volta do imposto federal. As manchetes são ocupadas pelas joias que Michelle Bolsonaro teria tentado contrabandear.

A cortina de fumaça forjada por essa imprensa é o tema da reportagem de capa desta edição, assinada por Silvio Navarro. “Dos mesmos criadores do ‘despiora’ da economia e da profusão de manchetes adversativas, agora surgiu a ‘reoneração’ dos combustíveis e as ‘viroses’ carnavalescas — a covid sumiu”, observa Navarro.

Nesta quarta-feira, um artigo da economista Zeina Latif, no jornal O Globo, mostrou que, graças a medidas do governo anterior, a taxa de desemprego, embora alta, tem oscilado em torno de 8,7%, o que é positivo no caso do Brasil. Os editores, claro, não poderiam deixar passar incólume qualquer elogio a Bolsonaro e Paulo Guedes e conceberam um título esperto: “Desemprego é alto, mas está baixo”. As pessoas que leem só títulos — cerca de 70% — certamente deduziram que o governo Lula acertara mais uma.

Outro escândalo previsivelmente subestimado pela imprensa envolve Juscelino Filho. O ministro das Comunicações não se limitou a usar dinheiro público no asfaltamento da estrada que cruza uma das fazendas da família no Maranhão. Também usou um jato da FAB para ser premiado numa exposição de cavalos de raça em São Paulo e bancou o passeio com diárias debitadas na conta do ministério. Os jornais só se lembraram de Juscelino para divulgar o encontro que teve com Lula — “altamente positivo”, segundo o visitante

“O ministro está liberado para novas aventuras”, afirmou J.R. Guzzo, no artigo publicado nesta edição. “É um fato bem simples: Lula e o PT fazem parte e estão sob a proteção integral do partido político mais poderoso que o Brasil já teve em seus 523 anos de história — o consórcio nacional cujo objetivo estratégico é eliminar qualquer possibilidade real de se combater a corrupção neste país.” Como lembrou Guzzo, se as coisas estão assim com apenas dois meses de governo, imagine mais para a frente.

Boa leitura. 

Branca Nunes, Diretora de Redação, Revista OESTE, 14-3-2023 

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