Por que não me ufano do meu
país
Danuza Leão
Se fosse na Argentina ou no
Chile, o povo iria para a rua; no Rio, o máximo que acontece é uma passeatinha
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Ilustração: Vazos do Purus |
A CLASSE política nunca foi
flor que se cheirasse (fora as exceções etc.), mas a cada nova eleição ela
consegue ficar pior. Fico pensando nesses deputados que absolveram Jaqueline
Roriz; o que é que eles dizem a seus filhos? Como se explicam?
É bem verdade que, sendo o
voto secreto, eles podem sempre mentir e dizer que votaram pela cassação, mas
será que cola? Mas ainda tem pior: o vergonhoso secretário de Transportes do
Rio, Julio Lopes, que depois da tragédia com o bondinho de Santa Teresa tentou
botar a culpa no pobre do condutor que tinha morrido; é de uma falta de caráter
revoltante.
Depois dessa tragédia, que
deixou cinco mortos e mais de 50 feridos, qualquer secretário de Governo
(sério) teria a obrigação de se demitir; se não o fizesse, o governador teria a
obrigação de demiti-lo. Mas como o governador é Sergio Cabral, ele continua no
cargo; quando questionado, três vezes, se iria demitir o
"secretário", ele simplesmente não respondeu. Quanto tempo falta para
acabar esse governo que o Rio não merece?
Se fosse na Argentina ou no
Chile, o povo iria para a rua; no Brasil - no Rio -, o máximo que acontece é
uma passeatinha muito frouxa, diante do mar - isso se estiver fazendo sol, para
pegar uma praia depois.
Aqui, as coisas não acabam em
pizza, mas em samba. O governo é o que é, e a oposição, ninguém sabe, ninguém
viu. Enquanto isso, os escândalos se sucedem, e a presidente já deixou claro
que não vai continuar a faxina - "faxina é para acabar com a pobreza",
diz ela. Sem corrupção, presidente, o país teria dinheiro para a saúde, a
educação, as estradas etc., e isso me lembra do que dizia o saudoso ministro
Mario Henrique Simonsen: "fica mais barato pagar a comissão e não fazer a
obra".
Tremo em pensar na Copa do
Mundo; no preço que vão custar as reformas, nas licitações que não vão haver,
devido à urgência - tiveram todo o tempo do mundo e deixaram tudo para a última
hora. Aliás, tanto faz. Alguém acredita que alguma licitação no Brasil é séria?
Estamos cansados de saber que é tudo combinado antes, viva a criatividade
brasileira.
Mas o ministro do Turismo,
amiguinho de Sarney, continua firme e forte no seu posto. Aliás, é só olhar
para saber que ele é o homem certo para o lugar certo.
Mais do que pelo dinheiro que
vai ser afanado, tremo em pensar que um estádio pode cair, como caem as pontes
pelo Brasil afora, por ter sido malfeito, por terem misturado areia com o
cimento, para o lucro ser maior. Houve um tempo em que a corrupção era mais
personalizada, para usar a palavra da moda; hoje, qualquer escândalo é seguido
por "formação de quadrilha". Que se trate de Fernandinho Beira-Mar,
ou dos mais importantes ministros do governo desse governo e do outro, o
último, a corrupção agora é coisa de quadrilha.
E prefiro não fazer as contas
de quanto tempo falta para as eleições majoritárias, para não pensar nas caras
dos governantes rindo muito e voando, de Estado em Estado, nos jatinhos dos
empresários, para ver os jogos do Brasil. E, a cada vez que nossa seleção
ganhar, considerar e fazer cara de que a vitória é um pouco deles.
Cansei, mas vou continuar
votando; é o que posso fazer.
Título e Texto: Danuza Leão,
Folha de S. Paulo, 04-09-2011
Edição: JP
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