A decisão britânica de não se
unir ao pacto para coordenação fiscal e disciplina orçamentária entre os países
da União Europeia (UE) provocou fortes críticas por parte de comentaristas e
políticos europeus.
O pacto, anunciado durante uma
reunião de cúpula entre os líderes da UE terminada na sexta-feira, tem como
objetivo acalmar os mercados financeiros sobre a crise das dívidas europeias. O
tratado teve apoio de 26 dos 27 países do bloco - apenas o Reino Unido ficou de
fora.
Para muitos analistas, a decisão
britânica não chega a ser uma surpresa, já que o país, um dos dez do bloco que
não adotaram o euro como moeda, vem se mantendo cada vez mais à margem do
projeto europeu.
Na Alemanha, maior economia da
UE e país que liderou o novo pacto ao lado da França, grande parte da fúria é
dirigida ao primeiro-ministro britânico, David Cameron.
Alexander Graf Lambsdorff,
líder do partido de centro-direita FDP, que faz parte da coalizão governista,
chegou a afirmar que "foi um erro deixar que os britânicos entrassem na
União Europeia".
Para ele, a Grã-Bretanha terá
agora que renegociar sua relação com a UE. "Seja por vontade própria deles
(dos britânicos) ou por uma recriação da UE sem o Reino Unido", afirmou.
Segundo ele, o modelo da Suíça, que não faz parte da UE, mas tem vários
tratados bilaterais com o bloco, poderia ser adotado pelo Reino Unido.
Outros veem o resultado da
cúpula desta sexta-feira como um processo que simplesmente revela os pontos de
rompimento e as profundas diferenças em atitudes sobre a Europa.
O comentarista italiano
Alessio Sgherza afirmou no diário "La Repubblica" que a cúpula
"afundou por causa da divisão ainda não resolvida entre os Estados
pró-europeus e os euro-céticos".
O deputado europeu Daniel
Cohn-Bendit, co-líder dos Verdes no Parlamento Europeu, classificou David
Cameron de "covarde" por sua posição na cúpula.
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Daniel Cohn-Bendit |
O deputado democrata-cristão alemão Elmar
Brok, porta-voz de política externa para os partidos de centro-esquerda no
Parlamento europeu, foi claro sobre seus sentimentos: "Se ele não está
preparado para jogar de acordo com as regras, então é melhor que cale a
boca".
"BLEFE BRITÂNICO"
O principal diário financeiro
italiano, "Il Sole 24 Ore", qualificou a posição de Cameron como
"um blefe britânico", que deixa o país isolado.
"A manobra britânica
significa que Londres agora está fora, nas margens da Europa. A primeira sessão
do Conselho da União Europeia em Bruxelas, que deveria ter dado solidez à crise
europeia e inclusive poderia tê-la solucionado, produziu em vez disso uma
profunda divisão entre os membros depois de 11 horas de negociações tensas e às
vezes dramáticas", diz o jornal.
A imprensa francesa também
criticou a decisão de Cameron e se disse pouco surpresa com a posição
britânica.
O diário Le Figaro classificou
a posição como "um jogo perigoso" de Cameron e disse que a
Grã-Bretanha honrou sua reputação de país dissidente, que nunca quer ir na
direção da corrente.
"Mal David Cameron havia
pisado na entrada do Conselho, para a cúpula de 8 de dezembro, e caiu uma nuvem
negra sobre as negociações. Ele tinha um objetivo: cuidar dos interesses britânicos",
disse o jornal.
Já o diário Le Monde, mais
contemporizador, afirmou que "os britânicos não são parte desta crise do
euro e não têm responsabilidade pelo fracasso de suas instituições para
resolver a crise da dívida".
A ministra da Economia da
Dinamarca, Margrethe Verstager, disse ao jornal "Jyllands-Posten" que
o pacto da sexta-feira é um passo na direção correta, mas lamentou a divisão
dentro da UE.
"É bom que se estabilize
o euro e se aumente a responsabilidade econômica", disse. "Mas é
preocupante que isso não ocorra por meio de uma mudança de tratado com todos os
27 países. É melhor que todos permaneçamos juntos do que cada um escolher seu
próprio caminho em uma crise de dimensões tão enormes", disse.
BBC Brasil/Folha de S. Paulo, 10-12-2011
BBC Brasil/Folha de S. Paulo, 10-12-2011
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