Luiz Cunha
O maestro Tom Jobim já dizia:
“Viver no exterior é bom, mas é uma merda. Viver no Brasil é uma merda, mas é
bom.”
Com o anonimato, é a mesma
coisa.
O Disque-Denúncia, por
exemplo, é bom e opera pelo bem. Protegidos pelo anonimato, moradores das
favelas da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, nos morros cariocas, ajudaram a
polícia a apreender 129 armas, 23 mil munições, 148 explosivos e 350 quilos de droga
em apenas três dias de ocupação em novembro do território antes exclusivo do
narcotráfico.
Em uma única casa da Rocinha,
a denúncia levou a 16 fuzis e uma metralhadora capaz de abater um avião. O
telefone, que não recebia mais do que quatro informes diários, disparou para
308 ligações no domingo e segunda, os dois primeiros dias da ocupação.
Já na internet, como diria o
sensível Tom, o anonimato é uma merda, e não é bom. Principalmente no
território livre dos blogs, a grande rede é exposta à droga dos traficantes de
opinião que não ousam dizer o seu nome, como diria Oscar Wilde.
Como os narcotraficantes que
dominam as favelas pelo terror e pela droga, ocultam o rosto pela máscara
covarde do apelido, do codinome, da inicial sem qualquer identificação.
Com isso, são encorajados a
dizer qualquer bobagem, desencorajando o bom e aberto debate civilizado entre
pessoas que não temem expor nome e sobrenome, suas cidades de origem, até mesmo
sua condição profissional, detalhes que qualificam a discussão e permitem uma
compreensão melhor sobre os debatedores.
O manto do sigilo descamba com
frequência para a troca de ofensas entre os próprios internautas, despencando
numa baixaria que espanta pela virulência e que afugenta os debatedores mais
pacientes.
Mas, esse anarcotráfico de
opiniões que não se sustentam, a não ser pelo capuz do anonimato, pode estar
com seus dias contados. Os grandes portais, os sites sérios e os blogs mais
consequentes estão ocupando este território da irresponsabilidade,
estabelecendo limites saudáveis para permitir o livre trânsito apenas a quem
tem a consciência e a competência para a discussão livre, democrática e
assumida.
Nem é preciso chamar o BOPE
para retomar este espaço virtual ocupado criminosamente. Basta estabelecer
regrar transparentes para identificar devidamente o autor dos comentários, sem
qualquer restrição ao seu conteúdo. Os que passarem dos limites sabem que
estarão sujeitos à réplica legal e judicial do que se sentirem atingidos.
Uma possibilidade que, de
pronto, calará a grande maioria de quem terá vergonha de assumir o que não diz
sem a ajuda de um apelido boboca.
Um bom sinal do que pode ser o
começo do fim dessa praga é a nova norma adotada pelo portal da Globo.com, um
dos maiores do país, agora bloqueado a esta multidão inconsequente de cognomes:
"Apelidos em comentários são uma tradição, mas isso está mudando. As duas
comunidades virtuais que mais crescem — Facebook e Google+ — não permitem
apelidos. É que quando todo mundo assina o próprio nome, a qualidade da conversa
melhora. O nível de cortesia aumenta", ensina Pedro Doria,
editor-executivo de Plataformas Digitais da Globo.com.
O educado Tom Jobim festejaria
esta internet sem merda.
Título e Texto: Luiz Cláudio Cunha é
jornalista, publicado no blog do Ricardo Noblat, 06-12-2011
Indicação: Luiz
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