O alvo são os templos evangélicos, um dos piores pesadelos da esquerda, do 'centro liberal' e das classes pensantes deste país
J. R. Guzzo
O Supremo Tribunal Federal (STF), com a cumplicidade ativa de governadores, prefeitos e a militância em favor do “fecha tudo” geral, e com o amplo apoio da mídia e do restante da elite nacional, se prepara para executar o pior ataque contra a liberdade de religião que o Brasil já sofreu — pelo menos desde que foi estabelecido por lei que Estado e Igreja são separados, não podem interferir um no outro e cada cidadão é livre para praticar as suas crenças religiosas e frequentar os cultos que bem entender.
A desculpa deste último ataque
aos direitos do cidadão é, mais uma vez, a covid — para “evitar aglomerações”,
o STF pode proibir que o público frequente missas, orações e cerimônias
espirituais de qualquer natureza.
O ministro Gilmar Mendes
abriu o tiroteio, votando pelo fechamento das igrejas na sessão plenária que
vai decidir sobre a questão. Alegou que o Brasil se tornou um “pária” mundial
no tratamento da covid e, por isso, as pessoas não podem mais fazer suas
devoções em público. Não explicou por que, objetivamente, o Brasil é um “pária”
comparado a outros países de primeira linha — mas desde quando um ministro do
STF precisa apresentar algum motivo decente para baixar os seus decretos? O
Supremo só decide; todos os demais só obedecem. A votação começou, foi suspensa
e recomeça nesta quinta-feira.
A parceria da alta hierarquia da Igreja Católica no voto de Gilmar, as profissões de fé dos comissários do coronavírus e as piedosas garantias dos políticos de que a liberdade religiosa está “garantida” só mostram o quanto é hipócrita a ofensiva contra o culto — o alvo real, de novo, são os templos evangélicos, um dos piores pesadelos atuais da esquerda, do “centro liberal” e das classes bem pensantes deste país.
As entidades religiosas “chapa
branca” podem divulgar notas de apoio à proibição, mas nada disso muda a
natureza do que está sendo feito: uma agressão direta e aberta às igrejas mais
frequentadas hoje pela maioria da população brasileira. Serão os seus fiéis — e
não os católicos, budistas ou muçulmanos, que formam a minoria do universo
religioso do Brasil — os mais atingidos pela proibição.
Se ir ao templo é
“aglomeração” e provoca contágio, porque viajar todos os dias de metrô, ônibus
e trens urbanos continua sendo permitido? O vírus, por acaso, não frequenta o
transporte coletivo? Só em São Paulo, cerca de 8 milhões de pessoas viajam
diariamente no sistema ferroviário metropolitano. Tudo bem, aí? O fato é que os
mandarins do “distanciamento social” precisam que o metrô funcione para
garantir o seu bem-estar pessoal — afinal das contas, os trabalhadores do
supermercado, da farmácia, dos serviços públicos e milhões de outros têm de
suprir as necessidades de quem manda. Isso exige que eles continuem
comparecendo diariamente ao local de trabalho; para tanto, são obrigados a se
amontoar no transporte coletivo. Mas nesse caso não é “aglomeração”.
Já estão sendo agredidas, há
mais de um ano, as liberdades de ir e vir, de reunião, de exercício legal da
atividade econômica e tantas outras, sempre em nome da “segurança sanitária”, e
com o alto propósito de “salvar vidas”. A cada dia vai ficando mais difícil
recuperar cada uma delas: muitos dos que são responsáveis pela atual supressão
de direitos estão bem pouco interessados em sua volta.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Estado de S. Paulo, via revista Oeste, 8-4-2021, 7h20
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