domingo, 5 de fevereiro de 2023

[As danações de Carina] Duas fases distintas da tal Felicidade

Carina Bratt

ESPERO, um dia, euzinha possa chegar ao patamar da Felicidade. Faço referência à Felicidade plena. Aquela que encanta, que seduz, que nos torna mais leves, livres e soltas. Deve ser uma coisa gostosa ter a Felicidade ao alcance das mãos. A gente se transforma da água para o vinho. Se molda, da noite para o dia, num piscar de olhos.  Nosso ‘eu interior’ se põe para cima, se faz radiante, e nos leva a acreditar piamente numa nova maneira de viver.  

Uma maneira adocicada, eu diria, sem medo de errar, cheia de belezas plenas. ‘A verdadeira Felicidade é alguém para amar, algo para fazer e algo para aspirar.” Joseph Addison, poeta e dramaturgo inglês vivido apenas quarenta e sete anos, deve ter conseguido seus objetivos. Mas o que é a Felicidade? Para Roberto Carlos ‘é ter uma Maria Rita eterna renascendo todas as manhãs em nossas vidas.’ Para o investidor e financista Fred Adler ‘a Felicidade é um fluxo de caixa positivo.’  

Tiririca, comediante, entende que ‘a Felicidade é ter o reconhecimento buscado, ainda que a duros golpes da má sorte.’ A saudosa Glória Maria falecida recentemente, entendia que a ‘Felicidade era simplesmente ser feliz ao lado das filhas Laura e Maria’. E apregoava que: ‘poder voltar para o lado delas, se constituía na maior Felicidade do mundo.’’  Algumas pessoas acham que a Felicidade é ter fama, dinheiro, posição social, ser reconhecida tanto dentro de um puteiro como metida feito uma barata tonta em meio de um salão chiquérrimo em plena Paris.  

A Felicidade é um bem que nos chega do nada, que nos acolhe, que nos alimenta, que nos transforma a vida cotidiana em momentos inesquecíveis. Para ser feliz e desfrutar da Felicidade, não é preciso ser um presidente, tampouco ocupar o cargo de ministro de estado. Menos ainda ser uma deputada metida nos fundilhos da mídia, uma senadora, cujos podres poderes lhe são restritos.  

Percebam, amigas leitoras, que tais pessoas não vivem à Felicidade. Vegetam. Não progridem, não são seres humanos normais. Essas pobres almas, desfrutam (de mentirinha) de um momento de prazer inusitado, porém, maléfico, nojento, perverso, lesivo, ruinoso, peçonhento e espúrio (1). Não são criaturas livres, não são donas de suas vidas. Deve ser como uma dor infame e degradante, uma doença humilhante e ignominiosa não poder sair por aí, curtir um cinema com os filhos, comer uma pizza numa praça de alimentação num shopping qualquer.  

Da mesma forma, frequentar um motel, jantar à luz de velas com a esposa num restaurante. Ser Feliz, ou ter a Felicidade dessa forma, é ser escravo de si mesmo. É viver desvivendo, acorrentado num cativeiro, feito bicho, feito um animal preso dentro de seu próprio âmago (2). É ser submisso como um cordeiro, humilde como um aniquilado, dobradiço e debilitado como um rato de esgoto.  

Ser famoso e ter poder, é como um desses cachorros perebentos de rua –, afirma Dani Calabresa, ‘que mal têm o direito de se achegarem às portas giratórias de um restaurante de porte aristocrático.’’ Para essas pessoas (pessoas?!) –, agora visto por outro foco   –, ‘a Felicidade é um lugar onde qualquer um pode pousar, contudo, jamais será permitido desfrutar dele com a elegância de um cidadão que, sem ter a fama, ou a glória do sucesso, encontra todas as fendas e reentrâncias abertas e se sente como se estivesse em sua casa.’  Pensamento da escritora Carolina Maria de Jesus em seu livro ‘Quarto de despejo’’.  

Pois é amigas. A Felicidade dos personagens acima citados, repetindo, presidente, ministro, senador, deputado, e outros vermes não elencados, é uma Felicidade morta, truncada (3), falsa, deselegante, fria, asquerosa. Sobrevive, essa maldita, à sanha do Poder, do dinheiro fácil para a compra ilimitada de trocentos cachorrinhos de alugueis, de guarda-costas parrudos com caras e fuças de ‘Lulas e Dilmas’, de seguranças armados até os pentelhos dos dentes.  

A Felicidade, pois, em resumo, tem duas fases distintas e diferentes. Para os realmente felizes –, e aqui me permitam parodiar Robert Orben –, a ‘Felicidade, para poucas pessoas, é possuir uma escrivaninha simples, desajeitada, não importa o estado dela; se é velha e raquítica; ou que viva jogada num canto esquecido da sala. Para outros, notadamente para a banda social da mais alta cúpula, a Felicidade (com exemplo da mesma escrivaninha), apesar da sua altivez e pomposidade, não passa de uma grande e enorme lata de lixo.’’  

Notas de rodapé: 
1) Espúrio – Falso, adulterado, viciado. 
2) Âmago –O nosso íntimo mais profundo, a essência da alma. 
3) Truncada – Qualquer coisa incompleta, ou mutilada. 

Título e Texto: Carina Bratt, de Santo Eduardo, Campos, Rio de Janeiro. 5-2-2023

Anteriores: 
Sem nada de bom para escrever... melhor seria ficar calada... porém... 
...e tudo passou! 
Abrigo transitório 
Inquérito nativo 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-