domingo, 11 de abril de 2021

[As danações de Carina] Meus pêsames

Carina Bratt 

‘In memoriam’ a Neimar de Barros, autor de ‘Deus Negro’

Todos os dias recebo e-mails com mensagens as mais diversas, e agora, a coisa praticamente triplicou com o advento do celular. São de amigas, de pessoas com as quais me relaciono. A maioria, todavia, de ‘desconhecidas’ que mandam, como simples bobeiras, achando, às vezes, que é coisa sem valor, sem nexo.

Esta que agora passo para todas vocês, chegou via WhatsApp, três dias atrás. Quem me enviou, disse que recebeu e repassou de alguém que não sabe o nome, mas que se diz moradora de Manacapuru.

Curiosa, procurei pela tal cidade. Ela, de fato existe. Manacapuru fica no Amazonas. Ainda está no mapa. Pelo menos, até ontem à tarde. Pode ser que amanhã... ou daqui a pouco... parece que, pela lonjura, logo virará um pedacinho esquecido (se já não é) deste enorme Brasil ingrato e desconhecido pela maioria dos brasileiros.

Procurei pelo autor, e cheguei a Neimar de Barros, ou mais precisamente a Neimar Machado de Barros. Neimar nasceu em Corumbá, em 8 de março de 1943. Escritor, poeta, diretor e produtor de programas de televisão. Trabalhou muitos anos com o Silvio Santos.

Agradeço penhoradamente à amiga que me enviou esta mensagem, e garantiu, quando questionei, que disse ter recebida (repetindo) de outra, e de outra que recebeu de outra etc.

É um texto simples, escrito e publicado nos idos de 1979. Se pararmos para uma análise mais demorada, chegaremos à conclusão, que apesar do tempo em que foi escrito, se assemelha muito com certas pessoas que vivem e convivem no meio de todas nós. 

Pessoas que ainda agora, fazem como o cidadão, a quem o Neimar, na época, acredito, deve ter se espelhado, para criar a sua pequena obra prima.

Passo, a vocês, ‘Meus pêsames’. Achei o texto simples, bucólico, uma espécie de joia rara perdida. A meu ver, talvez, possa vir a servir para alguém que esteja vivendo o que Neimar tentou descrever e o fez tão bem com estas simples palavras.

Meus pêsames

Meus pêsames a você, que enterra seu dinheiro nas corridas de cavalo, a você que, com desculpa de esporte e entretenimento, dá alimentação de primeira qualidade a cavalos e éguas, enquanto seus semelhantes morrem por falta de ter o que comer.

O pior é que não é possível inverter a situação: os leprosos, os cancerosos, os tuberculosos não comem grama. Que pena!

Meus pêsames a você que gasta o dinheiro que não lhe faz falta, mas faz falta a asilos e creches.

Meus pêsames a você que, ouvindo os apelos da propaganda, viciou-se em corridas, a você que tira da família para dar aos animais.

E a atitude fica tão confusa, que já não se sabe mais quem se comporta como quadrúpede: o que corre, ou aquele que aposta.

Meus pêsames a você que prefere ouvir um relincho ao choro do seu filho.

Meus pêsames a você que já soube de suicídios e continua no jogo, porque se considera equilibrado e conhecedor dos limites.

Meus pêsames a você que vê profissionais de barbadas enganando barbados...

Meus pêsames a você que finge não ver os marreteiros de relógios e outras peças de valores maiores, que os perdedores dão em troca de mais uma aposta.

Meus pêsames a você que aproveita as corridas noturnas para a infidelidade matrimonial.

Meus pêsames a você que pensa que engana todo mundo e vive enganado.

Meus pêsames, especial a você, terrível e maquiavélico dependente de cavalos, que vier com a desculpa de que o dinheiro que você ganha é usado para obras beneficentes... gostaria de lhe dizer que, diante dos olhos de Deus, NÃO TEM VALOR AQUILO QUE É PRODUTO DA DESGRAÇA DOS OUTROS.

Neimar de Barros faleceu em 6 maio de 2012 de uma doença muito conhecida entre nós: O Mal de Alzheimer.

Título e Texto: Carina Bratt, do sítio Shangri-La – ES/MG. 11-4-2021

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