terça-feira, 2 de novembro de 2021

[Aparecido rasga o verbo] No ápice dos finalmentes...

Aparecido Raimundo de Souza

O JOVEM POLICIAL MILITAR
arranjara uma amante. Namoravam via Internet nas folgas dele. Depois de quase oito meses, num chove não molha dos diabos, ora trocando palavras melosas e juras de amor, ora carícias e vídeos, via câmeras de seus celulares, pintou o primeiro encontro num apartamento que pediu emprestado de um amigo da corporação. No dia aprazado...
Ele, meloso.
— Vamos, meu amor, estou pronto...
Ela, trêmula e pronta para a entrega.
— Eu também, meu amado. Saí do banho limpinha e cheirosinha. Passei aquele perfume que você disse que gosta tanto. Sou toda sua... todinha, dos pés à raiz dos cabelos
Ele, partindo para o ataque.
— Como pode ver, já tirei tudo: distintivo, colete à prova de balas, farda, algema, porta faca de perna, arma e quepe. Fiquei só de cuequinha... seu policial está completamente desarmado...

Ela, ensandecida.
— Eu só não me desfiz da calcinha. Você me disse que nos nossos encontros adoraria tirar a pecinha com os dentes... Quanto a estar desarmado!... que volume é este?
Ele, tresloucado e com fome de mandar brasa na beldade.
— Deixa de brincadeira, amor. Vamos começar. Por favor, apague a vela...
Ela, longe da realidade e espantada.
— Vela? Que vela?
Ele, soltando uma gargalhada.
— Você esqueceu de apagar a vela. A que está no pires do criado-mudo, ao seu lado. Por azar, meu parceiro não pagou a conta... lembra que lhe falei que ficaríamos à mercê de uma quase escuridão?
Ela, também, sorrindo brejeira.
— Desculpe, amor. Havia esquecido. Estou afobada, doida pra começar a nossa primeira viagem... olha como estou... ponha a mão em meu coração...

Ele, pondo a mão no coraçao dela.
— Uau! Eu me sinto pior e mais excitado que você. Subindo pelas paredes, desde que marcamos...
Ela, se abrindo feito mala velha.
— Pronto. Apaguei...
Ele, atônito pelo inesperado negrume.
— Diabos, que breu! Cadê você?
Ela, arteira.
— Aqui, amor, bem ao seu lado.
Ele, pronto para iniciar a briga de foice.
— Vamos em frente. Vou arrancar a sua calcinha
Ela, suando em bicas. Quase às raias do desespero.
— Depressa, amor... anda logo... tira, tira... que cueca difícil esta sua. Quero ver o recheio...
Cinco minutos depois.
Ele, pedindo, indecoroso.
— Minha linda. Você e eu, agora, estamos como viemos ao mundo. Por favor, venha por cima... amo esta posição.

Ela, buliçosa e fazendo carinha de sem-vergonha.
— Euzinha prefiro por baixo’. Papai e mamãe.
Ele, cedendo aos caprichos dela.
— Ok... seja feita a sua vontade
Ela, entretanto, num repente, para tudo e se fecha num acovardamento não programado. Berra.
— Droga...
Ele, assombrado e interrogativo.
— O que foi, minha gatinha?
Ela, atordoada e nervosa.
— Esqueci a porcaria do preservativo dentro da minha bolsa lá no carro...
Ele, querendo pular no pescoço da desgranhenta até a infeliz colocar um metro de lingua para fora e parar de respirar.
— Fica fria. Meu amigo sempre guarda uma de reserva embaixo do travesseiro.
Ela, sem conseguir raciocinar.
— Em qual dos dois? Do que você está usando, ou do meu?

Ele, pê da vida. ‘Que hora imprópria para tal questionamento!’.
— Do seu. Pega ai...
Ela, igualmente sem saber o que dizer, ou fazer explode.
— Amor, não estou achando...
Ele, querendo abandonar a cama e mandando aquela idiota às favas.
— Impossivel. Antes de tomar meu banho e antes de você chegar, dei uma conferida...
Ela, chorosa e hesitante.
— Tem certeza?
Ele, em pé, resmungando.
— Claro que tenho.

Ela, envergonhada.
— Pois é. A porcaria sumiu...
Ele, numa tentativa medonha, para recobrar a tranquilidade.
— Não importa. Vamos começar o rala e rola ao vivo e a cores...
Ela, aos estrondos histéricos.
— Nem morta... imagina se eu fico prenha... meu marido me mataria...
Ele, mostrando uma indignação até então adormecida.
— Eu sei, eu sei... mas uma única vez? Acho pouco improvável!
Ela, aos prantos.
— Nem pensar... tenho medo. Imagina! Meu marido, há anos, não saboreia a fruta... como explicaria uma gravidez?

Ele, se levantando, num salto e recolocando a cueca e a camisa.
— Espera aí. Deixa eu ver...
Afoito, procurando daqui e dali, jogando os travesseiros no chão.
Ela, entristecida e aos soluços.
— E ai? Achou?
Ele, abespinhado e à cata, agora, da calça que compunha a sua vestimenta de representante da lei..
— Achei
Ela, séria, sorriso curto e sem graça.
— Sabe colocar?
Ele, vermelho de raiva.
— Não tenho muita prática com camisinhas. Sempre faço sexo com minha esposa, sem usar nada... ela não corre risco. É ligada. Lembra que comentei tal fato com você várias vezes?

Ela, tentado trazer a calmaria de volta às quatro paredes.
— Você me disse. Vamos, amor, eu te ajudo. Foca. Se concentra. Muita serenidade nesta hora. Deita aqui de novo.
Ele, aéreo e superficial.
— Conseguiu?
Ela, ensaiando um sorriso destituído de atrativo.
— No capricho... apesar da sua cuequinha me atrapalhando. Vamos, vamos...
Ele, desvestindo a camisa e totalmente desconsolado.
— Como você é apressada.
Ela, em vão, se esforçando para o encontro voltar às boas.
— Não é pressa, meu gatinho. É precisão, desejo, carência... e medo, tudo ao mesmo tempo. Por outra visão, tendo um deus grego ao meu lado...
Ele, o policial amante, exatos dez minutos depois, dá um basta pondo literalmente fim ao que sequer começara.
— Garota, pelo amor de Deus... que absurdo! Pirou?! Você não tirou a minha cueca e, como uma debilóide, está chupando o meu cassetete...

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza. Hotel Pousada Boa Vista, Brotas, interior de São Paulo. 2-11-2021

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