Aparecido Raimundo de Souza
Não só isto. Igualmente se
reinventasse sem defeito, magistral, primorosa, robusta e seguisse, radiante e
versátil, acolhedora e hospitaleira, afetuosa e caridosa vivendo livre e
tranquila no jardim do meu mais urgente, destituída, obviamente, dos fluidos
indigestos que a perseguiam e vingasse na mais pura vontade de ser plena e
realizada aos olhos (não só aos meus) de quem quer que aparecesse e a
contemplasse. O oposto, o contrário, se fizera maior. Se agigantou numa chegada
cruel e malparida, engendrada a bel prazer de uma esquizofrênica infame e
duramente cruel.
Em vista disto, eu não conseguia me
enquadrar em seus parâmetros, nem tampouco ela a mim, no sentido de jogar no
rosto carcomido pelo desespero, um semblante mais ameno, um perfil que não me
tornasse tão radical e infeliz, a ponto de achar que todo o Universo, ao meu
entorno, conspirasse a meu desfavor. Resolvi cair no mundo. Fugir daquele
crepúsculo pavoroso e desvairado. Na minha partida, em busca de algo pleno, me
embrenhei por caminhos e atalhos os mais diversos dentro de um universo
paralelo que, de igual forma, me fez mais pessimista, e pior, literalmente
desanimado e divorciado do controle emocional.
As novidades que almejava, de
repente se desfizeram em angústias e dissabores, problemas e questiúnculas que
se avizinharam contrárias e antagônicas ao meu modo pacato e sem atropelos de
viver cada novo dia que chegava. Em decorrência deste imprevisto não previsto e
desenfreado, assim do não existente, os percalços se multiplicaram aos
borbotões. Como torneiras abertas, por mãos invisíveis, se sucedeu sobre meus
costados, uma enxurrada 'desconjunturada' e infernal de atropelos, o que
contribuiu para aumentar, sobremaneira, as barreiras intransponíveis que vieram,
de roldão, junto com o pacote que eu não pedira.
Diante deste quadro infortunoso e lúgubre, o que fazer? Que atitude tomar? Seguir em frente? Retroceder? Como me livrar do pessimismo molesto que me infligia um esmagamento atroz e me mortificava, me atormentava e me estragava as horas vindouras, a partir de um simples e corriqueiro acordar? De pronto, me deparei com uma válvula de escape emergente. Acredito que um anjo do bem, soprou algo esplendoroso em meus ouvidos. Do nada, ouvi um ‘volta, volta, volta’. Não pensei duas vezes. Regressei correndo à minha casa feito um maluco desorientado ao ponto de partida. Meu quarto.
Dentro dele, me tranquei apressurado
e fadigado, esbofado e boquiaberto, como se estivesse querendo que aquele
matutino fosse, de vez, embora o mais depressa possível e se desagarrasse dos
meus pés. Incrivelmente deu certo o aborto planejado da minha fuga afergulhada.
O dilúculo entristecido e lutuoso, embaçado e malévolo se foi embora. Partiu de
vez. Durou pouco os seus horrores, às minhas provações. Descobri, instantes
depois, que tudo orbitou apenas no meu imaginário. Na verdade, após caso
passado, digo, de bom grado, que este nascer inóspito, a bem da verdade, não
existiu verdadeiramente.
Mesmo norte, esta alvorada
manemolente não vingou, não descendeu. Sequer se criou, ou se materializou em
forma de um porvir real. Diria, agora, que tudo passou, id est. Estas primeiras
horas repletadas de malogros e desencantos jamais chegaram. De nenhuma forma se
aproximaram dos meus receios e carências. Como num passe de mágica, tipo um
achado benfazejo, com as graças de um Ser Maior e Divinizado (que a tudo viu e
reconstruiu), voltei a ser eu mesmo de novo. Confiante e vitorioso, ao me
flagrar livre como antes, meu coração se abriu em festa esbraseada. Aqui estou
saltitante à acolher a visão beatificante de que tudo seria e é concreto dentro
do impossível do meu possível.
E, de fato, crendo piamente nesta
teoria da Felicidade ímpar, e sem espaços, consegui sair do buraco negro. Me
libertei. Me safei. Revivi, ressuscitei, granjeei forças. Renasci mais
poderoso, como aquela ave mitológica. Das cinzas. Aqui estou agora, sem
correntes, ou amarras, sem fobofobias e hipocondrias, me sentindo o dono do
pedaço, senhor de mim mesmo, o absoluto de tudo e o mais importante: não
‘re-vendo’ o jardim desfeito, tampouco a rosa pinguça, metida dentro de um
vasilhame bojudo de gargalo comprido. O arraiado, a rosa e eu, pela ternura
imensurável de Deus, agradecemos. Estamos e nos sentimos IMENSAMENTE FELIZES.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, de São Paulo, Capital. 16-11-2021
Colunas anteriores:
Galho dourado em ramagem verde
Nem cabeça e sem dar pé
Marília Mendonça e a distância que nos foi imposta
Mané
No ápice dos finalmentes...
[Aparecido rasga o verbo] Imensidão à deriva
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-