terça-feira, 14 de junho de 2022

[Estórias da Aviação] Desmitificando o tal do "glamour"

José Manuel

Escutei essa palavra "glamour" por trinta e dois anos enquanto voava, saindo das bocas as mais variadas, designando algo que eu não compreendia muito bem, e que continuo não entendendo.

Hoje o termo é mais recorrente ainda nas redes sociais, quando algum assunto remete à nossa profissão vivenciada nas asas da VARIG.

Nunca fui muito fã dessa palavra, nem muito menos do que ela vinha a significar durante qualquer discurso ouvido nas galleys, lobbies de hotéis, DO’s etc.

Mas, o que exatamente significa essa palavra que se aninhava sempre em nossas almas e ouvidos?

GLAMOUR:
Glamour é uma qualidade de quem ou do que é elegante, charmoso e considerado sedutor, são coisas relacionadas geralmente a moda, e sua influência vem do século XX e da influência do cinema americano.

Se lançarmos um olhar retrô, na VARIG empresa nos anos 70/80 e 90, não resta a menor dúvida de que a nossa empresa primava pela elegância do serviço de bordo, haja vista os diversos prêmios internacionais auferidos, principalmente na Primeira Classe onde era líder absoluta, tal o investimento em alimentação gourmet, cortesia oferecida, licor internacional e treinamento primoroso de profissionais altamente capacitados, de comissários a comandantes.


Sim, isso era tudo de primeira e abundante. Era o que poderíamos chamar de um serviço realmente "glamuroso". Mas daí a dizer que a vida dos tripulantes era "glamurosa", vão “miles and miles" de distância da realidade.

A não ser que alguém ache que era glamuroso ficar com a mesma roupa íntima, meias, sapatos e uniforme, durante programações de vinte horas ininterruptas que começavam em casa, passavam pelo voo longo, pelas conduções, e terminava no hotel ou vice-versa, sempre com o mesmo vestuário!

Glamour existe em nossa casa onde podemos tomar quantos banhos quisermos durante o dia, vestir as roupas que desejarmos, e quando nos convier.

Como já escrevi nos meus cinco textos, "AS ERVAS DA IRA", dentro desta série MEMÓRIAS, não houve glamour algum nas passagens em que descrevo, muito pelo contrário, foram momentos de muita, tensão passados a bordo de nossos aviões ou em pernoites, quando em dois deles estive a ponto de perder o meu emprego sem a menor culpa. Zero glamour!

Há uma certa confusão, até previsível, quando misturamos atividade profissional com regulamentações trabalhistas inerentes à profissão.

O mais comum é achar que ir para Paris ou New York, ou pernoitar em grandes cadeias conhecidas de hotéis, eram atividades glamurosas, por estarmos no topo dessas cadeias de eventos.

Porém, isso era apenas uma ou mais facetas laborais e obrigatórias da profissão que escolhemos.

Por estes motivos acima descritos, nunca achei a minha vida glamurosa, muito pelo contrário, foi uma vida muito sacrificada, sem fins de semana, sem Natal, sem Réveillon, sem ver meus filhos crescerem, sem poder acompanhá-los em suas atividades escolares, sem feriados e muitas, muitas noites trabalhando e dormindo apenas algumas horas em nada mais que poltronas de avião!


Ao longo de trinta e dois anos, uma perda sensorial incapacitante à profissão, originada pela mesma e perdas generalizadas de tudo o que construí ao longo desse período, por politicagem vagabunda inserida no setor aéreo, nada remetem ao que chamam de Glamour!

Na vida, tudo o que vai, volta, e ter o mundo aos nossos pés foi apenas uma resultante das nossas escolhas, claro, com muito sabor e pouquíssimo acessível à média laboral da humanidade.

E não esquecer de que para que isso fosse possível, tudo acontecia a 12/15 mil metros de altitude com todos os malefícios à nossa fisiologia, pelo ambiente hostil à saúde, o qual poderiam vir a ser gerados problemas sérios a futuro, inclusive um acidente inesperado.

Nada mais que isso.

Título e Texto: José Manuel – Alguém discorda? – junho de 2022

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3 comentários:

  1. Digito aspas. Consegui na minha humilde profissão ver CHICAGO, O FANTASMA DA ÓPERA, MOULIN ROUGE, HAIR, assistir TINA TURNER, NEIL DIAMOND CANTANDO SEAGULL, JOHNNY RIVERS, BEE GEES. Ver Cindy Lauper no "happy hour" do hotel em LAX, jantar durante estadia em LAX com Júlio César Chávez durante pelo menos 2 horas. Sentamos juntos pois havia somente nós dois no restaurante. Passei dois dias dentro do LOUVRE, jantava sempre no CARMINES da quinta avenida, comi o famoso steak tartare do LE FOUQUET em Paris, as costeletas no alho de MAINZ, Black Angus Striploin Steak em Londres, e outras maravilhosas oportunidades. EU ME SENTI PRIVILEGEADO NA MINHA VIDA DE TRIPULANTE.

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  2. Há algo equivocado aqui. Ou não consegui me expressar bem, ou não entenderam onde quis chegar. Também conheci lugares fantásticos, pessoas famosas e incríveis, que se não fosse a aviação , jamais teria conhecido ou feito. Mas a meu ver é, isso foi apenas em decorrência do que resolvi fazer ou seja voar em uma grande Cia de aviação. A meu ver isso não tem nada de Glamour é sim apenas circunstancial.

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  3. Atração, beleza, charme, elegância, encanto, fascínio, formosura, graça, magnetismo, simpatia, tudo isso sentimos ao ser tripulantes da VARIG, glamour.

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