sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

E do assédio aos homens, ninguém fala?

Cristina Miranda

Há por detrás desta onda de indignação de certas mulheres uma hipocrisia monumental. Se por um lado se queixam do assédio sexual por parte dos homens, do outro exibem-se praticamente nuas apelando aos instintos reprodutores dos machos. Não me venham dizer que o fazem de forma ingênua só por “gostarem” da indumentária ou para se “sentirem bonitas”. Balelas! Mulher que é mulher com “M” grande sente-se-bonita e atraente até com um simples jeans. Sou mulher e sei muito bem do que falo.

Cresci num tempo em que incomodar uma miúda na paragem de autocarro com graçolas era MÁ EDUCAÇÃO, com direito a dois tabefes bem dados nas trombas desses garotos após queixa ao pai. Não era assédio sexual.

Um tempo em que mandar um piropo por passar uma rapariga bonita, não era assédio, era fazer a corte. Atacar violentamente uma mulher, abusando dela sexualmente, era crime de violação sexual. Tudo era muito bem definido. Agora, tudo é assédio. Hoje, até um simples “olá, estás boa?” pode ser perigoso. É a doideira total.

Como mulher também fui largamente “assediada” dentro deste contexto “moderno” da palavra. E isso nunca me incomodou. Porque os galanteios sabiam-me bem ao ego, pois demonstravam o meu grau de sedução sobre o sexo oposto. Mas sempre com cuidado com as indumentárias para não transmitir uma imagem errada daquilo que pretendia: atrair pessoas, não predadores sexuais.

Quantas vezes me perguntaram: “Posso me sentar? Está acompanhada?”, dando uma resposta imediata conforme a minha conveniência. Que mal tem atrair os homens e receber uma abordagem por isso, quando até os passarinhos (esses animais tão fofos) provocam as passarinhas com rituais para as atrair sexualmente?

Por que não nos indignamos igualmente com a natureza? Bem, deixa-me estar calada, não vá alguém ter ideias…

Mas a hipocrisia cresce ainda mais quando ninguém refere os homens como vítimas desse mesmo assédio de quetanto se queixam! Não ouço nada, mesmo nada sobre isso, é muito estranho. Ao longo da minha vida vi coisas incríveis protagonizadas por mulheres predadoras sexuais. Não estou a brincar. Autênticos filmes, alguns quase de terror psicológico, com elas a rodear vítimas masculinas desesperadamente.

Quando dava aulas em Ponte de Lima, havia um colega que era muito popular entre o mulherio. Sempre rodeado por elas, alunas e professoras. Tinha o dom de saber ouvi-las, e elas encantavam-se com ele! E eu achava aquilo muito engraçado porque o meu colega, fosse num café ou na escola, nunca se via com homens. Parecia ter mel que só atraía o sexo feminino. E muitas! Até que um dia nos tornamos amigos e ele começa a contar-me o drama dele.

Fiquei a saber que ele era molestado, “armadilhado” com esquemas onde apareciam nuas na cama dele, lhe ligavam para casa a toda a hora, enfim, não o deixavam em paz. Vivia num inferno! Mas como vivíamos num tempo diferente deste nunca viu nisso um crime. Apenas azar de atrair tanto o sexo feminino. Como este, muitos mais exatamente com o mesmo problema: assédio feminino. Alguém fala nisto? Claro que não. Não convém.

Esta raiva aos homens é patológica. Não faz sentido em mulheres saudáveis e bem resolvidas com a vida. Porque estas sabem sempre avaliar as situações, separando o que é efetivamente crime do que não passa de galanteios, mais ou menos felizes (sim, porque nem todos nascem com o mesmo dom para a sedução). Saberá estar à altura de dizer “não”, e se esse “não” for desrespeitado, resolvê-lo.

Porque a hipocrisia não deixa ver que no dia em que estas senhoras, todas com mais ou menos nudez à mostra, não obtiverem qualquer reação masculina (por receio destes), serão elas a questionar a virilidade dos homens e acaba-se o glamour dos vestidos às tiras sem calcinhas.

Título e Texto: Cristina Miranda, 12 de janeiro de 2018, in “As minhas Blasfémias”, páginas 466/469 
Digitação: JP, 3-2-2023


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15 comentários:

  1. Há anos comentei sobre a lei do assédio. Para mim no caso do Daniel houve apenas um chupisco, como a dita cuja sabia da tatuagem no bilau? Esses famosos estão fora do quadrado. Frequentei o beco das garrafas, a galeria alaska, o alfredão, a tia alice, o le bateau, a casa do farah, a boite do hotel plaza, nunca me incomodei, ou as boites de hoje em dia são diferentes?
    Minha previsão nostradâmica se seu. Um dia alguém ia sofrer assédio por ser famoso.

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    1. Cara, ao seu lado, sou um frade, no tocante à castidade, well... 🙃
      Por feliz acaso conheci, por fotos, os locais que você elencou, com exceção do "Alfredão" e da "Casa do Farah"... Importa-se de fornecer mais detalhes?

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    2. No final dos anos 70 o ALFREDÃO era o ponto onde toda diversidade carioca se encontrava e se divertia hoje chamam de LGBT+++++++ e na casa do Farah o melhor carnaval do Rio onde tudo se podia ponto de alguns globais platinados.

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    3. Tá. Mas em que rua, avenida, boulevard... ficavam o Alfredão e o Farah?

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    4. O Alfredão ficava na rua Sá Ferreira e o Farah uma mansão no alto da Tijuca, muitas vezes fechada por raves no nosso século xxi.

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    5. É... infelizmente não tive a alegria de conhecer...

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  2. Estou adorando ler os textos da Cristina Miranda! Que achado!!! Não a conhecia.
    Muito obrigada por compartilhar!!!
    Brigitta G Monteiro

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    1. Essa era das boas!
      Há poucos meses, li que a boate Barbarella fechou as portas, depois de 44 anos de agito. Copacabana perdeu um animado ponto de encontros, um baluarte da night assanhada. Há anos, trabalhando no Rio e hospedado no Plaza Copacabana, na Avenida Princesa Isabel, quase esquina com a Rua Ministro Viveiros Castro, endereço da boate, visitei Barbarella, apresentada
      por um amigo como um inferninho. Fiz visita comedida, com bebidas e observações. Não abracei capeta de qualquer espécie. Capetas que lotavam a casa infernal e saracoteavam alegres.
      Reportagem da última que fechou depois de 44 anos.
      https://cronicascariocas.com/colunas/cronicas/a-derrocada-do-inferninho/

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    2. SINTO-ME ASSEDIADO PELA FOTO, POSSO PROCESSAR?

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    3. Essa, a Barbarella, visitei.
      Agora, vem cá, há dias que estou para lhe perguntar: e a Praça Mauá à noite, hein?

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    4. TINHA MUITO TRAVESTI COMO A LAPA, O MEU MÁXIMO ERA O BOB'S DO LARGO DA
      CARIOCA TEM ATÉ TWITTER;

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  3. FOTO LEGENDADA AI EM CIMA.
    UM:
    Cantora Gretchen, no inicio da carreira, em 1945, quando ainda não desfrutava da cama, digo, da fama, tentando pegar "carona" na bolsa tiracolo, ou pochete (modelo transversal) do cidadão que passava ao largo:
    - Ei, "SEU GOSTOSO", sou eu, a Maria Odete Brito de Miranda de Souza...
    DOIS:
    Cantora Vanusa brigando com Antônio Marcos, na saída do Copacabana Palace Hotel:
    - Que merda, cara. Já é a terceira vez que você pisa no meu vestido. Vou chegar no Projac toda "sapateada". Olhe com atenção para baixo, despista. A minha "piriquita" está de fora... mais uma pisada sua e a desgraçada vai chegar no Luciano Huck primeiro que nós. Melhor você tirar esse óculos escuro. Está ridículo. Deixa de querer se parecer com Roberto Carlos. Você está mais para Tim Maia...
    Aparecido Raimundo de Souza de Santo Eduardo, RJ

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  4. https://bafafa.com.br/turismo/historias-do-rio/casa-rosa-o-rendez-vous-de-luxo-mais-famoso-do-rio-durou-quase-80-anos
    HOJE É PATRIMÔNIO DO RIO.

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  5. O dia que ousei usar um vestido de tiras, sem calcinha, numa festa em que fomos, na Ilha do Governador, o Aparecido tropeçou umas cinco vezes. Acho que ele estava olhando para o lugar errado.
    Carina
    Ca
    Santo Eduardo RJ

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