sábado, 4 de fevereiro de 2023

[Versos de través] Passagem

Manuel António Pina

Com que palavras ou que lábios 
é possível estar assim tão perto do fogo 
e tão perto de cada dia, das horas tumultuosas e das serenas, 
tão sem peso por cima do pensamento? 

Pode bem acontecer que exista tudo e isto também, 
e não só uma voz de ninguém. 
Onde, porém? Em que lugares reais, 
tão perto que as palavras são de mais? 

Agora que os deuses partiram, 
e estamos, se possível, ainda mais sós, 
sem forma e vazios, inocentes de nós, 
como diremos ainda margens e diremos rios? 


Manuel António Pina

Anteriores: 
Magnificat 
Os Justos 
Amor é fogo que arde sem se ver 
Feliz Natal! 
“O Pão Maldito”, de Guy de Maupassant (poema traduzido) 

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