domingo, 13 de junho de 2021

[As danações de Carina] Incidentes acontecem

Carina Bratt

VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR, mas acabei de ser mordida, na perna esquerda, por um cachorro. Isto nunca me aconteceu antes. Estou bestificada, pasmada, boquiaberta. Em decorrência deste incidente, precisei ser conduzida por parentes e vizinhos ao pronto socorro. O médico que me atendeu, um tal de doutor Barnabé Oliveira, ainda fez hora com a minha cara, me perguntando se, pelo fato da mastigada, não passei a latir logo em seguida, ou até a chegada ao atendimento, não tivesse pedido para os meus acompanhantes darem uma parada, para eu procurar um poste, levantar a perna e fazer xixi.

Quase respondi que se fosse parente da senhora mãezinha dele, não somente ladraria, como lhe enfiaria um belo tapa no meio das ventas. Acreditem, amigas leitoras, faltou pouco para eu mandar o doutor engraçadinho para aquele lugar, porém, me segurei. No final, o doutor Barnabéééééé me anestesiou o local do rasgo, me presenteou com três pontos, fez um curativo igual a fuça dele, e ainda, de lambuja, me prescreveu com uma farta receita de antibióticos, ibuprofeno e dipirona. Além da vacina da raiva, em duas doses. O que está me deixando super nervosa e incomodada, não ‘raivosa’, quero deixar claro, é exatamente as fortes dores que estou sentindo não no pé esquerdo, mas no direito.

Não me perguntem, o motivo, até porque, de antemão, esclareço que não faço a menor ideia desta coisa esquisita e estranha estar acontecendo, logo com euzinha, que tomo todos os cuidados possíveis e imagináveis, para não ser triturada por um cachorro. Por falar nele (o ‘latidor’ canino inveterado da criatura, se chama Pablito). Lembra, não sei por que cargas d’água, o Jô Soares antes da fama. Pablito tem umas características meio gozadas, tipo duas orelhas, dois olhos frios, uma boca cheia de dentes escurecidos, língua azul, e imaginem, quatro patas, ao invés de duas. O trocinho tem um esqueleto meio corrido, ou seja, meio longo e ligeiramente avolumado.

Seu corpo inteiro é coberto por pelos amarelados e as patas, as quatro patas, lhe emprestam ares de um leão faminto, apesar de não passar de um totó da raça Chow-Chow [foto]. Em seu olhar, capturei leves sintomas de um bicho arredio, uma fera que não parece muito chegado à seres humanos. Em decorrência deste particular, acho que ele não foi com o meu santo, daí o ataque à minha pessoa. Diferente do querido e inesquecível Pingo, meu cachorrinho que morreu há bom tempo. Fiz até uma crônica para ele, que publiquei aqui no ‘Cão que Fuma’, logo após a sua partida para o infinito em decorrência de um ataque do coração.

Que Papai do Céu o tenha em seu sagrado e intocável reino dos bichinhos de eterna estima. Estou falando do meu Pingo. Voltando ao Pablito, e lembrando, de novo e sempre, do meu Pingo, não fosse pela ternura que tinha por ele, juro que seguiria o conselho do sem graça do doutor Barnabé Oliveira. Não latiria, logicamente (não ficaria bem para uma moça na minha idade emitir certas sonoridades guturais não condizentes com a minha linhagem). Todavia, daria uma dentada bem profunda na jugular do infeliz. Quanto ao Pablito, espero não voltar a me encontrar com ele. Se lhe assaltasse numa ação (ainda que) ofensiva, acreditem, caras amigas, ele ficaria cativo de mim e as suas patas... bem, as suas quatro patas, o abandonariam e sairiam a grasnar ou a gracitarem felizes e alegres em busca de uma área alagada ou, quem sabe, de um bem cuidado lago encantado. 

Título e Texto: Carina Bratt, de Vila Velha, no Espírito Santo, ES, 13-6-2021 

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