sábado, 8 de outubro de 2022

O Mundial 2030 era o desígnio nacional que faltava

A Federação do futebol encontra-se empolgada. O governo “vê com muito bons olhos” a coisa. O dr. Costa já a batizou: o “‘Mundial’ da paz”. E, naturalmente, o prof. Marcelo aplaude tudo.


Alberto Gonçalves

Quando o assunto são as sedes dos campeonatos do mundo, a FIFA não escolhe ao acaso. Em 2010, decerto seduzida pela ausência de corrupção local, escolheu a África do Sul, o que permitiu salvar inúmeros indigentes das ruas e enfiá-los em barracos distantes do olhar turístico.

Em 2014, optou pelo Brasil da dona Dilma, outro regime avesso a falcatruas, que, além de salvar os sem-abrigo, ainda expropriou milhares de famílias para demolir casas e construir “infraestruturas” bem bonitas.

Em 2018, o campeonato foi na Rússia, sobre a qual são escusados comentários: provavelmente, tratou-se de um prémio pela anexação magnânima da Crimeia, quatro anos antes.

Em 2022, leia-se daqui a um mês, teremos o “Mundial” do Qatar, com instalações moderníssimas, imprescindíveis restrições religiosas, mão-de-obra escrava, mas dedicada e poucas dezenas (ou centenas) de trabalhadores mortos no processo.

Sendo uma instituição prevenida, a FIFA já prepara o torneio de 2030. Se for uma instituição coerente, a FIFA entregará a respectiva organização à imbatível candidatura de Portugal, Espanha e Ucrânia. Descontada a picuinhice da geografia, não é difícil encontrar critérios comuns. Os três são países sob ajuda de oligarquias marxistas, dois a partir de dentro, um a partir de fora. Os três resistem valentemente ao avanço do nazifascismo. Os três respiram saúde econômica. Os três não têm mais com o que se preocupar. Os três existem, e é plausível que pelo menos um ou dois continuem a existir nos próximos oito anos.

Enquanto português, estou a fazer figas, as figas que os funcionários da saúde fizeram para ter em Lisboa a final da “Champions” de 2020. Por diversas razões. Desde logo, há a questão do estímulo das massas, um bocadito apreensivas ante a incapacidade de pagarem casa, comida e minúcias assim. Na semana passada, elogiei o empenho do governo em presentear-nos com sucessivos e maravilhosos e crescentemente ambiciosos projetos: o novo aeroporto fora de Lisboa, o comboio de alta velocidade, o programa espacial indígena. Até sugeri que, a esse ritmo, estaríamos agora a festejar o anúncio da colonização de Marte, a iniciar por 2045 ou 3048.

Enganei-me. Felizmente. O “Mundial” de 2030 é um sonho de dimensão superior ao marciano e, quiçá, ao da “Champions”. Desta vez, não será só a rapaziada do SNS a celebrar nas ruas o prestígio e o progresso da nossa pátria.

Segue-se a questão da ousadia. Por hábito, aliás recente, as candidaturas conjuntas à recepção de torneios da bola limitam-se a duas nações contíguas ou quase (bocejo). É fantástica a decisão de Portugal e Espanha em concorrerem agregados à Ucrânia, situada a três mil e tal quilómetros da meseta ibérica. Eu teria sugerido o Afeganistão, mas adiante. O dinamismo que isto provocará na movimentação dos adeptos é simples de imaginar.

Por mim, imagino as multidões de bolivianos que, no final de uma empolgante jogatana com a Eslovénia, saem com urgência do estádio de Castelo Branco rumo ao TGV no Carregado de modo a apanhar em Santarém o avião para Kiev, a tempo de acompanhar a sua seleção nas oitavas-de-final contra o surpreendente Burundi. No total, serão largos milhares e milhares de pessoas, viagens, voos, hospedagens e cervejas a demonstrar que, de Lisboa a Odessa, a Europa está pujante, que a crise energética tem dias e que a “emergência climática” é conversa para vender bicicletas e enregelar a ralé.

Depois, há a questão do investimento. Se descontarmos o prejuízo decorrente destes eventos, que costuma rondar as centenas de milhões (subornos aos decisores incluídos), os “mundiais” dão aos organizadores um lucro incalculável – no sentido de que ninguém é capaz de o calcular. Sobretudo dão um pretexto e deixam um legado. É preciso que a memória não seja curta. Não fora o Euro 2004 e cidades como Aveiro, Coimbra, Leiria, Braga e Loulé não beneficiariam hoje de belos estádios a troco de meros quatro milhões gastos por ano em manutenção, que os munícipes patrocinam com orgulho. E quem diz estádios diz rotundas, hotéis, apeadeiros, rotundas, viadutos, derrapagens, rotundas, aeroportos, rotundas, compadrios, mamarrachos, rotundas etc. Houve um Portugal antes do “Europeu” e um Portugal após o “Europeu”, como haverá um Portugal antes do “Mundial” e, se tivermos muita sorte, um Portugal após o “Mundial”.

Por fim, resta a coragem. Falo da coragem em assumir a corresponsabilidade de um acontecimento tão vital por parte de uma nação que as más-línguas declaram ameaçada, encurralada, falida, desnorteada, arrasada, vencida, dependente e a viver de esmolas. Sei que a Ucrânia também não anda famosa. Mas o que me interessa é Portugal. É preciso que a pátria esteja à altura da sua História. É preciso acreditar que somos os melhores dos melhores.

É preciso responder aos desafios do futuro. É preciso repetir clichés. É preciso, em suma, não cedermos ao “bota-abaixismo”, expressão feliz do destemido eng. Sócrates. A Federação do futebol encontra-se empolgada. O governo “vê com muito bons olhos” a coisa. O dr. Costa já a batizou: o “‘Mundial’ da paz”. E, naturalmente, o prof. Marcelo aplaude tudo. O que nos vale é haver tantos visionários à solta, embora alguns merecessem estar na cadeia.

Título e Texto: Alberto Gonçalves, Observador, 8-10-2022

“Inicialmente, segundo a imprensa espanhola (através da rádio Cadena Ser), o seu país poderia apresentar uma campanha conjunta para sediar o Euro 2028 com Portugal, ou a Copa do Mundo FIFA de 2030 junto com o seu vizinho da Península Ibérica (desmentido em tal momento pelo jornal desportivo Marca).

Contudo, um convite feito às autoridades marroquinas pelo presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, para uma campanha tripla e intercontinental, deu o mote para a inserção do país africano nesta proposta de candidatura. Sem resposta das autoridades marroquinas quanto a uma candidatura tripla, os dois países da Península Ibérica passaram planear receber juntos este torneio mundial de futebol, na edição de 2030.

A 7 de outubro, Fernando Soares Gomes da Silva, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), e Luis Rubiales, então homólogo da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), assinaram, antes do um encontro particular entre Portugal e Espanha, um acordo tendo em vista a candidatura conjunta à organização do Mundial de 2030, com final prevista para o estádio Santiago Bernabéu, em Madrid.

A 5 de outubro de 2022 foi anunciada a inclusão da Ucrânia à candidatura ibérica, em Nyon, na Suíça.”

Wikipédia

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