sexta-feira, 3 de julho de 2015

Um peso, duas medidas...

Valdemar Habitzreuter
Lamentável! Aliás, o que não é lamentável neste nosso Brasil? Tudo parece transcorrer às avessas nesta nossa re(s)pública. Aqui, quem mais pode em esperteza e subterfúgios se garante uma vida esplêndida, mesmo que isso fere os princípios da ética e jogue à margem muitos que se esforçam e labutam honesta e dignamente para ter um lugar ao sol.

O reajuste salarial para o judiciário é um acinte de desrespeito para com todos os trabalhadores deste país, achacados com pesados impostos, contribuindo para que uma minoria esperta possa usufruir de estratosféricos salários.

Os conceitos de dignidade e pessoa perderam seu sentido próprio para o judiciário, daí um peso e duas medidas! Segundo o conceito de pessoa, todos temos o mesmo peso em dignidade. Essa dignidade faz com que o ser humano seja considerado como pertencente a um reino dos fins, como nos adverte o filósofo Kant. O termo reino, para ele, significa a ligação que os homens estabelecem entre si por meio de leis comuns. Isto quer dizer que ninguém pode ser considerado como mero joguete nas mãos de outro ser humano servindo de meio para alcançar seus interesses egoístas. No entanto, não é assim que pensam os eminentes magistrados. Aplicam medidas diferentes para que a balança penda para o seu lado. Deveriam aprofundar-se na filosofia kantiana...

A lei moral, que palpita conscientemente em todos nós, é categórica: todo ser humano deve ser tratado dignamente como fim e nunca como meio. As ações humanas devem, assim, convergir para que se promova a que todos estejam inseridos numa sociedade justa e não que uns tenham mais privilégios que outros em se tratando do direito de levar uma vida digna. A dignidade humana é sagrada e é elevada à categoria do reino dos fins que pressupõe a ética e a moralidade em seu mais alto grau.

Lamentável, pois, a aprovação do reajuste absurdo do judiciário, cujo projeto de lei foi aprovado num piscar de olhos no Senado. Demonstrou-se completa falta de ética e moralidade. Enquanto o restante da sociedade sente na carne a aguda crise econômica, passando enormes dificuldades, a classe judiciária arroga-se o direito de elevar seus proventos num flagrante desprezo aos que sofrem e, ainda por cima, sabendo que são estes, através de impostos, que pagam seus polpudos salários.

Há dez anos os ex-trabalhadores da Varig e aposentados do Aerus estão sendo injustiçados porque lhes é negado o que têm a receber, e também negados os proventos da aposentadoria complementar do Aerus. Para estes, toda ofensiva de luta para que seja sanada a injustiça está sendo em vão. (Projeto de lei no Congresso nesse sentido sempre sem pauta). Para o judiciário o reajuste salarial reivindicado não é reajuste, é reposição salarial. Muita cara de pau para justificar o injustificável. E que termo usar para os ex-trabalhadores da Varig que não veem a grana que lhes foi surrupiada, há dez anos?... Está na hora de apelar-se a cortes internacionais para que o mundo veja milhares de velhinhos tratados sem dignidade...

A dignidade humana não é uma coisa banal e venal qualquer, é um tesouro sem preço, e toda pessoa tem de ser olhada nesse sentido. Recorro novamente a Kant, o filósofo da moralidade, para conceituar apropriadamente a dignidade: “quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e, portanto, não permite equivalente, então tem ela dignidade”. Parece que a dignidade dos trabalhadores brasileiros está etiquetada com preço, vale menos que nada a estes eminentes promotores de justiça deste Brasil. A eles polpudos salários, e aos outros trabalhadores, medidas severas de austeridade... Uma lástima! 
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 2-7-2015

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