Haroldo P. Barboza
Como se trabalha no Planalto!
Enquanto o trabalhador médio
perde três horas no trânsito e se esfola de dez a doze horas no local de
trabalho, deputados federais e senadores, que consomem (por baixo) quase R$ 1,2
BILHÃO dos cofres da nação, realizam um trabalho "estafante" a favor
de nossa pátria. Vamos fazer aqui uma estimativa positiva, para que não nos
acusem de injustiças para com estes graduados "defensores" da pátria.
Considerando que comparecem
(os mais assíduos) três dias por semana ao local de encontro, considerando
cinco semanas por mês (viu como estou sendo gentil?), concluímos que se reúnem quinze
dias por mês durante nove meses (temos de descontar o recesso de julho, o de
janeiro, quinze dias de Natal e quinze dias de Carnaval). Isto nos dá 15 x 9 =
135 dias (média de 6 horas/dia). Ou seja: 810 horas por ano! O trabalhador
médio (não considerando os escravos nas fazendas do interior) se esfolam 240
dias numa média de dez horas, totalizando 2 400 horas, muitas vezes tendo
apenas um ventilador e um bebedouro nas cercanias.
No ano de eleição, o trabalho
se reduz a seis meses, pois se desgastam muito nas campanhas eleitorais, quando
precisam decorar textos longos como nas novelas, prometendo pomposas
realizações fantasiosas a favor do povo (que recebem paliativos para servirem
de trampolim nas campanhas subsequentes).
Durante estes longos 135 dias
por ano, poderiam tratar de assuntos relacionados aos problemas que afligem a
população carente e desesperada. Poderiam criar simples mecanismos para
alavancar e proteger nossa agricultura, acabar com a seca do Nordeste, oferecer
oportunidades para nossos jovens adolescentes desempregados, evitar que
crianças fiquem sem escola e que trabalhem como escravas nas fazendas do
interior, evitar que idosos morram nas filas de hospitais desaparelhados,
permitir que as estradas sejam mantidas adequadamente, evitar a entrada de
drogas que corrompem nossa juventude, evitar que nosso patrimônio público seja
"leilodoado" aos abutres estrangeiros. Em suma: poderiam trabalhar
nestes 135 dias. Ou pelo menos, não atrapalhar a quem trabalha!
No entanto, passam o tempo
tomando café, praticando "piano" a céu aberto, analisando para que
partido irão se transferir, o que pedirão em troca para aprovar um projeto que
interessa a um grupo poderoso, qual será a chapa que concorrerá às próximas
eleições, que discursos vazios apresentarão nas campanhas, como violarão o
painel do senado, quem será o Presidente do Senado e da Câmara, quais afilhados
serão contemplados com cargos nas empresas estratégicas, praticam fisiologismo,
nepotismo e estudam como evitar que colegas imorais percam suas imunidades.
Enquanto isto, o povo
paspalhão que trabalha quatro vezes mais, recebe quarenta vezes menos e
sustenta a mordomia de seus legisladores, que vai se distraindo com o futebol
corrompido, com o samba elitizado, BBBB e com as novelas que trazem mensagens
de desrespeito aos valores familiares.
Título e Texto: Haroldo P. Barboza – Matemático,
Analista e Poeta - RJ, 18-8-2018
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