Comportamento de preços em 2023 depende de fatores internos e externos
Wellton Máximo
Pelo terceiro mês seguido, o Brasil deverá registrar inflação negativa. Se as expectativas dos analistas de mercado se cumprirem, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá ficar em -0,19% em setembro, conforme a última edição do boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central (BC) com instituições financeiras.
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil |
As estatísticas oficiais do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) só sairão nesta
terça-feira (11). Segundo especialistas, a política monetária antecipada do
Banco Central e as quedas dos preços de combustíveis e de energia são os principais
fatores que fazem o Brasil registrar inflação menor que a média global em 2022.
Segundo André Perfeito,
economista-chefe da Necton consultoria, o comportamento da inflação em 2022 é
uma combinação da política monetária agressiva e de efeitos externos sobre o
preço da gasolina e da energia. “Os dois fatores criaram um cenário mais
benigno para a inflação em relação ao ano passado. Existe um efeito acumulado”,
diz.
Na avaliação do economista, a
atuação do BC, que começou a subir a taxa Selic (juros básicos da economia) em
março do ano passado não pode ser desprezada. “Os juros altos evitaram que a
alta de preços se disseminasse por mais setores da economia”, comenta. “Nesse
sentido, o Banco Central brasileiro foi mais ágil e começou a elevar os juros antes
das principais economias do planeta.”
Impostos
Doutora em economia e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), Virene Matesco reconhece a importância da política monetária. Ela, no entanto, atribui a maior parte da queda da inflação nos últimos meses à redução de impostos sobre os combustíveis, aprovada pelo Congresso em junho.
“A política monetária é mais
demorada para agir sobre a economia. O aumento dos juros já está se refletindo
no encarecimento do crédito e na maior criação de empregos informais, mas o
impacto sobre a inflação leva mais tempo”, diz Matesco.
A economista atribui somente
40% da queda da inflação ao Banco Central. Os 60% restantes, ela credita à
limitação do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de
combustíveis, telecomunicações, energia elétrica e transporte coletivo e a
outras desonerações em vigor desde o início do ano.
Perspectivas
Segundo a última edição do
boletim Focus, as instituições financeiras projetavam, na semana passada,
inflação oficial de 5,74% para 2022. Em junho, a expectativa chegou a 9%. Para
2023, os analistas de mercado estimam IPCA de 5%. Os economistas ouvidos pela
reportagem, porém, consideram imprevisível o comportamento da inflação para o
próximo ano, por causa das incertezas em relação à geopolítica global e à
política de preços para os combustíveis no Brasil.
“Por um lado, a Opep
[Organização dos Países Exportadores de Petróleo] decidiu cortar a oferta. Por
outro lado, a guerra na Ucrânia pode diminuir ou se acomodar nos próximos
meses, por exaustão dos dois lados. Isso pode fazer o preço do petróleo ficar
mais comportado ao longo do próximo ano”, diz André Perfeito.
Virene Matesco também ressalta
a dificuldade de fazer previsões para o médio prazo. “Virando o ano, a economia
entra em outra dinâmica. A inflação para 2023 dependerá não só da situação
política no Brasil, mas também de fatores internacionais. Existem vários
fatores que desestabilizam os preços, como se a Opep continuará a reduzir a
produção”, adverte.
Independentemente do cenário,
os dois economistas concordam que o Banco Central continuará a ter uma atuação
importante no próximo ano. “Teremos uma situação diferente. No início de 2022,
só o Banco Central brasileiro subia os juros. Agora, ele tem a ajuda dos outros
Bancos Centrais, que também estão elevando as taxas. O combate à inflação está
mais global”, explica André Perfeito.
“O Brasil agora tem um Banco
Central autônomo. A ata mais recente do Copom [Comitê de Política Monetária]
mostrou que o BC está vigilante com a inflação e não hesitará em aumentar os
juros, se necessário. O Brasil está com 5% a 6% de juros reais [juros acima da
inflação]. A política monetária está bem encalçada”, avalia Virene Matesco.
Título e Texto: Wellton
Máximo; Edição: Aline Leal – Agência Brasil, 9-10-2022, 15h32
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