O volume político de Bolsonaro tende a
crescer cada vez mais, à medida que a ruindade do governo Lula for aparecendo
![]() |
Foto: Natanael Alves/PL |
J. R. Guzzo
Jair Bolsonaro está enfim de
volta ao Brasil e à política brasileira. A pergunta é: para quê? Durante estes
três últimos meses que passou nos Estados Unidos, sem dar maiores satisfações
sobre por que tinha ido e por que quis voltar, o ex-presidente esteve numa
situação torta. Deixou aqui, entregue à cadeia do ministro Alexandre de Moraes,
uma multidão de milhares de brasileiros que estavam acampados na frente dos
quartéis para lhe dar apoio e protestar contra o resultado das eleições que o
Tribunal Superior Eleitoral anunciou. Não disse, com clareza, se era a favor ou
contra. Não disse nada de fato relevante a respeito de nada; ficou resmungando contra
o TSE, como arquibancada de campo de futebol que vaia o juiz, mas não influi no
resultado do jogo. Continuou repetindo aquela história de “quatro linhas” que
ninguém aguenta mais ouvir e que, de resto, não tem utilidade prática nenhuma.
Deixou claro que nunca foi um líder para as Forças Armadas. Começou a aparecer
como o presidente brasileiro que teve o maior apoio da rua em todos os tempos —
mas que não soube devolver o apoio recebido, e nem transformar sua força
popular em vantagem política real. Muito bem: eis ele aí de volta, e não mais
para o papel do ex-presidente com prazo de validade vencido que a sua conduta
recente parecia ter lhe reservado. Bolsonaro, ao desembarcar em Brasília no dia
30 de março, está se apresentando como o possível comandante da direita
brasileira.
Não é pouca coisa. A direita brasileira é imensa, e obviamente não morreu com as últimas eleições — tem, pelo menos, 50% do eleitorado que foi votar em 2022, segundo números do próprio TSE. É possível que, no todo, seja majoritária. Com certeza, é a clara maioria no Brasil do progresso, da produção e do trabalho que vai do Rio Grande do Sul a Mato Grosso, incluindo os dois maiores Estados do país, São Paulo e Rio de Janeiro, mais uma parte importante de Minas Gerais. Essa gente não vai sumir, nem aderir a Lula — ao contrário, tem diante de si um governo em processo rápido de evaporação, sem resultado no presente e com promessa de calamidade no futuro. Não é capaz de somar apoio, a não ser na compra incerta de votos no Congresso. Não tem novas lideranças para o lugar de Lula — e o tempo de Lula, por razões biológicas, está a caminho da placa que anuncia os descontos. A direita é o exato contrário. Tem pelo menos dois líderes em potencial muito fortes e muito jovens, os governadores Romeu Zema, de Minas Gerais e com 58 anos, e Tarcísio de Freitas, de São Paulo e com 47 anos — um outro mundo. Tem apoio popular na praça pública — em massa, muitas vezes. E agora tem um possível líder nacional na figura de Bolsonaro. É a primeira vez que isso acontece. Durante quatro anos, ele foi um presidente; dezenas já foram. Agora vai tentar mais que isso.
O
povo, de mais a mais, ainda não está louco para sair à rua à esta altura — não
com 600 presos nos cárceres do STF na Papuda
A volta de Bolsonaro foi discreta, após um voo noturno que o deixou no aeroporto de Brasília no começo da manhã do dia 30. Nem vestígio das multidões inéditas que estiveram à sua volta no último 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios. Não era o plano; e de qualquer forma as autoridades, que hoje o tratam como uma ameaça pública, baixaram uma espécie de toque de recolher provisório e localizado em Brasília, impedindo manifestações populares em volta do aeroporto e outros lugares onde poderia haver aglomeração. Não houve desfile em carro aberto, nem passeata de motocicleta. Praça dos Três Poderes? Pelo amor de Deus — aí, então, nem pensar. O povo, de mais a mais, ainda não está louco para sair à rua à esta altura — não com 600 presos nos cárceres do STF na Papuda, muitos dos quais nem estavam no local nos ataques aos palácios dos Três Poderes do dia 8 de janeiro. O ponto central do regresso foi uma recepção na sede do PL, o partido que hoje tem a maior bancada da Câmara e do qual é o presidente de honra. Tinha político e teve discurso — não mais. Bolsonaro procurou chamar pouca atenção sobre si. Falou mais do PL, elogiou o Congresso e disse que o seu partido mais os aliados no Congresso formam a maioria. Não adiantou muita coisa sobre Lula. “O governo é uma oposição por si só”, disse — já adiantando que a principal turbina da sua nova vida política deverá ser a decadência precoce, progressiva e cada vez mais arrogante deste governo Lula-3, com seus fiascos diários e a obsessão em continuar repetindo coisas que dão comprovadamente errado, sempre.
![]() |
Foto: Natanael Alves/PL |
Bolsonaro anunciou, também,
que seu primeiro trabalho político será a eleição municipal do ano que vem, na
qual deposita boas esperanças nos nomes da direita em geral — do PL e de quem
ele apoiar. Já anunciou o ex-ministro Ricardo Salles como o seu candidato à
Prefeitura de São Paulo; é um nome forte e, sem dúvida, um bom começo para a
sua segunda vida política. No mais, teve de responder sobre “o caso das joias”,
é claro — como já teve de responder, durante os seus quatro anos de governo,
sobre a “rachadinha”, o “genocídio”, o “quem-matou-Marielle” e tanta outra
coisa que ninguém sabe mais direito o que significa isso tudo. Ficou claro que
continuará sendo uma estrela do noticiário — é como se, para os jornalistas,
seu governo não tivesse acabado e não fosse acabar nunca. Sua esperança
continua sendo exterminar Bolsonaro movendo contra ele uma denúncia perpétua —
trocam os nomes que dão aos “casos”, mas a história é sempre a de um crime que
não chega nunca aos tribunais. O resultado geral também não muda: o
ex-presidente já deveria estar morto e enterrado há muito tempo, se esse
bombardeio da mídia valesse realmente alguma coisa na vida política real, mas
não está. O semipânico que provoca na esquerda e nos signatários da “Carta Pela
Democracia” continua do mesmo tamanho.
A
direita pode até não saber ainda se vai mesmo querer que o ex-presidente seja o
seu grande chefe — mas o STF e a esquerda parecem ter certeza que sim
O futuro de Bolsonaro, de
qualquer forma, não depende dele — e nem da vontade dos quase 60 milhões de eleitores
que acabam de votar nele. Depende do Supremo Tribunal Federal, e dos demais
tribunais superiores de Brasília. São eles que conduzem o projeto mais
ambicioso e mais agressivo que está em andamento na política brasileira de hoje
— a cassação dos direitos políticos do ex-presidente, de preferência com a sua
prisão, de forma a que ele não possa mais ser candidato em eleição nenhuma.
Está aí a maior admissão pública de que Bolsonaro pode, realmente, acabar sendo
a nova liderança que a direita e seu eleitorado nunca tiveram. A direita pode
até não saber ainda se vai mesmo querer que o ex-presidente seja o seu grande
chefe — mas o STF e a esquerda parecem ter certeza que sim. Se não tivessem,
não estariam tão empenhados nas tentativas de destruir a sua carreira política.
Quem poderia fazer isso, numa democracia normal, seria o eleitorado; já acabou,
por sinal, com centenas de carreiras aqui e no resto do mundo. Mas no Brasil
não é assim que funciona. Hoje em dia não se deixam essas coisas na dependência
da vontade popular — quem resolve é o Supremo, pois só ele pode definir o que é
democracia, já que deu esse direito a si próprio, e a ninguém mais. É “a lei” —
tal como a lei tem de ser entendida no Brasil de hoje. Forças Armadas? Esqueça.
O ministro Alexandre de Moraes, sozinho, vale mais que as três Forças Armadas
juntas.
O STF não está isolado no
sonho de liquidar Bolsonaro. Lula, o PT e a esquerda também querem isso, com
paixão. Querem a mesma coisa, junto com eles, os empreiteiros de obras
públicas, os banqueiros socialistas e os advogados do Grupo Prerrogativas.
Também estão nessa, enquanto acharem que “vai dar”, todos os políticos ladrões
— mais o MST, a CUT, a UNE, a Associação Brasileira de Imprensa, o Sindicato
dos Bispos, os que controlam o “movimento” LGBT+, os homens que se sentem
mulheres presas em corpos de homem, os parasitas do Estado em geral e o resto
da manada que se conhece. Na opinião de todos, o ex-presidente é a maior ameaça
para o futuro do Brasil, e mesmo do mundo. Mas e o resultado das eleições de
2022? No fim das contas, eles não foram declarados vencedores? Por que precisam
acabar com Bolsonaro? Em vez disso, não poderiam disputar com ele, e ganhar,
mais uma eleição? Ou não acreditam que ganhariam de novo? Pelas aparências, e
pelo empenho do alto aparelho judiciário, parece que não querem correr o risco.
A questão, aí, não está na vontade de ninguém, e sim em duas observações da
vida real. A primeira é que a cassação dos direitos políticos de Bolsonaro pode
acabar se complicando; talvez não dê para fazer. A segunda é que essa cassação
poderia acabar sendo inútil; Bolsonaro estaria fora, mas a patente injustiça e
a ilegalidade grosseira de sua punição lhe dariam um papel imediato de mártir —
uma espécie de Nelson Mandela da direita, coisa que até hoje o mundo jamais
conheceu. Nesse caso, sua influência ficaria ainda maior; seja quem for, o
candidato apoiado por ele entraria na eleição com vantagem, e não vantagem nas
“pesquisas”, mas sim no mundo das realidades. Lula continuará não tendo
sossego.
O fato é que Lula não está
disposto a ir para uma segunda disputa mano a mano com Bolsonaro — não numa
eleição limpa, realizada como se faz nas democracias, em vez de se basear em
sistemas de votação e apuração só utilizados no Butão e em Bangladesh. Da boca
para fora, continua a falar e a se comportar como se fosse o maior líder
político do sistema solar — e a se exibir no papel de homem que foi eleito
pelos próprios méritos. Da boca para dentro, não está claro o que ele realmente
acha dessa história. Ache o que ache, de todo o modo, quem ganhou a eleição de
2022 para ele foi o STF, em especial os ministros Edson Fachin, Gilmar Mendes e
Alexandre de Moraes; Lula só está na presidência da República, objetivamente,
porque foi colocado lá pelos três. Acabaram, contra o que determina a lei
brasileira, com o cumprimento das penas na cadeia para os condenados em segunda
instância. Anularam todos os seus processos penais, alegando erro de endereço.
Fizeram uma eleição em que a censura do TSE proibia até que se dissesse que
Lula é um defensor explícito do ditador da Nicarágua; o juiz e os bandeirinhas
da partida jogavam no time de Lula. Organizaram a votação. Contaram os votos.
Se Bolsonaro continuar na política, Lula e o STF teriam de fazer tudo de novo.
O volume político de
Bolsonaro, na verdade, tende a crescer cada vez mais, à medida que a ruindade
do governo Lula for aparecendo — e ela vai aparecer, cada vez mais. Como
poderia ser diferente, com o ministério doente que escolheu e com a sua própria
incapacidade de dar vida inteligente a qualquer coisa em que encosta? A direita
não vai ficar analisando os méritos relativos do ex-presidente, nem o seu rol
exato de virtudes. Vai ver que Bolsonaro, mais uma vez, é o único candidato
viável para livrar o Brasil de anos seguidos de desastre petista — ele ou, se
não puder ser ele, quem ele indicar como o melhor para executar essa tarefa.
Lula não pode contar com o programa de obras do seu governo para enfrentar o
ex-presidente; seu governo não vai ter obras. Não pode tirar mais nada do Bolsa
Família. Vai ter de responder pelo desemprego, o coma econômico, as invasões de
terra, os aumentos de imposto, o preço da gasolina e mais um mundo de coisas. É
uma vantagem diária para Bolsonaro ou, então, para quem estiver no comando do
outro lado. Não parece importar muito, aí, se ele está à altura da posição de
líder nacional da direita, se é menor que o Brasil conservador e outras
questões que afligem os cientistas políticos nos debates na televisão depois do
horário nobre. Pode ser perfeitamente isso tudo. E daí? O que interessa,
unicamente, é a possibilidade de ter de novo quase 60 milhões de votos — ou a
sua capacidade, se for o caso, de transferir esses votos todos para alguém. A
volta de Bolsonaro mostra que neste momento ele existe de novo.
Título e Texto: J. R. Guzzo, Revista Oeste, nº 158, 31-3-2023
Relacionados:Revista Oeste: A mais recente ofensiva das agências de checagem está entre os destaques desta edição
O catolicismo vai continuar encolhendo
Sem barulho, mas vivo e disposto a ir à luta: a volta de Bolsonaro ao Brasil
Mito ou Voldemort? Bolsonaro está de volta!
Ministro! O nome dele é Alexandre Ramagem
Chegada de Bolsonaro a Brasília
Pacheco se junta a Lula em ataque ao Banco Central
Jornalismo de confiança
Povo nas ruas não é mais golpismo… em Israel!
Projeto maroto de Pacheco esvazia Lira e blinda o STF
Um poço de ressentimento
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-